quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Barbara Gancia comenta a racista do Grêmio e seu ‪#‎notionless‬ advogado.

Barbara Gancia 

Adorei a aula do advogado da torcedora do Grêmio, do alto do púlpito, tentando demonstrar a diferença entre racismo e injúria racial.
"Quando é racismo, eu tenho uma fábrica e digo assim: não entra negro, não entra judeu, não entra branco, por exemplo. Não foi isso que minha cliente fez".
Certo, concordo. Não fez.
Mas eu gostaria que o defensor da guria apontasse, nos moldes que ele descreveu, um exemplo de discriminação racial contra brancos em algum capítulo da história do Ocidente.
Pois é, não existe.
Talvez seja por isso que a gente utilize expressões como "racismo velado", por isso que mesmo as sociedades que colocam grande ênfase na meritocrática, concordam em indenizar negros com cotas sociais.
Alguém por acaso conhece uma cultura que tenha colocado em prática um sistema de reparação danos para brancos que tenham sido oprimidos no passado?
Eu também não.
O racismo no Brasil é tão grave quão sutil. O próprio advogado contratado para defender a torcedora não se deu conta da gafe cometida. Não se tocou de que não tem o menor cabimento jogar pretos, judeus e brancos no mesmo saco de gatos.
A falta de compreensão é tão generalizada que, até agora, tem lelé que não sacou porque o goleiro do Santos, Mário Lúcio Duarte Costa, orgulha-se do apelido Aranha, mas fica extremamente perturbado ao ser insultado de macaco.
"Ué, mas os dois não são animais, por que ele se ofende?"
Por que será, não é mesmo? O que haverá de mal em fazer pouco da inteligência e da cultura da origem de um ser, em ridicularizá-lo, intimidá-lo, diminuí-lo desde o dia em que ele nasce? Macaco. Olha só. Você vem da África. É um macaco.
Bem, viemos todos.
Aranha ele é por causa da rede do gol = rede da aranha. Aranha domina a rede = goleiro domina o gol = aranha = superherói...
Alguém se perdeu na equação? Impossível ser mais clara, né?
OK, concordo que com branco também se faz piada. Branquelo, feioso. Mas isso cria estigma em uma família, em uma geração, os branquelos tiveram de andar de cabeça baixa, foram mortos por conta da cor? Houve a Lei Áurea Branquela? Holocausto contra branquelos? Não, né? Nós não temos a quem temer, não temos traumas, ressentimentos, ninguém acha que foi o branquelo que fez na entrada ou na saída, não há mito do branquelo estuprador, branquelo não é tido como avaro, não é o branquelo que vai te passar a perna nem foi o branquelo quem matou Jesus.
Vai ver, foi a bicha escrota ou aquela sapata mal-encarada. 

E mal-comida. Com esses tipos sempre dá merda.

via 

Renato Janine Ribeiro 

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