domingo, 4 de novembro de 2012

Vão enganar outro sim! -ALDIR BLANC


O Globo 04/11/2012

Minha paciência (eufemismo) estourou com mensagens burras de publicidade. Já andava enojado com aquela que sugere ser mais fácil pegar a mulherada (sic) com carros da marca tal.

Brasileiras, boicotem essa lata! Estão chamando vocês de quengas. A tolerância atingiu o zero com esse comercial “Sim, vamos fazer e acontecer, sim!” Aqui vão algumas sugestões para os gênios acrescentarem à campanha: Sim, os aeroportos ficarão entupidos, como aconteceu recentemente em Viracopos, sim! Sim, o trânsito vai engarrafar com engavetamentos, falta de socorro às vítimas, corrupção desenfreada e baboseiras de pseudoespecialistas, sim! Sim, os apagões continuarão em ritmo vertiginoso, sim, mas já fechamos a compra de bilhões de velas com a firma indiana Abenga Nuzmhal Nurrabindra. Sim, vão ficar lindos os estádios com iluminação sutil, bem rastaquera, como nós, sim!

Sim, as balas perdidas atingirão crianças inocentes, sim! Sim, os turistas levarão um pau firme, depois do arrastão, sim! Sim, as prostitutas menores de idade enxamearão na orla marítima, exemplos de nosso povo alegre, sem camisinha, e cantaremos até na desgraça, de acordo com o espírito vadio de verdadeiros foliões “camisinha furou, deixaram ela furar/Tô indo pro Gaffrée, onde a festa é de matar”, sim! Sim, uma atendente injetará caipirinha na veia de um torcedor em coma, sim!

Sim, as festas de abertura e encerramento contarão com popozudas, melancias, maracujás de gaveta, e outras barangas de encher as medidas, sim! Sim, o tráfico retomará a Maré, a Chatuba, o Alemão, e, como é mesmo que nos ensinaram a dizer para os gringos?, ah, and so one! Sim, Neymar provocará histeria com novíssimo corte de cabelo, sim! Sim, os árbitros Fifa errarão, com a boçalidade e má-fé habituais, sim! Sim, o zagueiro Pepe, de Portugal (se vier) aleijará um colega de profissão, sim!

Sim, ouviremos risadas do supremo tribuno Marco Aurélio “Collor” de Mello, porque ele tem inúmeros motivos para rir de nós, sim! Sim, assessoras periguetes do Planalto posarão para novas revistas masculinas, aumentando a oferta de empregos, sim! Sim, Hermano “Pancho” Menezes convocará o Imperador como titular em 2014, patrocinado pela vodca Esplenoff. Sim, torturadores impunes pleitearão o direito aos pontapés iniciais. Sim, as chacinas, de seis, nove, doze mortos diários crescerão, a ponto de correrem boatos sobre a necessidade de instaurar toque de recolher. E, sim, demitiremos professoras honestas que postam fotos de alunos com os pés na água da chuva, dentro de salas inundadas, sim!

OBRIGADO, AMIGOS!

Quero simbolizar tantas palavras carinhosas sobre a morte do labrador Batuque, numa única pessoa: Arthur Dapieve, que aturou três meses de emails, às vezes vários por dia, sempre respondendo com bom-senso e afeto. Dapieve não é só um grande escritor, e um editor que, se receber cartabranca, agitará o mercado com a qualidade dos planos que acalenta. Dapieve, mais do que tudo isso, é um ser humano raríssimo.


Aldir Blanc é compositor

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