sábado, 16 de fevereiro de 2013

» Fogo no céu, pânico na terra-Rodrigo Craveiro e Roberta Machado


CIÊNCIA » Fogo no céu, pânico na terra-Rodrigo Craveiro e Roberta Machado‏


Meteoro cruza o céu da Rússia e explode sobre a cidade de Chelyabinsk, deixando quase mil feridos. O incidente é o maior do tipo registrado desde 1908 

Rodrigo Craveiro e Roberta Machado
Estado de Minas: 16/02/2013 

A primeira impressão que o engenheiro russo Novikov Constantin, 42 anos, teve foi a de que uma explosão nuclear tinha acabado de acontecer. “Havia algo no céu que se iluminava cada vez mais. O brilho era várias vezes mais intenso do que o do Sol. Cerca de 2 minutos e 30 segundos depois, escutei a explosão”, contou ao Estado de Minas, por meio da internet. Por volta das 9h20 (1h20 em Brasília) de ontem, um meteoro de cerca de 10t rompeu a atmosfera terrestre a uma velocidade de 54 mil quilômetros por hora e se despedaçou a 30km do solo. Fragmentos rasgaram o céu, sobre a cidade de Chelyabinsk, nos Montes Urais, 1.500km a leste de Moscou. Além de levar pânico à população, a onda de choque estilhaçou vidraças de janelas e acionou alarmes de carros. De acordo com Mikhail Yurevich, o governador da região, pelo menos 985 pessoas ficaram feridas, incluindo 200 crianças — 43 moradores foram hospitalizados. 
“Eu estava na parte antiga da cidade, muitas casas tiveram os vidros partidos. Quem observava o céu próximo às janelas foi atingido”, disse Novikov, que trabalha na Universidade do Estado do Ural do Sul. “Não foi apenas uma explosão. A sensação foi de um soco poderoso, seguido por uma alta pressão. Pensei que se tratava de uma guerra atômica”, acrescentou. 
Até o fechamento desta edição, as autoridades russas não confirmavam se o meteoro tinha alguma ligação com o asteroide 2012 DA 14, que passou ontem a 27 mil quilômetros da Terra (leia nesta página). Mas Paul Chodas, astrônomo do Laboratório de Jatopropulsão da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos), afirmou à reportagem que não há relação entre os dois fenômenos. “Foi uma coincidência terem acontecido no mesmo dia”, disse.
Segundo o governador Yurevich, o maior pedaço do objeto caiu em um lago congelado a apenas 1km de Chebarkul — a 70km a sudoeste de Chelyabinsk —, abrindo uma cratera de 6m de profundidade. “Às 9h20, foi observado um objeto que voava em grande velocidade e deixava um rastro. Dois minutos depois, foram ouvidas duas explosões”, afirmou Yuri Burenko, funcionário do Escritório Regional de Situações de Emergência, citado pela agência France-Presse. O presidente russo, Vladimir Putin, prometeu ajuda imediata à região e mobilizou 2 mil socorristas. Por sua vez, o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, declarou que a queda do meteoro demonstra que “não apenas a economia é vulnerável, mas também o planeta”. 
Vdovichenko Maksin, residente no Hospital nº 3 de Chelyabinsk, acordou por volta de 9h20 com o barulho de uma explosão. “O som era tão alto como o de uma bomba. Após 10 segundos, houve outro estouro, não tão poderoso quanto o primeiro. Depois, foram mais sete explosões. Imaginei que fosse um atentado terrorista, mas aí vi uma imensa e comprida nuvem branca no céu”, relatou ao EM. Ao sair de casa, Maksin conversou com vizinhos e percebeu que ninguém sabia o que tinha acontecido. “Uns pensavam ser um avião, outros, um meteoro. Mas tinha gente que dizia ter sido um foguete.” De licença médica, ele soube que cerca de 100 feridos receberam tratamento no hospital em que trabalha. 
De acordo com Paul Chodas, da Nasa, o incidente com o meteoro foi o maior já registrado desde uma explosão semelhante acontecida em 1908, em Tunguska. O objeto que atingiu os Montes Urais ontem era minúsculo, diz o especialista: media cerca de 15m de diâmetro. “Impactos dessa magnitude são raros e ocorrem uma vez a cada século, em média.” O especialista explica que os ferimentos causados pela bola de fogo foram mais extensos do que o esperado porque ela atingiu a atmosfera diretamente sobre a cidade de Chelyabinsk. “O asteroide se rompeu durante a entrada na atmosfera e apenas uma chuva de rochas e de pedregulhos alcançou o solo”, acrescentou. 

