quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Pot-pourri‏

Pot-pourri
 
Depois do banho, no espelho, descobriu que o corte dos seus lindos cabelos passou a merecer a tacha de porco-espinho. Em francês, cheveux en brosse, o negócio fica chique e volta ao normal em dois meses


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 14/08/2014



Entre os legados da Copa, há que destacar a ênfase dada ao crime de cambismo, que deve ter sido inventado pelo Estatuto do Torcedor, e ao hino a capela, da expressão italiana a capella, que teve origem no canto gregoriano, dispensando o auxílio do órgão e de qualquer outro instrumento, executado apelas pelas vozes dos monges que formavam o grupo chamado schola cantorum (copiei do Google).

Terminado o torneiro internacional, tivemos notícia de que a polícia paulista prendeu, entre outros, um cavalheiro que exercia as funções de gestor das finanças do tráfico de drogas em São Paulo. O gestor das finanças do tráfico circulava a bordo de um Porsche de R$ 400 mil e tinha vários outros veículos de luxo. Com ele, foi encontrada a contabilidade da gestão das finanças do tráfico, em que há indícios de remuneração mensal a policiais corruptos.

Claro que deve ser verdade. Se há corrupção comprovada entre engenheiros diretores da Petrobras, no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em outros Tribunais de Contas, de Justiça, ministérios, jornalismo, parlamentos, governos estaduais – só uma coisa é certa: onde há dinheiro, há corrupção.

A destacar, pensa o philosopho, o delicioso título: gestor das finanças do tráfico. De mesmo passo em que é preciso comentar o laço da gravata do ministro do Esporte, o alagoano José Aldo Rebelo Figueiredo (Viçosa, 1956), na reunião de 15 ministros com a presidente Rousseff para avaliar a Copa das Copas.

Comuna e purista, se José Aldo faz parte de um ministério e vai a uma reunião em que todos os ministros estão engravatados, penso que deve fechar o colarinho de sua camisa e ajeitar o nó sob o colarinho fechado. Colarinho aberto e nó cá embaixo desrespeitam o cargo que ocupa, os colegas, a reunião e a presidente que o nomeou para substituir outro ministro inacreditável, salvo engano (minha internet caiu) aquele Orlando comprador bolinhos de R$ 8 com o cartão de crédito corporativo (a internet continua fora do ar).

Tancredo de Almeida Neves tinha um irmão, general médico, que não perdia as tardes dos sábados e domingos no Jockey que frequentei. Sentava-se no mesmo ponto do mesmo banco da tribuna social, de terno e gravata, com a seguinte originalidade: não dava o nó na tira de pano usada em volta do pescoço, sob o colarinho, geralmente atada em nó ou laço na frente. “Geralmente” corre por minha conta, porque o general médico usava a gravata em volta do pescoço, sob o colarinho, e não dava o laço, descendo com a tira de pano sem nó ou laço.

Outro irmão seu, também são-joanense, Paulo de Almeida Neves, solteirão, meu amigo, nunca dispensou uma pérola na gravata em que sempre dava o nó, não perdia as tardes no Jockey e passou desta para a pior com as credenciais de ter sido um dos maiores namoradores da história do Brasil. A internet voltou e o Google tem diversas fotos de Paulo de Almeida Neves, nenhuma do Don Juan são-joanense.


Porco-espinho
Com a criminalização da caça, tem sido comum o aparecimento de ouriços-cacheiros no interior das casas rurais da Zona da Mata mineira. Como sabem todos aqueles que vivem consultando o Houaiss, os porcos-espinhos são roedores da família dos eretizontídeos, com cerca de 10 espécies encontradas dos EUA à Argentina e na Europa, dotados de pelos modificados em espinhos, membros curtos, dedos com grandes garras curvas e cauda, que pode ser curta e não preênsil ou longa e preênsil.

Novidade absoluta, não só nas Américas como na Europa, foi o aparecimento de um porco-espinho no espelho do banheiro de um prédio mineiro, fenômeno que merece explicação. Bigodes crescem. Na falta de mais importantes quefazeres, um amigo nosso deixou crescer os bigodes dos quais se livrara havia mais de um ano. Bigodes brancos nos conformes de sua avançada idade.

Sem saber como aparar a bigodelha, chamou o barbeiro muitos dias antes do prazo para cortar os cabelos de sua bela juba. Já que o profissional estava em domicílio, aproveitou para cortar os cabelos e as sobrancelhas, que andavam muito compridas. Depois do banho, no espelho, descobriu que o corte dos seus lindos cabelos passou a merecer a tacha de porco-espinho. Em francês, cheveux en brosse, o negócio fica chique e volta ao normal em dois meses.


O mundo é uma bola
14 de agosto de 1385: Batalha de Aljubarrota entre as tropas portuguesas comandadas por João I, obviamente de Portugal, e castelhanas sob o comando de Juan I, obviamente de Castela. A vitória de João sobre Juan garante a independência de Portugal e põe fim à crise de 1383-1385. Destacou-se na batalha o condestável Nuno Álvares Pereira, que matou espanhóis a montões e foi canonizado em abril de 2009.

Considerado o maior guerreiro português de todos os tempos, o gênio militar foi elogiado por Luís de Camões 14 vezes em Os Lusíadas: “Ditosa pátria que tal filho teve”, “Nuno fero”, “forte Nuno”, hoje Santo Condestável.


Ruminanças

“Preserve-nos Deus também dos santos. Muito frequentemente eles têm sido uma provação para a Igreja antes de se tornarem sua glória” (Georges Bernanos, 1888-1948).

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