quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo

Crédito de coraçõezinhos
RIO DE JANEIRO - Presidentes da República têm esse problema. Tudo que dizem é público. Veja a presidente Dilma. Uma inocente sugestão ao chefe de cozinha do Planalto, de que gostaria de um suflê de chuchu desidratado para o jantar, pode vazar e dar a entender que temos em Brasília uma flora intestinal com problemas -quando, na verdade, a presidente quer apenas descansar das bombas que é obrigada a ingerir todo dia em suas viagens pelas províncias.
Imagine então suas declarações sobre economia. Dependendo de como são interpretadas, podem levar o país para um lado ou para o outro. Foi o que aconteceu outro dia, na reunião dos Brics, na África do Sul. Dilma disse algo sobre inflação e taxa de crescimento do Brasil que alvoroçou indevidamente o mercado de juros. Pronto, mais um aborrecimento -culpa, claro, da imprensa.
E posso calcular sua decepção ao ver uma de suas melhores frases recentes -a de que, se alguém culpasse os raios pelos apagões, devíamos dar gargalhadas- ser desmentida pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o qual concluiu que o apagão de dezembro, que deixou 12 Estados no escuro, foi causado por... raios. E agora, vamos rir de quê?
Presidentes são assim mesmo, contundentes quando não devem ou peremptórios sobre o que não entendem. Faz parte do emprego. Donde não é justo que exijamos deles uma infalibilidade que, hoje, já não se espera nem do papa. Pelo mesmo motivo, em termos jornalísticos, talvez nem tudo que dizem -já que não é para valer- deveria render manchete ou primeira página.
Em compensação, raro o dia em que não se vê, em jornal ou TV, Dilma fazendo para plateias o famoso gesto do coraçãozinho com as mãos. É reconfortante. Uma governante tão pródiga em coraçõezinhos merece um crédito, não sei se de confiança, mas de carinho.

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