domingo, 6 de janeiro de 2013

O mapa da cultura - Diário de Moscou

FOLHA DE SÃO PAULO

DIÁRIO DE MOSCOU
O mapa da cultura
Paquiderme psicodélico
Os elefantes brancos da sétima arte russa
MARINA DARMAROSAleksandr Sokurov já não esperava por esta: seu "Fausto" (2011) acaba de receber o "Elefante Branco 2012". Não, ele não herdou um aeroporto abandonado ou um submarino nuclear de segunda mão. O "Elefante Branco" é um dos principais prêmios cinematográficos do país, organizado pela Associação de Especialistas e Críticos de Cinema da Rússia e tem subsídio do Ministério da Cultura.
E, apesar de o filme de Sokurov ter saído em 2011 -e ter arrebatado o Leão de Ouro no Festival de Veneza daquele ano-, seu lançamento russo, atrasado para o ano passado, permitiu que o diretor vencesse na categoria de melhor filme russo no Elefante de 2012.
Além disso, Sokurov levou o prêmio de melhor diretor, o dramaturgo Iúri Arabov o de melhor roteirista e Anton Adassínski, que interpreta Mefistófeles no filme, o de melhor papel masculino.
Com um inusitado jogo de palavras usando o radical "slon" ("elefante", em russo), "prislonitsya" ("apoiar-se") e "slova" ("palavra"), e rememorando a habilidade ímpar dos elefantes para escutar, ver, lembrar e cheirar, a associação explica de maneira psicodélica em seu site a origem do título da premiação.
COM TINTA VERMELHA
Na categoria "Acontecimento do Ano", quem levou o Elefante Branco 2012 foi o filme "Za Marksa" (em tradução livre, "Por Marx", trailer disponível em bit.ly/pormarx), da diretora Svetlana Baskova. Tratando do conflito entre os "novos capitalistas" e a classe trabalhadora russa de mentalidade soviética, o roteiro mostra uma crise econômica que leva donos de fábricas a tentarem resolver seus problemas às custas dos trabalhadores.
A ficção segue-se a outra produção "vermelha" da diretora, o documentário de 2011 "A Solução é a Oposição", em que ela filmou comícios trabalhistas país afora.
SENTIMENTAIS
A mentalidade soviética também aflorou na reação à mostra Fim da Diversão, dos irmãos britânicos Jake e Dinos Chapman, inaugurada em 20/10 no Museu Hermitage, em São Petersburgo.
A obra homônima, uma colagem tridimensional de minipersonagens de plástico colados em vidro -que, olhados por trás, formam uma suástica-, teria "ferido os sentimentos religiosos" dos visitantes, que enviaram mais de uma centena de reclamações à promotoria de São Petersburgo só na primeira quinzena da exibição.
Para provar o contrário, o diretor do museu, Mikhail Piotróvski, decidiu encomendar uma pesquisa de opinião pública sobre o evento. "Depois da publicação [da polêmica] na imprensa, pessoas de gerações mais velhas começaram a visitar a exposição. Mas muitas, como se viu, vieram para apoiar o Hermitage. São importantes sobretudo as críticas positivas que recebemos das pessoas, de veteranos, que associam a exibição com a Grande Guerra Patriótica [2ª Guerra Mundial]. Gente que nasceu em São Petersburgo e sobreviveu ao cerco entendeu a ideia de brutalidade transposta pelos artistas à atualidade", declarou Piotróvski.
A organização "Narôdni Sobor" ("Catedral do Povo"), uma espécie de Tradição, Família e Propriedade russa e inimiga número um de Piotróvski, lançou um comunicado em seu site em nome da "Catedral da Intelligentsia Ortodoxa" exigindo "o fechamento imediato da exposição e posterior impedimento de exposições do gênero nos museus da Rússia".
DEPARDIEU E RASPUTIN
Não teve boa repercussão a oferta de cidadania russa que o presidente Vladimir Putin fez a Gérard Depardieu, na última quinta-feira (3). O ator francês goza de enorme fama no país -sua cara gorducha pode ser vista todos os dias nas "sessões da tarde" russas.
Caiu mal a ideia de que Depardieu escolhesse o país para se refugiar dos altos impostos franceses. "É preciso fazê-lo viver aqui na Rússia pelo menos um ano sem sair do país. Acho que depois disso ele vai concordar até com 75% de imposto só para voltar para a pátria", escreveu um comentarista no site Gazeta.Ru.
O porta-voz de Putin, Dmítri Peskov, explicou à agência de notícias Interfax que a oferta foi feita pela contribuição de Depardieu à cultura e ao cinema russo. "Depardieu atuou em uma série de projetos de cinema muito grandes, entre eles, fazendo o famoso papel de Rasputin", declarou Peskov.
Enquanto o destino do ator se decide, ele já recebeu um convite para morar na Rússia. O anfitrião é o ditador da Tchetchênia, Ramzan Kadírov, que propôs via Twitter que Depardieu viva na capital tchetchena, Grózni.

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