sábado, 24 de novembro de 2012

Jornalista Pedro Doria lança volume fluente sobre fundação do Rio


CRÍTICA HISTÓRIA
"1565 - Enquanto o Brasil Nascia" tem boas passagens, mas certas teses carecem de argumentação encorpada
OSCAR PILAGALLOESPECIAL PARA A FOLHA
Em "1565 - Enquanto o Brasil Nascia", Pedro Doria pega a narrativa no ponto em que Eduardo Bueno a largou e a leva até um ponto anterior ao início da história contada por Laurentino Gomes.
Bueno relata, em quatro volumes, as peripécias da colonização, até meados do século 16. Gomes aborda a vinda da Corte e a independência, em "1808" e "1822". Já Doria foca a fundação do Rio, no ano que dá título ao livro, e sua formação.
As referências aos sucessos editoriais não se justificam apenas pela ponte cronológica. Como Bueno e Gomes, Doria é um jornalista que se dedica a escrever história.
Embora a natureza dos livros seja a mesma -são todos de divulgação-, há diferenças de estilo. Enquanto Bueno prefere fragmentar parte da informação em pílulas de almanaque e Gomes opta pela reportagem de fôlego, Doria aposta na crônica.
O formato privilegia a fluência, mas talvez não seja o mais adequado para a ambição do autor. Algumas afirmações carecem de argumentação mais alentada, que a crônica não comportaria.
Por que, por exemplo, o país em que vivemos "é fruto da imaginação de quem governou Portugal entre 1530 e 1550"? E será que Martim, um dos membros da família Sá, teria sido político tão hábil quanto Marco Antônio, personagem de Shakespeare?
Não que haja erro nas extrapolações (como no lapso de datar a fundação de São Paulo em 25 de março). Mas são teses que precisariam ser mais bem demonstradas.
Feita a ressalva, o que fica da leitura de "1565" são as boas passagens. É vívida a descrição do Rio pré-descobrimento, quando o Pão de Açúcar ainda era uma ilha.
Mais adiante, é esclarecedora a explicação sobre o fluxo da maré na entrada da baía da Guanabara, que, ao dificultar a passagem das embarcações, aumentava a importância estratégica do local.
Os capítulos dedicados à França Antártica reconstituem a aventura colonizadora de Villegagnon entre 1555 e 1560, bem descrita como "um negócio particular com a bênção real".
O choque cultural, após o contato com índias que gostavam de sexo "sem culpas, religiões ou psicanálises", é apresentado com leveza: "Onde os tupis viam boas-vindas e meia dúzia de orgasmos, Villegagnon enxergou luxúria -a perdição de sua colônia ainda nos primeiros dias".
Destaca-se a análise do papel do jesuíta Manoel da Nóbrega na fundação da cidade. Testemunha da expulsão dos franceses, o padre defendeu junto à realeza a fundação de uma cidade na Guanabara.
O religioso é um elo da relação entre São Paulo e Rio, um eixo do livro que o aproxima da obra de Roberto Pompeu de Toledo, mais um jornalista historiador. Nesse aspecto, "1565" é uma versão carioca, informal e menos densa de "A Capital da Solidão".
OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas) e "A História do Brasil no Século 20" (Publifolha).
1565 - ENQUANTO O BRASIL NASCIA
AUTOR Pedro Doria
ONDE Nova Fronteira
QUANTO R$ 39,90 (280 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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