quinta-feira, 15 de novembro de 2012

CASO BRUNO » Quatro mulheres e um destino trágico - Arnaldo Viana‏

Desde o início do casamento com Dayane, goleiro não resistiu à tentação e teve pelo menos outras três mulheres, como Eliza, cujo desaparecimento o leva ao banco dos réus 

Arnaldo Viana

Elas gravitam em torno de Bruno Fernandes no inferno astral no qual o goleiro que serviu ao Galo, Corinthians e Flamengo se meteu: Eliza, Dayane, Fernanda e Ingrid. Uma está presumivelmente morta. Das demais, apenas uma pode confortá-lo. Quando Ingrid, Fernanda e Eliza chegaram à vida do jogador, Dayane já estava lá. Qual Bruno mais ama ou amou, não se sabe. Ele nunca falou. Mas a de quem menos gostou, não há dúvida: Eliza. Tanto que responde por sequestro, cárcere privado e morte da moça.

Dayane Rodrigues do Carmo Souza, hoje com 25 anos, conheceu Bruno antes de entrar na adolescência. Ela tinha 12 e ele 14 quando se conheceram, em Ribeirão das Neves, Grande BH. “Meu primeiro namorado”, disse ela em depoimento à polícia. Bruno ainda era um candidato a jogador profissional. Ela, aos 17, e ele, aos 19, se casaram. “Eu estava muito apaixonada. Bruno sofreu muito na infância, sem pai nem mãe, mas sem se envolver com drogas ou com criminalidade.” Um protótipo de bom marido. Ela só não aprovava o que chamou de “más companhias”. “Foi quando apareceram os amigos. Quem não era, se tornou amigo.”

Mas a oferta de mulheres no mundo do futebol é maior do que a demanda. Há louras e alouradas para todos os gostos. E, com quatro meses de casada, Dayane percebeu que o marido não estava resistindo às investidas. Ela entrou nos 19 anos como mãe. Nasceu Maria Eduarda. A filha mais nova, Bruna Vitória, veio à luz quando o casal já estava no Rio de Janeiro. Ele a serviço do Flamengo. “Bruno sumia muito. “Às vezes, se concentrava no sábado, jogava no domingo e só aparecia na segunda.” Óbvio, o casamento começava a azedar. “E me cansei dele.” E o relacionamento passou a ser do tipo tapas e beijos. Ela contou em depoimento que “apanhava e batia” ou “batia e apanhava”.

Nos idos de 2008, o goleiro engatou namoro com a dentista carioca Ingrid Calheiros Oliveira, que vai fazer 27 anos no dia 30. Dayane só ficou sabendo dessa primeira rival em abril de 2009. “Passamos a nos relacionar e ficamos noivos em 2009”, disse Ingrid. O que ela não sabia é que, quando pôs a aliança no dedo, havia outras mulheres na vida do jogador, além dela e de Dayane. Em uma das festinhas de boleiros, Bruno conheceu Eliza, uma modelo que se iniciara também na carreira de atriz com um filme pornô. Fizeram sexo uma vez e ela engravidou. “O comentário é  que todos ficaram com ela e só o Bruno vacilou”, contou Dayane.

Eliza, grávida, só pensava no futuro do filho. Passou a cobrar de Bruno a paternidade da criança, uma modesta pensão e um apartamento para morar. No meio dos dois, Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Aliás, o amigo e ajudante de ordens do goleiro esteve sempre no caminho das quatro mulheres. Eliza não sabia que estava botando a mão em casa de marimbondos. Já rolava no Rio de Janeiro o inquérito ao qual Bruno respondia por sequestro e cárcere privado de Eliza, crimes pelos quais foi condenado, quando Ingrid conheceu Fernanda Gomes de Castro, natural do Rio de Janeiro, hoje com 35 anos, mãe de dois adolescentes e sem profissão definida.

O encontro entre as duas foi na casa do goleiro, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio, não sem certo constrangimento e boa dose de mentira. Quando perguntou a Bruno quem era “aquela mulher”, o jogador respondeu que se tratava de uma namorada de Macarrão. E, quando Fernanda perguntou a Macarrão sobre Ingrid, ele respondeu que se tratava de uma ex-noiva de Bruno. O amigo e ajudante de ordens do jogador parecia não se incomodar com Fernanda, mas não caía nas graças de Ingrid. “Achava que ele se intrometia no meu relacionamento com Bruno.” Macarrão acreditava que a dentista estava “de olho no dinheiro“ do goleiro, como disse Fernanda. 

 “Lembro-me bem do dia em que conheci a Ingrid. Foi em 14 de julho de 2009, quando ganhei um notebook, presente do Dia dos Namorados”, disse Fernanda, que já conhecia Dayane e conheceu também Eliza. Que cadeia de infidelidade Bruno arrumou. Fernanda, por meio de depoimentos colhidos no processo do desaparecimento da modelo e mãe de Bruninho, era a que se comportava de forma mais romântica com relação ao goleiro. Chamava-o de “meu docinho”, segundo as amigas. Os vizinhos no Bairro Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a descreveram como uma boa moça, carinhosa, prestativa. “Uma das características dela é ser disponível a qualquer pessoa”, declarou o padre Jorge Pereira Bispo, da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Santa Cruz.

Tão boa que não recusou chamado para comparecer à casa de Bruno no Recreio dos Bandeirantes, quando Eliza foi sequestrada por Macarrão e o então menor J.L.L. A missão dela na residência do goleiro era tomar conta de Bruninho, então com três meses de vida. Quando o grupo embarcou em dois carros rumo a Minas, um deles, a Range Rover, transportando Eliza, Fernanda também veio, mas em outro carro, uma BMW, com Bruno e outro dos acusados. Fernanda foi convidada para assistir ao um jogo do Cem por Cento, time mantido por Bruno, em Neves.


