sábado, 24 de novembro de 2012

Explosão latina - Sylvia Colombo


Boom latino-americano faz 50 anos e está no centro da Feira do Livro de Guadalajara
SYLVIA COLOMBODE BUENOS AIRESUns dizem que começou em 1959, com a Revolução Cubana e seu impacto na intelectualidade e no mundo das artes. Outros, que foi muito antes, nos anos 1920 dos movimentos vanguardistas.
A verdade é que a geração conhecida hoje como a do boom latino-americano teve no ano de 1962 uma espécie de marco fundador.
Naquele ano, alguns de seus principais autores lançaram livros que se tornariam referência para gerações. Vieram à luz "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, "O Século das Luzes", de Alejo Carpentier, "A Cidade e os Cachorros", de Mario Vargas Llosa, e "A Má Hora", de Gabriel García Márquez.
Nestes, as principais características do grupo se desenvolviam de acordo com as particularidades e as nacionalidades de cada um. Era comum a influência de James Joyce, William Faulkner e Franz Kafka. Mas a tentativa era trazer a perspectiva para o universo latino-americano.
Em "A Cidade e os Cachorros", Vargas Llosa evoca o tempo em que estudou em um colégio militar, onde teve contato com as diversas realidades do Peru, ao conhecer meninos de diferentes províncias.
"A Má Hora", de García Márquez, é uma fábula política sobre um vilarejo aplacado pela violência social. "Histórias de Cronópios e de Famas" explora as diferenças sociais e culturais da Argentina.
Críticos literários consideram o boom como um ciclo que foi até 1982, quando se concede o prêmio Nobel a García Márquez. No período, o continente atravessou a desilusão com a revolução comunista, o impacto de ditaduras e a luta de resistência para, por fim, começar novamente a respirar ares democráticos.
O "boom" completa agora 50 anos. Com o fim do comunismo, seu legado foi contestado politicamente e seus protagonistas, questionados.
Do ponto de vista literário, porém, sua influência segue viva. Grupos como o Crack mexicano ou o McOndo chileno romperam com o que se banalizou conhecer como "realismo mágico" e evocaram um diálogo mais dinâmico com a tradição.
A partir de hoje e até o próximo dia 2 de dezembro, a novíssima geração da literatura latino-americana se encontra em mais uma edição da Feira do Livro de Guadalajara, no México. Além desta discussão, o evento terá o Brasil como convidado especial.

    Após 50 anos, boom latino ainda mantém influência
    Jornal elege Buendía, de "Cem Anos de Solidão", o ícone da geração de autores
    "O boom desatou a imaginação, convocou o humor e criou novas formas narrativas", diz editor espanhol
    DE BUENOS AIRESO jornal espanhol "El País" acaba de realizar uma pesquisa entre seus leitores para escolher o personagem mais significativo de toda a produção do chamado boom latino-americano, geração que chega aos 50 anos.
    Ganhou o coronel Aureliano Buendía, que lutou 32 guerras e perdeu todas, habitante mais ilustre da mítica Macondo, onde se passa "Cem Anos de Solidão", a principal obra do colombiano Gabriel García Márquez.
    Buendía derrotou, com folga, La Maga, a mulher criada pelo argentino Julio Cortázar em "O Jogo da Amarelinha", Pedro Páramo do mexicano Juan Rulfo, e Zavalita, de "Conversa na Catedral", do peruano Mario Vargas Llosa.
    "A escolha não surpreende. É o protagonista do principal romance. Meio militar, meio mágico, meio sábio, mulherengo, engajado e sonhador, elementos que o latino-americano identifica imediatamente", diz o editor espanhol Juan Cruz em entrevista àFolha.
    Cruz foi editor da Alfaguara e do suplemento literário do "El País", o "Babelia", dois dos veículos pelos quais circulou a geração do boom.
    Para ele, é um erro considerar o boom como um fenômeno apenas da língua hispânica.
    "O Brasil integrou o boom, basta ler 'Grande Sertão: Veredas' e fazer a conexão entre o que criou Guimarães Rosa em termos de linguagem e qual era a busca dos outros escritores latino-americanos", avalia.
    MERCADO
    Cruz ainda identifica uma influência do movimento na criação do mercado editorial mais profissionalizado no continente.
    Esse mercado conta com agentes identificados com certos grupos, como a mítica Carmen Balcells, editora de Vargas Llosa e do cubano
    Cabrera Infante.
    "Foi um momento que desatou a imaginação, convocou o humor e criou novas formas narrativas que foram absorvidas pela literatura universal. Esse é seu principal legado", resume Cruz.
    VARGAS LLOSA X GABO
    A principal dupla de remanescentes do boom não se fala desde 1976.
    Numa tarde de fevereiro daquele ano, num cinema da Cidade do México, Vargas Llosa aplicou um soco no até então amigo Gabriel García Márquez por considerar que o colombiano havia se insinuado para sua mulher, Patricia Llosa, com quem segue casado até hoje.
    O episódio só veio a público depois de mais de 30 anos, por conta das revelações de um diplomata. Nem Gabo nem Vargas Llosa falam um do outro em público, num acordo tácito de jamais evocar a briga. (SYLVIA COLOMBO)

      Brasil é destaque da 26ª edição da Feira de Guadalajara
      DE BUENOS AIRESA Feira do Livro de Guadalajara (FIL), maior evento literário da América Latina, começa hoje no México e nunca havia atraído escritores e editores brasileiros com regularidade.
      Nesta edição, porém, os organizadores resolveram convidar um grande grupo de autores jovens e veteranos para a seção "Destinação Brasil". Estarão presentes Rubem Fonseca, João Paulo Cuenca, Milton Hatoum e Rodrigo Lacerda, entre outros.
      A ideia é aliar a apresentação desses autores ao público mexicano a um programa de publicação de traduções bancado pelos governos de Brasil e México.
      "No ano passado, fizemos uma seção com os 25 autores jovens mais interessantes da América Latina. Não havia nenhum brasileiro e foi um grande erro que agora tentamos consertar", diz a organizadora Laura Niembro.
      Além da programação brasileira, a FIL deste ano homenageará o Chile, com a presença, entre outros, de Antonio Skármeta, Hernán Rivera Letelier e Alberto Fuguet.
      Em termos de formato, a Feira de Guadalajara mescla o que conhecemos como a Bienal do Livro e a Flip.
      Além do imenso shopping center de livros, com stands gigantescos de editoras, há uma programação artística intensa. No total, são 16 auditórios com debates, conferências e leituras simultâneos.
      A palestra de abertura deste ano ficará a cargo do norte-americano Jonathan Franzen ("Liberdade").
      A feira, porém, não escapou de uma polêmica. Concedeu seu prêmio máximo a Alfredo Bryce Echenique e pretendia homenageá-lo no evento. Houve, porém, muitas críticas de outros autores porque o peruano foi acusado de plagiar artigos.
      A pressão foi tanta que o escritor desistiu de ir, e a FIL entregou seu prêmio privadamente, na casa de Bryce Echenique, em Lima. (SC)

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