sábado, 24 de novembro de 2012

Há uma crise no atendimento dos planos de saúde brasileiros? NÃO


MARCIO SERÔA DE ARAUJO CORIOLANO E JOSÉ CECHIN
Há uma crise no atendimento dos planos de saúde brasileiros?
NÃO
Eventuais insuficiências são localizadas
O setor de saúde suplementar é acusado de aumentar o número de beneficiários sem ampliar a sua rede de atendimento.
Recentes reportagens tentam fazer crer que a consequência é uma suposta generalizada insuficiência de atendimento. Os segmentos que não aceitam os benefícios proporcionados pela saúde privada partem da premissa de que os prontos-socorros existentes estão superlotados e que isto sinaliza o aumento excessivo do número de beneficiários de planos.
É uma premissa equivocada.
O crescimento dos últimos anos, que ampliou o acesso de maneira formidável à população menos favorecida, resulta da melhoria dos indicadores econômicos e sociais e de investimentos feitos pelas operadoras de planos e prestadores de serviços médicos.
Não obstante o benefício do crescimento, o setor de saúde suplementar ainda é pouco compreendido. Ele é responsável por 4,7 milhões de internações ao ano e por 235 milhões de consultas ao ano, além de outros eventos assistenciais, desonerando o setor público em R$ 68 bilhões (dados de 2011).
Ano após ano, cada vez mais pessoas procuram os prontos-socorros dos hospitais privados. Em um mesmo local, é possível fazer uma consulta médica complementando-a com exames de toda natureza. Desta forma, poupa-se tempo, recurso escasso para a grande maioria das pessoas. Há um aumento da demanda, mas ele não pode ser visto de forma reducionista e limitada.
Analisar o seu desempenho a partir da visão microscópica da unidade de pronto-socorro retira a possibilidade de se enxergar o macrocosmo do sistema. Joga uma cortina sobre avanços formidáveis da medicina privada, que cada vez é menos invasiva e reduz a necessidade e o tempo de internação para diversas enfermidades.
O setor hospitalar investe cada vez mais em qualidade e tecnologia, sendo necessários menos leitos de internação. Ainda assim, o setor privado responde por 289.216 leitos, 63% de todos os leitos existentes, para atender a 25% da população.
O número de reclamações de tempo de atendimento no primeiro semestre de 2012 foi de 7.663, o que representa 0,006% do total de atendimentos realizados no período. Obviamente, a taxa global diminuta pode esconder grandes diferenças entre as operadoras.
Dados divulgados em novembro de 2011 reportavam que os principais hospitais privados do país planejavam investir nos próximos três anos quase R$ 4 bilhões. Entre 2007 e 2011, o número de leitos dos hospitais associados à Associação Nacional de Hospitais Privados passou de 5.047 para 9.071, um crescimento de 79,7%. Observe-se, por oportuno, que 94% das receitas desses hospitais provêm dos pagamentos feitos pelas operadoras de planos de saúde.
Por fim, não obstante o intenso e salutar esforço da autoridade reguladora em qualificar o sistema de saúde privada, estimulando a acreditação e a melhoria do desempenho das operadoras, ao se divulgar informações generalizadas passa-se a percepção equivocada de que o setor é homogêneo e que eventuais insuficiências localizadas por parte de uns são um problema de todos.
Quando as notícias são despejadas no atacado sem o critério e a preocupação de se olhar o cenário macro, o consumidor fica ainda menos confiante no sistema. Não acreditamos que isso seja intencional.
Diferentemente da citologia, o setor de saúde suplementar não pode ser bem compreendido com lentes microscópicas. Uma análise robusta não deve se afastar das estatísticas e dos dados disponíveis. Deve-se olhar para além da citologia sem cair na mitologia.
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