segunda-feira, 22 de abril de 2013

Os imprescindíveis - João Carlos Martins [tendências/debates]

folha de são paulo

Na história mais recente, o nosso cenário não pode abrir mão de pessoas responsáveis por aquilo que considero o milagre musical brasileiro
Villa-Lobos escreveu: "Não é um povo inculto que vai julgar as artes, mas sim as artes é que mostram a cultura de um povo".
Embora seja um aficionado de todas as manifestações artísticas, vou me restringir, neste breve comentário, à música, especificamente.
São vários os ícones que mantiveram acesa a chama da música clássica em nosso país.
Villa-Lobos, por exemplo, conseguiu trazer o canto orfeônico para todas as escolas do Brasil.
Nos anos 1950, H.J. Koellreutter, por meio de sua Escola Livre de música e de seus cursos de férias em Teresópolis, conseguiu realizar uma verdadeira revolução no cenário musical brasileiro.
Eleazar de Carvalho, da mesma forma, com a Orquestra Sinfônica Brasileira --hoje novamente em alto nível sob a regência de Roberto Minczuk--, construiu um Brasil orquestral na sua época. Ou Arrobas Martins, com a criação do Festival de Campos do Jordão, que deu origem a dezenas de festivais --como o Femusc, em Santa Catarina, sob a direção de Alex Klein.
Nos anos 1960, tivemos a democratização da música clássica através da ação de Diogo Pacheco e Júlio Medaglia.
Sociedades como a Cultura Artística, a ProArte, a Dell'Arte e o Mozarteum atravessaram todas as crises possíveis e imagináveis de nossa moeda para manter o contato musical com outras partes do globo.
Citei alguns exemplos por considerar essas pessoas ou organizações responsáveis pela trajetória da música clássica no país. Na história mais recente, o nosso cenário não pode abrir mão de pessoas responsáveis por aquilo que considero o milagre musical brasileiro.
Realizações como a Orquestra Sinfônica Heliópolis, em São Paulo, Neogiba, na Bahia, e Virtuosi, em Pernambuco, só têm continuidade em razão daqueles a quem chamo de imprescindíveis.
A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, nossa Osesp --antes sob a direção de John Neschling e hoje sob a administração de Arthur Nestrovski-- tem no seu renascimento a ação determinante de uma pessoa responsável por aquilo que acabo de chamar de milagre musical brasileiro.
Não fora Marcos Mendonça, com o apoio do governador Mário Covas, certamente não teríamos hoje uma Sala São Paulo, uma nova Pinacoteca, uma Osesp e outras múltiplas ações que fizeram de São Paulo uma referência cultural da América Latina para o resto do mundo.
Não posso deixar de falar sobre sua excelente gestão à frente da Fundação Padre Anchieta entre 2004 e 2007, durante a qual muitas inovações foram implantadas. Destaco a criação da TV Rá Tim Bum, com programação de primeiríssima qualidade para o público infantil, bem como a ousadia na gestão da Rádio Cultura, que conquistou parcela significativa de novos ouvintes.
Como músico, não consigo entender, como um homem de sua estatura, com obra de tal grandeza realizada, tenha ficado alijado do nosso cenário cultural por tanto tempo. Esta é a razão pela qual acredito que sua possível volta à Fundação Padre Anchieta pode significar um marco histórico, principalmente pela bagagem que adquiriu nestes anos, desde sua ação como vereador, na cultura e nas artes do país.
Infelizmente, não tenho poder de decisão --mas tenho direito de ficar na torcida.

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