sábado, 9 de março de 2013

Programa traz tradutores estrangeiros para o Brasil

folha de são paulo

Apaixonados pelo país, alemã e argentino fizeram cursos e pesquisas no Rio
Projeto de tradução de livros brasileiros da Biblioteca Nacional vai promover a vinda de outros 13 especialistas
MARCO RODRIGO ALMEIDADE SÃO PAULOEles descobriram a literatura brasileira pelos maiorais. O argentino Cristian de Napoli leu Machado de Assis aos 20 anos. Wanda Jakob, alemã, começou por outro gigante, Guimarães Rosa e seu "Grande Sertão: Veredas".
Ambos não passaram incólumes pela experiência. São hoje dois dos principais conhecedores de literatura brasileira no exterior.
De Napoli, 40, e Jakob, 36, estiveram no Rio entre janeiro e fevereiro. Foram os dois primeiros selecionados do programa de residência de tradutores estrangeiros a chegarem ao Brasil.
O projeto da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) trará ao país, até agosto, 15 especialistas para verter obras brasileiras para seis idiomas: espanhol, francês, italiano, grego, alemão e inglês.
Além de pesquisas para as traduções, frequentarão cursos sobre história e cultura brasileiras. Cada um recebe até R$ 11 mil para despesas.
De Napoli está traduzindo "A Vida como Ela É", de Nelson Rodrigues. Jakob, "A Guerra dos Bastardos", romance de 2007 escrito por Ana Paula Maia.
De Napoli conhece bem o Brasil -veio 19 vezes ao país. Já traduziu mais de 20 livros brasileiros. Adora Oswald de Andrade, Clarice Lispector, Manuel Bandeira e, claro, Nelson Rodrigues.
No ano passado, ele lançou na Argentina, pela editora Adriana Hidalgo, o primeiro volume de sua tradução dos contos de "A Vida como Ela É". O novo volume, pela mesma editora e também com 50 histórias, deve ser publicado por lá em agosto.
"Nelson é extraordinário em vários aspectos: na concisão da escrita, das frases, no realismo dos argumentos, na habilidade para ouvir e capturar tudo o que acontecia ao redor", explica.
Ele aproveitou o período no Rio para sanar sua principal dificuldade no trabalho: compreender as gírias cariocas dos anos 1950 e as referências a acontecimentos públicos do período.
CONTEMPORÂNEOS
Jakob descobriu os livros brasileiros por meio de cursos na Universidade de Munique nos anos 1990. Depois de Guimarães Rosa passou a outros clássicos nacionais, como Carlos Drummond de Andrade, mas o foco das pesquisas da tradutora tem sido a literatura contemporânea brasileira.
Em sua primeira vinda ao Brasil, em 2011, ficou encantada com "A Guerra dos Bastardos". Com tom de história noir, retrata o submundo de uma grande cidade habitado por traficantes, boxeadores e profissionais do cinema pornô.
Além de trocas regulares de e-mail, Jakob e Ana Paula Maia, autora do livro, tiveram no Rio dois longos encontros para discutir a obra.
A tradutora tinha dificuldade para compreender, por exemplo, expressões como "bater ou correr" ou o que é exatamente a sacada de uma casa. A temporada brasileira também foi importante para mergulhar na alma carioca.
"As estadias no exterior não são obrigatórias para tradutores, mas certamente ajudam. Pude observar a fala dos cariocas, as cadências, como e quando eles aplicam ironia, agressividade ou doçura. Isso não se encontra nos dicionários", comenta.
"A Guerra dos Bastardos" deve sair na Alemanha em agosto, pela editora A1 Verlag.

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