domingo, 25 de novembro de 2012

Um seriado no divã - Ana Clara Brant‏

Sessão de terapia conquista o público e vai ganhar nova temporada no ano que vem. Série adaptada de original israelense é vista com ressalvas por profissionais da área 

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 25/11/2012 

O ator Zécarlos Machado, que interpreta o terapeuta Theo, e o diretor Selton Mello: temas adultos tratados com sensibilidade
Um elenco afiado, um tema envolvente e inédito na TV, uma direção primorosa e, sobretudo, uma dramaturgia extremamente rica. Essa junção de ingredientes fez com que a série Sessão de terapia, que vai ao ar diariamente no canal pago GNT, se tornasse um dos programas em cartaz de maior repercussão. O sucesso de crítica e de público da atração – que é a versão brasileira da série israelense Be Tipul, de Hagai Levi – deve garantir nova edição em 2013. O último episódio da primeira temporada será exibido na sexta-feira.

Ambientado em um consultório de terapia, o seriado, com direção de Selton Mello, marcou a estreia do canal em uma grande produção de ficção. Sessão de terapia acompanha o tratamento de cinco pacientes do doutor Theo Ceccato (Zécarlos Machado). Cada dia da semana é pontuado pelos dilemas, dores e alegrias dos personagens vividos por Maria Fernanda Cândido (Júlia), Sérgio Guizé (Breno), Bianca Müller (Nina), André Frateschi (João), Mariana Lima (Ana), e, na sexta, é dia de o próprio Theo trocar de lugar para a sessão com sua analista, Dora, papel de Selma Egrei, junto com a esposa, Clarice, vivida por Maria Luísa Mendonça.

Quem teve a ideia de trazer a novidade para o Brasil foi o produtor Roberto d’Ávila, da Moonshot Pictures. A versão brasileira é uma “adaptação cultural” do original israelense. Roberto conta que os conflitos centrais foram mantidos, até porque, segundo ele, são temas universais, contemporâneos e urbanos, mas uma ou outra caraterística tiveram que ser alteradas. 

“O Breno, por exemplo, que lá fora é um piloto de guerra e solta bomba nos palestinos, aqui virou um atirador de elite, porque nossa guerra é interna. Mas a arte psicológica, que é o essencial, a gente manteve. No caso dele, tem a questão da culpa e da relação com o pai, que é bem complicada. O mais fantástico dessa série é que todos aqueles conflitos existem em qualquer lugar. Quem não conhece ou se identifica com uma menina que tem um relacionamento complexo com o pai ou um casal em crise? Além do mais, é algo inédito na televisão. De certa forma, acho que gente presta um serviço e uma homenagem aos terapeutas”, observa o produtor. 

“O valor central da série é a verdade. Você tem que acreditar naquelas histórias. Sessão de terapia praticamente não tem externas, fica centrado no diálogo terapeuta/paciente. Um dos grandes méritos dessa série, sem dúvida, é o texto”, opina o produtor.

Fissuras da alma E foi esse um dos principais motivadores para que o ator Zécarlos Machado se aventurasse no projeto. Assim que se deparou com o “nobre e rico material” não teve dúvidas. “Quando você pega um texto bom, uma dramaturgia interessante, isso cativa você. Quando fiz o teste, percebi que aquilo mexia com camadas que me interessam. Você lida com a fragilidade humana, as pequenas fissuras da alma, e tudo foi feito com muito cuidado e uma delicadeza impressionante”, ressalta o ator, que vive o terapeuta.

A humanização de seu personagem também chamou atenção de Zécarlos, que, assim como o restante do elenco, contou com a consultoria de um psicólogo. No entanto, o ator revela que construiu Theo a partir de sua percepção e intuição. “Nunca fiz terapia, mas sou casado com uma terapeuta. Não quis assistir a nenhuma das outras versões para poder criar o meu personagem de acordo com as minhas vivências. Além do mais, o roteiro (de Jaqueline Vargas, também responsável pela adaptação) já chega com uma sensibilidade e uma linguagem que facilitam o trabalho”, afirma.

Zécarlos Machado conta que alguns espectadores que o encontram nas ruas brincam querendo marcar uma sessão e está impressionado com a repercussão do programa nas mais variadas classes sociais, idades e profissões. “Recebo manifestações de todo tipo de gente. Tenho muito orgulho de tudo isso e tomara que vingue a próxima temporada. As pessoas já estão chamando a minha linha de trabalho de ‘theorapia’”, diverte-se.

Nem tudo é verdade 
Ana Clara Brant
E como os profissionais do meio estão encarando Sessão de terapia? O ator Zécarlos Machado diz que a esposa (que é terapeuta) aprova o programa e que conhece grupos de psicanalistas que têm debatido a obra. “Pelo que me chegou em e-mails ou comentários, os profissionais da área têm gostado. Ficaram entusiasmados com o andamento e a maneira como a série está sendo abordada. Mas é claro que todo mundo tem noção de que aquilo é ficção e que não seguimos uma linha terapêutica específica”, analisa o ator.

O psicanalista, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor-adjunto do Departamento de Psicologia da UFMG Guilherme Massara revela que, inicialmente, achou os pacientes de Sessão de terapia mais interessantes do que o terapeuta e que a tônica geral do seriado é distante da realidade do trabalho de sua classe. “Como psicanalista, não compartilho com o que é retratado ali. Do meu ponto de vida, o programa não tem nada a ver com psicanálise. É como se fosse uma colagem de métodos, algo meio híbrido. E isso pode gerar até uma falsa impressão do que realmente é um tratamento com psicólogo ou psicanalista, principalmente para o público leigo”, pondera.

Guilherme acredita que a visão do terapeuta seja, na TV ou no cinema, ainda meio caricatural. Ele entende que a dramaturgia tem que se voltar para questões como a audiência e, por isso, há a valorização dos dramas individuais e do próprio terapeuta. “Cria-se uma convicção de que terapia é aquilo ali. Há um interesse, uma maneira de apresentar a realidade para um público maior, e isso acaba criando certa ideologia”, frisa. 

Já Maria Teresa Vieira Castro, especialista em psicodrama e no enfoque sistêmico, considera positivo levar para a TV assunto ao qual o grande público não tem acesso, mas em sua experiência de 26 anos de consultório acha que Sessão de terapia se presta mais ao entretenimento do que à realidade terapêutica. 

Teresa percebe uma agressividade verbal muito grande por parte dos pacientes. Ela afirma que o ambiente a que está acostumada é de mais respeito e harmonia. “Não vejo isso nos meus pacientes nem com os colegas com os quais converso. O programa tem um clima noir, meio escuro, pesado. E as pessoas não podem tomar aquele terapeuta como padrão. Mas acho válido abordar o tema. Desperta interesse e curiosidade, principalmente entre os leigos, tanto que tem muita gente comentando”, diz.


Sessão de Terapia
De segunda a sexta-feira, às 22h30, no GNT, TV paga. Resumo dos episódios da semana aos sábados, das 22h 
à meia-noite, e aos domingos, das 18h50 às 20h30. 

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