sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Debate sobre filmes no exterior aquece Mostra de Tiradentes

FOLHA DE SÃO PAULO

Internacionalização de produções brasileiras é cada vez maior, mas temática pouco universal dificulta inserção
Críticos e curadores de festivais estrangeiros participam da 16ª edição do festival na cidade mineira
MATHEUS MAGENTAENVIADO ESPECIAL A TIRADENTES (MG)"Parem de fazer filmes para si próprios e comecem a pensar no público." A declaração de Raymond Walravens, diretor e olheiro de dois festivais na Holanda, esquentou um debate na 16ª Mostra de Tiradentes sobre a internacionalização do cinema brasileiro.
Nos últimos dez anos, o número de títulos brasileiros em festivais estrangeiros como o de Cannes e o de Berlim teve um crescente aumento, apesar de gargalos apontados por olheiros estrangeiros durante o debate na última terça.
"O filme 'O Som ao Redor', de Kleber Mendonça Filho, ultrapassa essa brasilidade. Numa sessão no exterior, percebi que o mal-estar de que o filme trata é universal", afirmou Sandro Fiorin, produtor e distribuidor de filmes latino-americanos no exterior.
Para o crítico e cineasta
Jean-Claude Bernardet, é um reducionismo criticar a produção nacional como se ela fosse uniforme.
"Há bons filmes comerciais e de autor. O problema reside na produção intermediária, que se afasta do público porque já se pagou em editais e resulta em filmes insossos, feitos com cuidado, que não são ruins, mas também não são motivadores."
Além da crítica de Walravens sobre um predomínio da temática autocentrada e pouco universal na produção brasileira, olheiros citaram também a falta de profissionais que negociem os filmes no exterior e brincaram com a dificuldade de saber com quem lidar entre os diversos órgãos brasileiros ligados ao cinema.
Para Anne Delseth, programadora da Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, um dos obstáculos não está na qualidade estética ou na temática dos filmes, mas na falta de produtores capazes de lidar com mercados e festivais estrangeiros.
"O cinema é uma indústria. É uma ingenuidade fazer um filme e achar que simplesmente as pessoas vão assisti-lo porque é bom. É preciso mais profissionalização do produtor brasileiro", diz Delseth.
Segundo ela, é fundamental saber quem é quem no mercado cinematográfico para que se possa negociar os filmes de acordo com a especificidade de cada comprador ou programador de festival.
PROGRAMA DE APOIO
A partir do Festival de Berlim deste ano, o programa Cinema do Brasil dará apoio a agentes de venda cujos filmes tenham sido selecionados por festivais internacionais.
O Cinema do Brasil dará US$ 40 mil (R$ 81,3 mil) a agentes selecionados para a promoção dos filmes (cópias, divulgação etc.).
Uma das portas de entrada do mercado exterior em que mais se investe atualmente é a coprodução de filmes com outros países -o número saltou de dez para 20 entre 2010 e 2011.
Segundo a Ancine (Agência Nacional do Cinema), há acordos em vigor com 20 países (como Argentina, Portugal e Alemanha) e mais três devem ser assinados em 2013.
A Ancine anunciou nesta semana que irá trazer ao país curadores de 12 festivais internacionais para exibir filmes brasileiros e promover o contato com realizadores e produtores locais.

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