domingo, 25 de novembro de 2012

''Policial que mata bandido não deveria ser punido'' - Mario Cesar Carvalho


Policial que mata bandido não deveria ser punido
Revelação é feita ao Datafolha por 43% dos entrevistados; 40% defendem prisão
Em meio à onda de violência, só 11% dos paulistanos dizem se sentir muito seguros ao andar à noite na capital
MARIO CESAR CARVALHODE SÃO PAULOO policial que participasse de um grupo de extermínio fora do horário de trabalho não deveria ser punido se matasse um criminoso para 43% dos paulistanos.
A revelação faz parte da pesquisa Datafolha que retrata o estado da população da capital após a onda de violência que começou em junho e se intensificou em outubro.
O percentual que defende a prisão desse policial é ligeiramente inferior em relação aos que defendem a impunidade -40%. Para 11%, ele deveria ser expulso da polícia, mas não preso.
O levantamento, feito na última quinta-feira, ouviu 1.082 paulistanos.
O medo de andar à noite nas ruas de São Paulo mais do que dobrou em cerca de três meses.
Na última quinta-feira, 61% diziam se sentir muito inseguros com caminhadas noturnas no bairro onde moram. Na pesquisa DNA Paulistano 2012, finalizada em agosto, o índice era de 26%. Em 2008, também de acordo com a pesquisa DNA, era de 20%.
Só 11% dos paulistanos afirmam se sentir muito seguros ao andar à noite. Em 2012 e 2008, esse índice era o dobro do atual (19% e 21%, respectivamente).
A zona norte de São Paulo, palco de ataques, é considerada insegura por 83% dos paulistanos -um aumento de 34 pontos percentuais em relação à pesquisa DNA 2012, concluída em agosto.
O índice é superior aos das zonas leste e sul, mais violentas do que a região norte. A leste e a sul são apontadas como inseguras por 82% e 72%.
O centro é considerado inseguro por 75%. A zona oeste, uma das áreas menos violentas da cidade, é tida como insegura por 71%.
Notícias de toques de recolher já foram ouvidas por 44% dos paulistanos. Na zona norte, esse índice chega a 54%.
A fonte da onda de violência são as facções criminosas ou bandidos, segundo 34% dos paulistanos.
Para 17%, trata-se de um acerto de contas entre criminosos e polícia. Só 5% consideram que o PCC (Primeiro Comando da Capital) dirige os ataques.
O percentual é idêntico ao dos que dizem que os homicídios decorrem de vingança de criminosos por causa da morte de membros do PCC.
Para 18%, foi o governo que motivou os ataques por desleixo ou falta de controle. Os mesmos 18% põem a culpa na falta de estrutura policial, baixos salários ou ausência de um planejamento estratégico por parte da polícia.
A corrupção policial em geral é apontada como o principal motivo dos ataques para 18% dos paulistanos.

    Onda de violência derruba aprovação de Alckmin
    29% consideram governo ótimo ou bom; em setembro, eram 40%, diz Datafolha
    Pesquisa mostra que 63% dos paulistanos acham ruim ou péssima atuação do governador na área de segurança
    DE SÃO PAULOA onda de violência que atinge São Paulo derrubou a aprovação do governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo pesquisa do Datafolha.
    O índice de paulistanos que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 40% em setembro deste ano para 29% na última quinta-feira.
    Nesse período, o percentual dos que avaliam que a gestão é ruim ou péssima subiu de 17% para 25%.
    O governo é regular para 42% -esse índice era de 40% há dois meses.
    A avaliação de Alckmin no quesito segurança é pior do que a do então governador Cláudio Lembo durante os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em maio de 2006, quando 154 pessoas morreram em oito dias.
    Para 63%, a atuação do governador na área de segurança é ruim ou péssima. Em 2006, 56% tinham essa mesma avaliação sobre Lembo. O índice de 63% é o maior desde 1997. Há 15 anos, quando Mário Covas (1930-2001) governava o Estado e os homicídios passavam por uma explosão, 57% classificaram a atuação dele na segurança como ruim ou péssima.
    O governo não informa o número de mortos em ataques durante a atual crise. Há, no entanto, alguns indicadores oficiais de que a violência está aumentando.
    Em outubro, houve um salto de 113% no número de vítimas de homicídios dolosos (praticado com a intenção de matar) quando se compara com o mesmo mês de 2011.
    A pergunta sobre a avaliação do governador foi feita em primeiro lugar na pesquisa, antes que o tema da segurança fosse introduzido, para evitar que esta questão contaminasse as respostas.
    Alckmin é responsabilizado diretamente pela crise, segundo o levantamento. Para 55% dos paulistanos, ele tem muita responsabilidade sobre os ataques -o mesmo índice atribuído ao comando da Polícia Civil.
    Só o comando da Polícia Militar, com 62%, obteve um percentual superior ao do governador quando se pergunta quem teve muita responsabilidade sobre a crise.
    A presidente Dilma Roussef (PT) é apontada por 39% como alguém que teve muita responsabilidade sobre a onda de violência.
    Praticamente 3 em cada 4 paulistanos (ou exatos 71%) dizem acreditar que o governo Alckmin está escondendo informações sobre as mortes das últimas semanas.
    Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) dizem sentir mais medo do que confiança na Polícia Militar.
    Durante os ataques do PCC, em maio de 2006, esse índice era de 56%.
    Os que dizem ter mais medo do que confiança na Polícia Civil são 46%.
    Apesar de algumas rádios e emissoras de TV nunca pronunciarem o seu nome, o PCC é conhecido por 98% dos paulistanos.

