terça-feira, 13 de novembro de 2012

CASO BRUNO » As pistas do cativeiro - Paula Sarapu‏

Imagens do processo que relata morte de Eliza mostram evidências que reforçarão tese de que a mulher e seu filho ficaram presos no sítio de Esmeraldas antes do assassinato 

Paula Sarapu
Estado de Minas: 13/11/2012 


Em meio ao embate entre defesa e acusação às vésperas de um dos júris mais esperados da história da Justiça mineira, peças do processo em que o goleiro Bruno Fernandes de Souza é acusado de ser o mandante do sequestro e morte de Eliza Samudio recontam o que, na visão da polícia e do Ministério Público, foram os momentos de cárcere que a mulher viveu no sítio do ex-capitão do Flamengo, no Condomínio Turmalina, em Esmeraldas, antes de ser executada. O Estado de Minas teve acesso às mais de 10 mil páginas que mostram imagens do trabalho dos peritos para recolher provas de que a jovem e seu filho, o bebê Bruninho, estiveram na casa por quatro dias, entre 5 e 10 de julho de 2010. O desaparecimento de Eliza foi descoberto a partir de uma denúncia anônima, um mês depois. À polícia, uma amiga carioca da vítima informou que a ex-amante do atleta tinha viajado com Bruno para Belo Horizonte, com a promessa de ganhar um apartamento.
Segundo o processo, Eliza foi sequestrada pelo braço direito de Bruno, Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Naquele dia, mostra o processo, a jovem e o amigo do goleiro se falaram 73 vezes. Um primo de Bruno, J.L.L.R., que na época era menor, os acompanhou até a mansão do jogador na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O atleta estava concentrado para um jogo do Flamengo e o grupo viajou para Minas no dia seguinte, pernoitando em um motel de Contagem, na Grande BH. A denúncia do Ministério Público afirma que Eliza e o bebê foram mantidos em cárcere privado. No sítio em Esmeraldas, outro primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales (assassinado em agosto, no que a polícia apontou como um crime passional), vigiava a modelo e lhe oferecia comida. Foi ele que participou de uma simulação com policiais e indicou aos investigadores onde viu Eliza machucada na cabeça. O ferimento teria sido provocado por J., que afirmou ter dado coronhadas na moça no trajeto entre o Rio e Minas. Reforçando a versão, a perícia encontrou sangue da jovem no banco do carro em que eles viajaram.
Já no sítio de Esmeraldas, Bruno garante que ela tinha livre acesso à casa e à piscina, mas Sérgio, em depoimento à polícia, contou que Macarrão chegou a impedi-lo de entrar em um dos cômodos onde a mulher estava. A ex-amante de Bruno teria ficado com o filho, Bruninho, em um quarto do primeiro andar, sem acesso a telefone celular. Ali, a polícia recolheu fios de cabelo longos e pretos, que poderiam ser dela. Havia também fios no banheiro social, usado pela modelo. A análise, porém, não conseguiu identificar se o cabelo era de fato da jovem. No quarto ao lado, o colchão estava manchado de sangue, mas o material não era compatível com o de Eliza. A confortável chácara, com campo de futebol e sala de troféus, era avaliada em R$ 1,5 milhão e recentemente foi vendida, em um contrato de gaveta, por menos de R$ 800 mil.
FRALDAS A perícia foi feita na noite de 13 de julho, por causa do uso do luminol, produto químico que reage com sangue e identifica amostras, inclusive em locais que já tiverem sido limpos. A área externa foi vistoriada no dia seguinte. Peritos recolheram fraldas queimadas e outras encontradas junto com lixo. Uma cisterna ao lado da casa acumulava um monte delas. Na geladeira da cozinha do espaço gourmet havia papinhas de bebê. Um pote de farinha para mingau foi encontrado sobre uma bancada do fogão, além do bico de uma mamadeira. Escondida no forno à lenha, estava uma sacola de plástico com lixo, fraldas e cotonetes.
Ainda do lado de fora da casa a perícia identificou vários pontos de lixo queimado e um patamar de concreto carbonizado. Os primos de Bruno, J. e Sérgio, em depoimento, contaram que as roupas de Eliza e do bebê tinham sido queimadas por Macarrão e pelo goleiro, depois do crime, junto com a mala vermelha da mulher. Laudo do Instituto de Criminalística sugere que as marcas do material encontrado no cimento são semelhantes às de tecido sintético queimado.

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