domingo, 4 de novembro de 2012

MAURICIO STYCER


Reza forte
Qualquer que seja a situação da RedeTV!, ela é preocupante do ponto de vista do espectador
Quem consulta a grade da RedeTV! nota que cerca de 11 das 24 horas de um dia normal da semana são hoje "alugados" pela emissora a diferentes grupos religiosos ou comerciais.
Além de toda a madrugada, também horários nobres são ocupados por denominações como Igreja Mundial do Poder de Deus (12h), Igreja Universal do Reino de Deus (14h), Igreja da Graça (17h) e Igreja Internacional da Graça de Deus (21h30).
Excluindo esses programas, sobre os quais a emissora não tem controle nenhum, a RedeTV! mantém alguns noticiários de qualidade, uma atração sobre celebridades (o "TV Fama") e exibe, como suas maiores estrelas, os apresentadores Amaury Jr., Gilberto Barros e Luciana Gimenez.
A emissora tem dois donos. O principal é Amilcare Dallevo, cuja mulher, Daniela Albuquerque, também é apresentadora da casa. O outro é Marcelo de Carvalho, casado com Gimenez e apresentador, ele próprio, do game show "Mega Senha".
Os problemas da RedeTV! se agravaram no final de 2011, quando se tornaram públicos atrasos em alguns pagamentos. Esse foi, ao menos, o pretexto para que toda a equipe que fazia o principal programa da casa, o "Pânico na TV", deixasse a emissora em direção à Band.
O baque na audiência e no faturamento levou Dallevo e Carvalho a reunir um grupo de jornalistas, em março de 2012, para anunciar a contratação do humorista Rafinha Bastos e a decisão de fazer no Brasil o programa "Saturday Night Live".
Irônico, Carvalho comparou o "Pânico" a "uma mulher argentina gostosa" e explicou que iria ganhar muito mais com o "SNL": "É como se tivéssemos uma mulher argentina gostosa, muito desejada. Ela foi embora. Aí vamos olhar a conta. Dá para casar com a Gisele Bündchen e ainda sobra metade do dinheiro."
Dallevo e Carvalho anunciaram demissões, o fim de programas deficitários e enxugamento de despesas. E atribuíram a crise vivida no final de 2011 a três fatores: a perda dos direitos de transmissão da Série B do Brasileiro, a perda dos direitos do UFC para Globo e dificuldades de crédito por conta da crise financeira na Europa.
De lá para cá, a impressão que se tem é que pouca coisa mudou. Com imensa expectativa, o "SNL" estreou num domingo (apesar de ter a palavra "sábado" no título), às 20h, o horário mais nobre, mas marcou menos de 1 ponto no Ibope.
Depois de repetidos insucessos, o programa foi transferido para a 0h, quando chegou a marcar 2 pontos. Rafinha Bastos já deixou a emissora, e o futuro do "SNL" está indefinido.
Há duas semanas, a emissora anunciou um novo programa matinal, "Se Liga Brasil", em substituição ao "Manhã Maior", que exibia havia alguns anos. A novidade diz muitos das dificuldades da RedeTV!.
"Estamos de programa e cenário novo, mas o patrocinador continua o mesmo. Ainda bem", disse a apresentadora Regina Volpato, na estreia. Em resumo, o "Se Liga Brasil" apenas reciclou o "Manhã Maior": uma pitada de notícias, duas doses de fofocas, uma receita culinária e entrevistas "polêmicas".
Qualquer que seja a situação da RedeTV!, ela é preocupante do ponto de vista do espectador. Com sua grade hoje muito limitada, a emissora não está conseguindo se apresentar como uma alternativa relevante no quadro da TV brasileira.
mauriciostycer@uol.com.br
@mauriciostycer

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