Origem desconhecida De acordo com especialistas, a explosão do meteoro foi causada pelo atrito com o ar. Dos objetos que chegam a entrar na atmosfera, poucos têm tamanho e solidez o suficiente para atravessarem, intactos, a camada de gases. “Muitos chegam à Terra em alta velocidade e explodem no solo, formando uma cratera. Esse explodiu antes de tocar o chão”, explica Daniela Lazzaro, astrônoma do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. “Ele se tornou incandescente por causa do atrito com o ar, virando uma bola de fogo. A pressão foi tão alta que ele explodiu ainda no ar”, descreve. 
“É bastante compreensível que (sua queda) não tenha sido prevista. Como são objetos de baixa luminosidade, é necessário o uso de um equipamento especial muito potente para rastreá-los”, justifica José Leonardo Ferreira, professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB). Além de pequenos, os meteoros têm a tendência de despistar os pesquisadores, ao mudarem de órbita, depois de interagirem com outros corpos no espaço.
Sem informações muito precisas sobre a rocha que explodiu sobre a Rússia, os pesquisadores ainda dependem de especulações para explicar o fenômeno de ontem. “A possibilidade de que seria um satélite antigo não é descartada, mesmo sendo improvável. Depende da estrutura do objeto e da velocidade com que ele caiu. É necessário estudar as imagens e ver se é possível recuperar algum fragmento para tentar estudar de onde isso veio”, especula Daniela. De acordo com a Nasa, a Terra é alvo diariamente de mais de 100t de rochas e de poeira espacial.

Asteroide faz 
aproximação 
recorde


Os céus estavam agitados ontem, com mais visitas — algumas inconvenientes — do que o comum. O meteoro que causou estragos e deixou feridos na Rússia chegou sem avisar, mas outro objeto espacial já era esperado havia cerca de um ano. O asteroide 2012 DA14 passou ontem à próximo à Terra, em uma região que fica entre os satélites de GPS e de comunicação. A proximidade entre o corpo celeste de 45m de diâmetro e o planeta chegou a 27 mil quilômetros, 10 vezes mais perto que a Lua.
Os pesquisadores da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) estimam que o momento de maior aproximação entre o DA14 e a Terra foi às 17h25 (horário de Brasília), quando pôde ser visto no céu da Indonésia. Nesse momento, ele bateu um recorde, sendo o maior objeto a chegar tão perto do planeta desde que os corpos de grande dimensão que vagueiam pelo espaço passaram a ter a trajetória monitorada. Ele também foi visível no leste da Europa e na Ásia, mas somente com a ajuda de telescópios.
Desde quarta-feira, astrônomos já conseguiam registrar o asteroide que se aproximava. As imagens mostravam um pequeno ponto branco que poderia ser confundido com as estrelas mais distantes caso não estivesse se movendo em alta velocidade. Estima-se que um corpo dessa dimensão só se aproxime do planeta a cada 40 anos.

Previsões A Nasa já tem a trajetória do asteroide calculada há meses e garante que ele não representa perigo para a Terra. “Esse objeto tem um período de um ano, e tem estado por perto há algum tempo. Essa é a aproximação mais próxima que já houve, e não temos previsões para nenhuma distância menor para mais de 100 anos”, afirma Donald Yeomans, cientista do Programa de Objetos Próximos à Terra (NEO). A agência vai monitorar o asteroide a partir de hoje por meio do radar do sistema solar Goldstone, instalado no Deserto Mojave, na Califórnia.
Como as fotos falham em representar o objeto com precisão, os técnicos americanos esperam que o radar construa uma imagem mais fiel com base nos dados recolhidos, além de estimar o material e a origem da rocha. Por enquanto, não há informações concretas sobre o histórico do asteroide. “Existe o Cinturão de Asteroides na região entre Marte e Júpiter, e às vezes acontecem colisões entre objetos lá. Eles podem entrar em rotas que os transportam para próximo da Terra. Há muitos objetos nas nossas proximidades”, especula a astrônoma Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional do Rio de Janeiro.(RM)

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