sábado, 6 de setembro de 2014

COLUNA DO JAECI » Por uma mudança de atitude‏

COLUNA DO JAECI » Por uma mudança de atitude "Dunga tem números expressivos na Seleção. Bem ou mal, fez bom trabalho, revelando jogadores e montando um esquema de jogo. Mas a derrota para os holandeses selou sua demissão"
Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 06/09/2014


Miami – Escrevo a coluna antes de Brasil x Colômbia, do qual me ocuparei na edição de amanhã. Falo hoje do futuro da Seleção. Depois do maior vexame da história do futebol do país, seguiram-se uma comoção nacional e o sentimento de que precisamos mudar radicalmente e tomar como exemplo a Alemanha, que fez um projeto de 12 anos até ganhar a Copa de 2014. No meio do caminho, até perdeu em casa em 2006. É legal ouvir afirmações de que mudanças são fundamentais, mas, para que aconteçam, é necessário bem mais do que palavras. A começar por nós, da imprensa, e pela torcida. Processo que demanda tempo, no mínimo médio prazo, o que nem jornalistas nem torcedores admitem.

Na entrevista coletiva de Dunga, perguntei a ele a respeito. Já que o contrataram para modificar o que está errado, por que não lhe encaminharam um projeto para chegar ao título de 2022? Sabemos que há muita coisa viciada em nossa estrutura e, para que haja a mudança, será preciso tempo. Mas penso que até o próximo Mundial ele não é adequado. O técnico respondeu que, infelizmente, não dá nem no curto prazo, pois uma derrota em cada jogo causa um sentimento de mudança, e ele tem de pensar no agora, não em 2018.

Está certo. No Brasil, o que determina a permanência de um treinador no cargo são os resultados. O trabalho em si de nada vale. Pergunto-me então se não teria sido melhor a manutenção de Dunga depois da derrota para a Holanda nas quartas de final de 2010. Assim, ele poderia ter montado belo time para 2014, com força para ser campeão. Seriam oito anos de trabalho, como teve Joachim Löw. Auxiliar de Jürgen Klinsmann, ele assumiu logo após a Copa de 2006. E o que aconteceu oito anos depois? Alemanha campeã.

Dunga tem números expressivos na Seleção. Bem ou mal, fez bom trabalho, revelando jogadores e montando um esquema de jogo. Mas a derrota para os holandeses selou sua demissão. Veio Mano Menezes, que em dois anos e meio nada conseguiu, e Felipão, que tentou salvar o barco em um ano e meio. Muito pouco para conquista de tamanha grandeza. Escrevi outro dia que Dunga não foi à CBF pedir emprego, não bateu na porta de ninguém, e sim aceitou um convite. Que então se dê a ele tempo e um projeto de verdade. Quatro anos é muito pouco tempo para formar mentalidade vencedora. Claro que ele está aproveitando jogadores que participaram do fracasso, e não poderia ser diferente. Precisa no mínimo de uma base para tocar seu trabalho. No calor da emoção, todos queremos ver fora 22 dos 23 jogadores que fracassaram. Ficaríamos só com Neymar. Mas, usando a razão, não pode nem deve ser assim. Há gente boa que errou, mas pode ter uma segunda chance. Dunga e sua geração, que fracassaram em 1990, ganharam em 1994. Aprenderam com os erros e trouxeram o tetra 24 anos depois do tri.

Queremos mudanças radicais, mas não aceitamos mudar nossos conceitos. Por que não aceitarmos que nosso trabalho está atrasado em relação a Alemanha, Holanda, Argentina, França...? Todos já têm boa base e vão se ajustando para a Eurocopa, no caso dos europeus, e para a Copa América, caso dos sul-americanos. Estamos atrás até da Colômbia, adversário de ontem, que tem o argentino José Pekerman no comando há quatro anos e chegará à Rússia em 2018 com oito anos de projeto. Esse é o trabalho que deve ser feito. Pois que Dunga trabalhe com esse objetivo. Já que ele teve o melhor aproveitamento entre os últimos técnicos do time, que se aposte nele para 2022. Sou realista: ganhar em 2018 será muito difícil. Tem muita gente boa na frente da fila. Vamos mudar nossos conceitos.

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