sábado, 6 de setembro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Público-alvo‏

Público-alvo
Gosto não se discute, mas continuo sem entender como existe gente que gosta de frio
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/09/2014







Quando me assento diante do computador para escrever esta coluna penso no segmento da sociedade com determinadas características em comum (idade, sexo, profissão, interesses etc.) ao qual dirijo esta mensagem, isto é, o público-alvo de Tiro e Queda. Faço o mesmo quando escrevo outras colunas para outras publicações e penso que esta deve ser a intenção dos diretores de nossas tevês abertas e/ou pagas.

Há fatos que infelizmente existem, o que não significa dizer que devam ser exibidos. Por exemplo: lixões e catadores. Qual é a graça de filmar um lixão em cores para enfiar a imagem na casa do telespectador? O drama dos lixões pode ser comentado dispensando as imagens. Pedofilia também existe, mas pergunto: é preciso filmar, ainda que borrando o rosto, uma criança violentada? O mundo tem milhares, talvez milhões de moradores de rua, mesmo em países gélidos: não é desgraça exclusivamente brasileira. Daí a entrevistar moradores de rua embaixo de um viaduto, em São Paulo, e veicular pela televisão o que pensa o infeliz, longe de resolver o problema do entrevistado, serve apenas para estragar o dia do telespectador. O quadro é da exclusiva competência das autoridades, através de suas equipes de assistência social treinadas e remuneradas.

Diferente é a veiculação na tevê brasileira da epidemia do ebola na África, ou da malária, da dengue e das gripes por aqui. Podemos tentar defender-nos da malária, da dengue e das gripes, de mesmo passo em que devemos ficar atentos ao risco de importação do ebola. Dia desses, vi na tevê que os médicos de muitos hospitais brasileiros estão recomendando que as pessoas parem de se cumprimentar apertando as mãos.

Esta mania nacional de apertar as mãos deve ser combatida. Como prova de educação, bastam bom-dia, boa-noite, muito obrigado. O mesmo brasileiro, que sempre se esquece do bom-dia e do muito obrigado, não dispensa o shake hands. Daí para uma gripe é a coisa mais fácil.

Tetas

Depois que um jornal carioca descobriu “divinas tetas” num touro suíço exibido na Praia do Arpoador, Rio de Janeiro, as glândulas mamárias voltaram à ordem do dia, tanto assim que o mesmíssimo jornal publicou, num só domingo, duas fotos coloridas. Numa delas, vemos jovens pataxós de sutiãs no litoral baiano em que se hospedou a Seleção Alemã. Noutra, um grupo de senhoras brancas com os peitos de fora no litoral do Rio de Janeiro, em Paraty, protestando contra o machismo. Senhoras do mundo inteiro mostram os peitos quando protestam contra qualquer coisa.

O Femen, que tem como lema o sextremismo, fundado em 10 de abril de 2008 como grupo de protesto sediado em Kiev, Ucrânia, por Anna Hutsol, Oksana Shachko, Alexandra Shevchenko e Inna Shevchenko, http://femen.org, também considerado femista, exibia belas tetas, não há negá-lo. Tornou-se notório por protestar em topless contra assuntos como turismo sexual, racismo, homofobia, sexismo e outros fenômenos sociais.

Entre os quais, se destaca a mania de escrever “não há como negá-lo”, quando o português de primeira água pede “não há negá-lo”. Enquanto philosopho, rogo ao caro e preclaro leitor que me explique a relação que possa existir entre os peitos de fora e o machismo, aproveitando a oportunosa ensancha para explicar a história dos sutiãs nas mocinhas pataxós. De antemão, muitíssimo obrigado.
O mundo é uma bola

6 de setembro de 3761 a.C., primeiro dia do calendário judeu. Continuo horrorizado com a onda antissemita que reapareceu em julho no mundo inteiro, tsunami de ódio que supus aplacado depois da Segunda Guerra Mundial. No ano 394 e no dia 5 de setembro, Teodósio I derrota o usurpador Eugênio na Batalha do Rio Frígido, que fica na atual Eslovênia. Sendo Frígido, deve ser muito frio, superlativo absoluto sintético frigidíssimo. Talqualmente a manhã em que escrevo estas bem traçadas, até hoje a mais fria do ano. Lauro Diniz telefonou-me exultante às 7h para informar que, no Retiro das Pedras, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, os termômetros marcaram 4 graus, mas ele e Danielle têm lareira, enquanto o philosopho pelejava com os 9 graus de Juiz de Fora, cidade-polo da Zona da Mata. Gosto não se discute, mas continuo sem entender como existe gente que gosta de frio.

Em 1522, o basco Juan Sebastián Elcano chega a Sanlúcar de Barrameda (Cádiz) com um só navio e 18 homens depois da fazer a primeira viagem de circum-navegação, que, informa Houaiss, é viagem marítima ou aérea em redor da Terra. Elcano viajou num veleiro, coitado, séculos antes da invenção dos navios a vapor e dos aviões, numa frota liderada por Fernão de Magalhães, que morreu flechado nas Filipinas.

Em 1901, William McKinley, presidente dos Estados Unidos, leva dois tiros de Leon Czolgosz, que foi assentado numa cadeira elétrica dia 29 de outubro do mesmo ano. McKinley morreu alguns dias depois de levar os tiros. Num país grande e bobo, Czolgosz, norte-americano de origem polonesa, seria condenado a 20 anos de reclusão, cumpriria seis e voltaria ao seio da sociedade. Hoje é o Dia do Sexo. Só hoje?

Ruminanças

“É a minha conclusão que no Ocidente se pensa muito no sexo e muito pouco nas mulheres” (Lin Yutang, 1895-1976). 

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