domingo, 18 de novembro de 2012

Bruno vai a júri com dez lacunas na investigação‏


  •  

 Entre elas estão telefonemas ignorados pelo processo e depoimento sem advogado 


Julgamento começa amanhã sem nenhuma evidência do corpo de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro 

ROGÉRIO PAGNAN
 DE SÃO PAULO PAULO PEIXOTO DE BELO HORIZONTE

Um crime de homicídio sem corpo. Essa é uma das principais polêmicas do julgamento do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes que começa amanhã, em Contagem (MG). Mas não a única.


Embora todas as evidências apontem para o assassinato de Eliza Samudio, como chegou a admitir a defesa do goleiro, a polícia de Minas Gerais não conseguiu localizar vestígios do cadáver, mesmo passados mais de dois anos de seu desaparecimento.
Além dessa certeza cabal, a investigação da polícia e da Promotoria deixou buracos que podem ser explorados pela defesa e influenciar o júri.


Folha analisou mais de 5.300 documentos do processo, parte deles sigilosa, ouviu testemunhas, advogados, policiais e promotores.
São ao menos dez buracos que vão da falta da quebra do sigilo bancário para saber se houve o pagamento de R$ 30 mil na morte de Eliza, como se sustenta, ao uso do depoimento do adolescente tomado sem a presença de advogado, o que é proibido.


Uma das brechas da investigação é a participação do policial civil José Lauriano de Assis Filho, 47, o Zezé.


A investigação desprezou 37 ligações trocadas por Zezé com os principais envolvidos no caso Eliza realizadas nos dias cruciais da trama.
Em 10 de junho de 2010, por exemplo, ele recebeu três ligações do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, entre 22h e 23h, horário em que a Promotoria disse que Eliza foi morta.


Assis Filho chegou a se encontrar pessoalmente com Bola naquela noite do dia 10, como admite, mas não foi arrolado ao menos como testemunha no julgamento.


Ele não quis comentar o caso com a Folha. Nem a polícia nem a Promotoria quiseram dizer por que todas essas ligações foram desprezadas.


CONTRADIÇÃO


Outro buraco são os depoimentos de Sérgio Rosa Sales, o Camelo, usados contra o goleiro. Há uma contradição que compromete a versão. Sales disse que o desaparecimento de Eliza se deu na véspera da viagem de Bruno ao Rio.


Assim, a morte teria sido no 9 de junho, mas as provas apontam para o dia 10.


Além de Bruno, outros quatro réus serão julgados (e mais dois em data a ser definida). O goleiro, Bola e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, respondem por crimes como homicídio e ocultação de cadáver. Dayanne Souza (ex-mulher de Bruno) e Fernanda Castro (ex-namorada) foram denunciadas por sequestro e cárcere privado de Eliza.






 Defesa de Bruno muda versão e diz que Eliza está viva


Goleiro e mais quatro réus serão julgados a partir de amanhã sob a acusação de sequestrar e matar modelo


Advogado diz que ex-padrasto de Bruno ajudou Samudio a fugir para a Europa, após passar pela Bolívia 

PAULO PEIXOTO
 DE BELO HORIZONTE ROGÉRIO PAGNAN DE SÃO PAULO

Protagonista de um dos casos policiais de maior repercussão no país nos últimos anos, o goleiro Bruno começa a ser julgado amanhã com uma nova versão para o desaparecimento da modelo Eliza Samudio.


A trama de personagens marcantes -o atleta pobre elevado a ídolo, a amante grávida em busca de fama, o escudeiro fiel- entra na fase final. Mas pode se estender por até dez dias.


O advogado Rui Pimenta diz não considerar mais que a ex-amante de Bruno tenha sido morta em trama arquitetada à revelia do goleiro por Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ex-secretário pessoal dele.


Agora a defesa diz que a moça "está viva". O advogado apresentou carta de um ex-padrasto de Bruno, preso por tráfico em Governador Valadares (MG), dizendo que ajudou Eliza a ir para a Europa após passar pela Bolívia.


Pimenta diz que vai requerer a presença desse ex-padrasto no julgamento como testemunha de Bruno.


Para o promotor Henry de Castro, a afirmação é "ridícula" e uma "tentativa de estelionato contra a sociedade".


Questionado sobre a mudança de versão, o advogado de Bruno disse: "Quando assumi esse caso, o processo tinha 6.000 páginas e hoje tem mais de 10 mil. Procurei as provas [da morte] e elas não existem". Ele disse ainda ter achado que fosse um "caso de homossexualismo" por causa da tatuagem que Macarrão fez nas costas, em que chama sua amizade com Bruno de "amor verdadeiro".
Para advogados que atuam no caso, porém, a defesa de Bruno foi forçada a recuar porque não conseguiu fazer com que Macarrão assumisse a culpa sozinho. Defensores dos outros réus sempre afirmaram não haver crime.


MULHERES


Bruno conheceu Eliza em uma "orgia", conforme disse em novembro de 2010 à juíza do caso, Marixa Rodrigues. Eliza se dizia modelo e participou de um filme pornô.


As festas regadas a prostitutas e muitas mulheres eram rotina na vida de Bruno. Três dias após o desaparecimento de Eliza, ele patrocinou uma em Angra dos Reis (RJ).


Preso desde julho de 2010 na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, Bruno agora tem outra vida: trabalha na biblioteca da unidade e se dedica a leituras da Bíblia.


De alento, a TV, que divide com outros presos, e as visitas quinzenais que recebe da noiva, a dentista Ingrid Calheiros Oliveira.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário