domingo, 17 de março de 2013

Carisma alça a 'candidatura' de Michelle - Luciana Coelho

folha de são paulo

Primeira-dama dos EUA vive momento de popularidade que provoca especulações sobre possível carreira política
Apesar de talento para o palanque, porém, mulher de Barack Obama é descrita como avessa ao jogo eleitoral
LUCIANA COELHODE WASHINGTON
Virou vídeo viral on-line: o humorista Jimmy Fallon pede à primeira-dama Michelle Obama, sua entrevistada em um talk-show noturno há três semanas, que concorra à Casa Branca na chapa da ex-secretária de Estado e ex-primeira-dama Hillary Clinton.
"Seria o time dos sonhos para 2016", diz Fallon.
Michelle desconversa, respondendo que está de olho no mesmo emprego que Fallon cobiça (apresentar o talk-show de Jay Leno quando ele se aposentar, em 2014).
A brincadeira, porém, inspirou um enxame de artigos opinativos mais sérios na imprensa americana, embalados nas recentes aparições televisivas notórias da primeira-dama, sendo a principal delas no Oscar: e se Michelle for a nova Hillary? E se ela disputasse o Senado? E se ela tiver ambição política maior?
"Eu não acredito que ela algum dia dispute uma eleição. Comeria meu livro se ela concorresse", disse à Folha Jodi Kantor, uma repórter do "New York Times" que tem sido a jornalista a acompanhar mais de perto o casal Obama na Casa Branca.
O trabalho rendeu o livro "The Obamas" (2012, sem tradução no Brasil), no qual Michelle é descrita como alguém avessa à política, mas a quem os amigos viam como mais talhada para o palanque do que o marido, Barack.
"As pessoas acham que ela poderia ir longe", diz Kantor. "O interessante de Michelle é que ela não gosta, mas é muito boa fazendo política, como aquele aluno que evita cursar uma determinada matéria e, quando faz, só tira 10."
Em dezembro, uma pesquisa feita pelo instituto PPP, ligado ao Partido Democrata, indicou que a primeira-dama venceria o republicano Mark Kirk na disputa por uma das cadeiras de Illinois no Senado por 51% a 40%, se a eleição de 2016 fosse agora.
DINASTIAS
A comparação com Hillary não é à toa: ambas são advogadas formadas em instituições de peso (Hillary em Yale, Michelle em Harvard), mantiveram carreiras ativas e assumiram papéis mais proeminentes do que, por exemplo, a ex-primeira-dama Laura Bush, mulher do republicano George W. Bush.
Além disso, quando Barack Obama deixar a Casa Branca, em 2017, ele terá 55 anos, e Michelle, 53. Supor um projeto conjunto de poder soa natural em um país que nos últimos 24 anos se acostumou a dinastias políticas (a ponto de Jeb Bush, irmão e filho de ex-presidentes, acenar com a possibilidade de disputar a Casa Branca em 2016).
Mas Kantor adverte que enquanto Hillary, que se elegeu senadora por Nova York e tentou a candidatura à Presidência antes de ser secretária de Estado, é uma "nerd política" que queria o poder, Michelle resigna a seus dotes retóricos outro papel.
Um papel-chave no governo do marido, aliás: atrair a simpatia do público em tempos de popularidade baixa.
Há duas semanas, o índice de aprovação de Obama caiu a 47% segundo o Gallup -o pior nível desde que iniciou o segundo mandato, em janeiro, abalado pelo impasse fiscal com o Congresso que fez a economia patinar.
Já a popularidade de Michelle, como costuma ocorrer com as primeiras-damas, oscila acima dos 65%.
Por ora, Michelle tem sido firme em evitar os tropeços da antecessora em seus anos de Casa Branca e se mantém distante de assuntos que evoquem polêmica (Hillary defendia o plano do marido para reformar a saúde com mais veemência do que ele, e a atitude lhe custou simpatias).
A campanha que escolheu para chamar de sua, e que serve de mote para a maioria de suas aparições televisivas, é de combate à obesidade infantil, promovendo a alimentação saudável e exercícios.
"Ela atrai atenção positiva para o governo em um momento muito negativo [para o governo]", ressalta Kantor.
"Enquanto a Casa Branca estava presa na batalha orçamentária, ela conseguia passar uma mensagem otimista, evocando glamour no Oscar, humor ao participar de um esquete no programa do Jimmy Fallon e calor humano em eventos contra a obesidade", diz Kantor.
"Isso faz a Casa Branca parecer mais calorosa, preocupada [com a população], pró-ativa. Assim, Michelle Obama também confronta o que acontece em Washington

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