“UMA LOURA TIPO MULHERÃO”

Fernanda fez sucesso em Ribeirão das Neves. “Uma loura tipo mulherão”, disseram quase todos os homens da cidade da Grande BH ouvidos no inquérito. Ela, em depoimento, não negou a presença de Eliza no sítio do jogador e até a viu na arquibancada no jogo do Cem por Cento, com Bruninho a no colo. E deixou a rapaziada de boa aberta na festa comemorativa da vitória da equipe em um boteco da cidade. Fernanda conviveu com Eliza e Dayane no sítio do jogador, em Esmeraldas, na Grande BH, até a partida da equipe para uma partida amistosa no Rio de Janeiro, em 10 de julho de 2010, data do desaparecimento da modelo, mãe de Bruninho. 

Tanto Fernanda quanto Dayane dizem não saber o destino de Eliza. As duas tentaram protegê-lo também quando disseram que não viram se a modelo estava com a cabeça machucada. Elisa levou uma coronhada de J.L.L. quando foi apanhada no Rio. Dayane até quis ajudar mais ainda o ex-marido ao deixar Bruninho aos cuidados de outras pessoas em Ribeirão da Neves, com o nome de Ryan Yure, com o propósito de escondê-lo, conforme as investigações, depois do sumiço da mãe do menino. O depoimento das duas, que também estarão no banco dos réus, pode ser favorável ou não ao goleiro, mas a única que poderá confortá-lo se for condenado é a dentista Ingrid. Ela já o visitou no presídio. Prova de amor? Ninguém sabe. 
 
STF nega recurso e mantém júri 
Paula Sarapu
 O ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa indeferiu ontem o pedido de liminar de adiamento do julgamento do goleiro Bruno e outros acusados, marcado para segunda-feira. O advogado Fernando Magalhães, que defende o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar Eliza Samudio, recorreu ao STF contra a juíza do Tribunal do Júri de Contagem, Marixa Rodrigues, alegando que não teve acesso aos vídeos com imagens das testemunhas.

A defesa de Fernanda de Castro Gomes, ex-namorada de Bruno, também havia feito esse pedido à juíza, que negou. A justificativa dela foi a de preservar o direito de imagem das testemunhas do caso. 

O advogado de Bola já havia adiantado que se o pedido fosse negado, ele fará um protesto por anulação, antes mesmo de iniciar o júri. “Há uma súmula antiga que diz que nada sobre as provas será negado aos advogados. Só quero acesso aos vídeos das testemunhas, que eu não vi. Basta ter 30 minutos para assisti-los e estou pronto para o júri. Do contrário, vou fazer protesto de anulação antes mesmo de começar os trabalhos. Caso ele seja condenado, peço outro julgamento”, afirmou. “É um grande prejuízo ao estado, um custo desnecessário, se ela (a juíza) não apresentar as imagens”.

O advogado de Bruno, Rui Pimenta, que semana passada disse que Eliza estava no Leste Europeu, afirmou ontem que um taxista levou a modelo a um hotel em São Paulo. Segundo ele, o taxista estaria disposto a depor.

O Fórum de Contagem  funcionará normalmente, apesar do julgamento. A diretoria do Fórum baixou portaria com orientações para ingresso e permanência. Partes e testemunhas de processos que tramitam nessa comarca deverão entrar pela porta principal, mediante comprovação da participação em audiências, como cópias de intimação ou citação. É necessário apresentar documento com foto. Para obter certidões, os interessados também precisam apresentar documento de identificação e justificativa. Magistrados, promotores, advogados, defensores públicos, policiais e guardas municipais devem apresentar carteira funcional para ter acesso às dependências do fórum. 

O esquema de segurança está sendo feito pela Polícia Militar e agentes institucionais. De acordo com o juiz auxiliar da Presidência do Tribunal de Justiça Nicolau Lupinhaes, a ideia é garantir que o julgamento seja  tranquila. Houve uma mudança na disposição do júri e os réus não ficarão mais de frente para o público. Por segurança e melhor acomodação, os acusados estarão posicionados de frente para a juíza Marixa. Os advogados de defesa estarão logo ao lado, também virados para o centro do salão. Entre 15 e 20 advogados poderão acompanhar o julgamento.

SEGURANÇA O juiz Nicolau Lupinhaes disse que haverá reforço na vigilância e no policiamento nas áreas interna e externa, inclusive com detectores de metais nos acessos ao Fórum. Testemunhas, jurados e réus também estarão resguardados. Segundo o magistrado, haverá uma sala específica para a espera de cada grupo. Os sete jurados, porém, deverão ficar incomunicáveis, inclusive no hotel reservado exclusivamente para eles. De acordo com o comandante da companhia da Polícia Militar responsável pelo policiamento da região, major Edimarcos Lopes, 40 policiais por dia farão a segurança do Fórum e seu entorno. Pouco antes do início do júri, cães farejadores e homens do Grupo de Ações Táticas Especiais farão varredura no plenário e nas salas específicas aos participantes.

“Não haverá televisão, telefones ou internet no hotel. Eles serão supervisionados o tempo todo por servidores públicos e não poderão conversar sobre o caso. Estamos fazendo de tudo para propiciar aos senhores jurados tranquilidade para que possam decidir a causa sem nenhuma influência. Acreditamos que o júri possa estar concluído em duas semanas”, disse o juiz Nicolau Lupinhaes.

Segundo o major Lopes, o policiamento é cinco vezes maior do que num julgamento comum. “Normalmente, varia entre 6 e 8 homens, dependendo do número de acusados e testemunhas”. Haverá restrições de acesso dentro do fórum. Do lado de fora, a parte lateral e a entrada de veículos também será controlada.

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