terça-feira, 21 de maio de 2013

Agência de notícias dedicada à Aids comemora dez anos com exposição

folha de são paulo

MARIANA LENHARO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há dez anos, a jornalista Roseli Tardelli, 52, fundou a primeira agência de notícias dedicada exclusivamente à Aids no Brasil. Mas sua história com a doença havia começado dez anos antes.
Em 1993, seu irmão mais novo, o tradutor Sérgio Tardelli, começou a sentir os primeiros sintomas da Aids, doença da qual morreria em 1994.
Zé Carlos Barreta/Folhapress
Roseli Tardelli, jornalista e fundadora da Agência Aids
Roseli Tardelli, jornalista e fundadora da Agência Aids
Em comemoração aos dez anos da Agência de Notícias da Aids, Tardelli inaugura nesta segunda-feira (20) uma exposição na Câmara Municipal de São Paulo. A ideia é relembrar dez boas notícias publicadas sobre a doença na última década.
Em 2006, por exemplo, a novidade era a aprovação do primeiro medicamento "três em um" contra Aids. Em 2011, a Unaids anunciava que o número de novas infecções havia estabilizado no mundo. Em março passado, a notícia sobre a cura de um bebê americano despertava boas perspectivas para o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento.
Hoje, a agência tem em média 200 mil acessos mensais e continua fornecendo informações para o público leigo, para profissionais da saúde e para a imprensa.
"A Agência Aids é refém de uma causa, não de um governo, de uma ONG, de uma empresa ou de qualquer tipo de interesse", diz Roseli Tardelli que, em dezembro, lançará um livro sobre sua história e a história da agência pela editora Senac.
Depois de ficar uma semana na Câmara Municipal, a exposição segue para o Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073), onde permanecerá por mais uma semana. Leia, abaixo, o depoimento da jornalista.
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"Meu irmão teve HIV e morreu em 1994. Nossa família brigou com convênio médico e conseguiu que eles pagassem seu tratamento. Foi a primeira família que, publicamente, questionou a atuação de um convênio médico. Costumo dizer que foi um grande mico que valeu, porque pôde ajudar mais gente a fazer o mesmo.
Ele morreu em uma situação bastante delicada com 30 quilos, sem enxergar e sem andar. O coquetel só chegaria em 1996. Ele só tomou o AZT [azidotimidina], não tinha nada para fazer.
Era meu único irmão, dois anos mais novo do que eu. Foi aquela coisa degradante da aids, ele foi definhando. Hoje as pessoas que vivem com o vírus têm uma chance que na época, no início da década de 1990, não tínhamos.
Quando a gente vivencia uma doença muito forte, a gente muda os parâmetros. Foram quatro anos para eu me reestruturar e fazer alguma coisa. Em 1998, eu fiz o 'I Fórum Aids, Imprensa e Cidadania'. Aí eu vi que tinha que fazer uma ação mais cotidiana com Aids. Em 2003, consegui alguns apoios e fundei a "Agência de Notícias da Aids".
Somos um 'ponto com', não uma ONG. Temos patrocínios, apoios e os jornalistas são remunerados. Trabalhamos profissionalmente a informação de HIV, por isso conseguimos nos manter até hoje. A gente ocupou um espaço que não existia na mídia brasileira e na mídia internacional. Cobrimos 11 conferências internacionais.
Hoje, temos uma experiência exitosa também em Moçambique, onde fundamos a 'Agência de Notícias de Resposta ao Sida'. Os frutos desse trabalho também estão sendo reconhecidos. Temos conversas com profissionais da Angola e provavelmente levaremos a experiência para lá também. Tenho 52 anos e pretendo viver mais uns 40.
Gostaria de deixar uma agência fundada em cada país de língua portuguesa da África. Seria uma contribuição bastante positiva. Na experiência em Moçambique, vemos que é possível organizar as informações, ajudar o ativismo a se tornar mais consistente e profissional e ajudar o governo na construção de uma reforma."

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