      ANÁLISE
      Desconfiança alimenta medo dos paulistanos
      Pesquisa Datafolha reflete peso da violência no imaginário do morador
      Eduardo Anizelli - 2.nov.2012/Folhapress
      Familiares de homem morto a tiros no início deste mês observam local do crime no Jd. Arpoador, zona oeste da capital
      Familiares de homem morto a tiros no início deste mês observam local do crime no Jd. Arpoador, zona oeste da capital
      MAURO PAULINODIRETOR GERAL DO DATAFOLHAALESSANDRO JANONIDIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
      QUASE TODOS OS ENTREVISTADOS REVELAM ALGUM GRAU DE TEMOR DE SEREM ATINGIDOS PELA ONDA DE VIOLÊNCIA
      A pesquisa divulgada hoje pelo Datafolha reflete o peso da violência urbana no imaginário do paulistano e também a distância existente entre o universo da gestão pública, da cobertura feita pela mídia e a realidade das ruas.
      São raros os assuntos que em pesquisas de opinião alcançam quase a totalidade de conhecimento.
      Apesar dos esforços de setores da imprensa para não propagarem a sigla, 98% dos moradores da capital já ouviram falar no PCC.
      Mesmo com a relutância do governo em admitir uma guerra velada, 96% tomaram conhecimento da onda de homicídios dos últimos dias.
      Se há algo democrático hoje em São Paulo é o medo. Quase todos os entrevistados revelam algum grau de temor de serem pessoalmente atingidos pela onda de violência. Essa tendência beira o pânico na periferia, regiões da cidade onde as chacinas são mais frequentes.
      Para se ter ideia dos efeitos imediatos dessas mortes na rotina da população, a taxa dos que se sentem muito inseguros ao andarem à noite pelas ruas de seus bairros disparou 35 pontos percentuais se comparada à do DNA Paulistano realizado até o último mês de agosto.
      Talvez porque boa parte dos moradores identifique naqueles que deveriam protegê-los uma ameaça concreta. O índice expressivo dos que enxergam a formação de grupos de extermínio por parte de policiais é equivalente ao dos que reconhecem a participação do PCC nos episódios recentes.
      São significativas também as taxas dos que dizem ter mais medo do que confiança nas forças policiais, especialmente na Polícia Militar, principal responsável pela crise, segundo os paulistanos.
      Com isso, num confronto entre polícia e bandido, apenas metade diz temer mais os bandidos.
      O vetor que catalisa o medo é a desinformação gerada pela falta de transparência.
      Para a grande maioria dos paulistanos, o governo vem escondendo dados sobre a onda de homicídios, há a impressão majoritária de que boa parte das vítimas era inocente e a imparcialidade da imprensa no tratamento dos episódios divide opiniões.
      Os dados mostram um cenário preocupante do ponto de vista da opinião pública e historicamente familiar.
      Grupos de extermínio, sonegação de dados, facções criminosas, imagem de parcialidade da mídia, disseminação do medo.
      A gestão da segurança pública mantém raízes na repressão, é um tabu da redemocratização.
      Fora dos períodos eleitorais, não há representação política reconhecida na periferia que dê voz aos que se encontram na linha de fogo. Não é surpresa que "a sigla" ameace ocupar esse espaço.

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