sábado, 16 de fevereiro de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Crise de insegurança
A onda de ataques promovidos por criminosos em Santa Catarina já chegou a uma centena de ocorrências em 30 municípios. Diante da grave crise, o governador Raimundo Colombo (PSD) aceitou a oferta do Ministério da Justiça de enviar tropas da Força Nacional de Segurança Pública para auxiliar no combate à violência.
O entendimento entre governos estadual e federal lembra o que se verificou em São Paulo no final do ano passado, quando foi criada uma enigmática "agência integrada de inteligência" para interromper a escalada de assassinatos de policiais militares.
Por úteis que possam ser, os préstimos do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mostram-se, em ambos os casos, aquém do necessário. Mais que uma ajuda tópica em momentos críticos, o governo federal deve ao país, há décadas, uma efetiva política nacional de segurança.
O fato de as polícias militares e civis estarem sujeitas à jurisdição estadual serve para obscurecer as responsabilidades federais. Quando os índices de criminalidade caem, o benefício é compartilhado; quando surgem crises, como os ataques recentes em Santa Catarina e São Paulo, os governos estaduais aparecem como culpados, enquanto a União se apresenta como instância externa, diligente e solidária.
Já é hora de o governo federal parar com o jogo de cena e assumir seus deveres. É urgente formular e implementar uma estratégia de combate à criminalidade adequada aos tempos atuais.
A expansão e a diversificação do crime organizado exigem investimento em tecnologia e ação conjunta de Estados e órgãos federais. É preciso fomentar a colaboração entre as polícias e organizar um sistema nacional de inteligência.
É indispensável, ainda, contar com presídios modernos e interromper, de uma vez por todas, a leniência de agentes públicos que propiciam o acesso dos detentos a celulares, drogas e armas. A Justiça não pode permitir o acúmulo de presos sem condenação ou que já deveriam ter sido soltos.
Embora alguns passos nesse sentido tenham sido dados nos últimos anos, ainda há muito a fazer. A segurança tem de ser tratada como prioridade nacional.
Os índices de violência no país, apesar de êxitos localizados, são alarmantes. E é patente a insatisfação dos cidadãos com os serviços públicos nessa área vital.


    EDITORIAIS
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    Novo, mas nem tanto
    Desafio para reunião de hoje da Rede Pró-Partido está em mostrar que agremiação não se apoiará só no patrimônio eleitoral de Marina Silva
    Após conseguir perto de 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, sem eximir-se de alguma identidade ideológica, a ex-senadora Marina Silva -que escreve uma coluna semanal para esta Folha- detém capital político suficiente para se aventurar na construção de um novo partido.
    Mais que isso, haveria algo de incompleto no espectro partidário brasileiro sem uma legenda capaz de representar as ideias e organizações que seu nome mobiliza.
    Em tese, o lugar estaria reservado ao PV (Partido Verde), que, entretanto, terminou como legenda de aluguel de luxo na campanha de 2010. Logo se deu o choque entre líderes da sigla e o poder pessoal da candidata que acolheram.
    Depois de muitos anos filiada ao PT, dessa passagem meteórica pelo PV e de alguma aproximação com o PPS, Marina Silva lança agora uma nova agremiação, provisoriamente chamada de Rede Pró-Partido (o nome será definido hoje, num encontro em Brasília).
    Pelo benefício de um mínimo de estabilidade e clareza para o eleitor, é de esperar que a ex-senadora finalmente encontre uma plataforma sólida para suas aspirações.
    A agremiação já surge com suas ambiguidades e contradições. Seria, em tese, o ponto de encontro dos que defendem uma visão mais contemporânea do desenvolvimento, atenta para a necessidade de que ele seja sustentável e para a assimilação de comunidades autônomas, hoje marginalizadas, no processo de criação de riqueza.
    Ou seja, algo bastante diferente do modelo varguista que, grosso modo, persiste no presente governo federal: grandes obras de infraestrutura, algumas problemáticas do ponto de vista ambiental, aliadas ao paternalismo redistributivo para com populações mais pobres.
    A "modernidade", ou "pós-modernidade", de Marina Silva contrasta, todavia, com outras circunstâncias. Em primeiro lugar, seu partido não deixa de surgir como instrumento de uma liderança pessoal, mais do que pela confluência de movimentos descentralizados e capazes de emitir luz própria.
    Tanto é assim que já se notam dificuldades na atração de outros nomes representativos, como Eduardo Suplicy ou Heloísa Helena, para o partido "de" Marina. A preposição até agora faz sentido: a ex-senadora, mesmo em razão de seus inegáveis méritos, surge como espécie de "dona" da agremiação.
    Diferentemente do PSD "de" Gilberto Kassab, que obteve sucesso instantâneo em arregimentar parlamentares disponíveis a um projeto confessamente sem ideologia, a sigla de Marina há de nascer pequena, sob a égide de um nome reconhecidamente forte nas urnas.
    Não é a melhor receita para um partido político, mas é uma força nova, que certamente enriquece o debate e amplia o leque das escolhas sérias à disposição do eleitor.

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