terça-feira, 21 de maio de 2013

Debates com autores portugueses buscam fortalecer união com Brasil

folha de são paulo

Programa Vozes da Literatura Portuguesa reúne hoje seis escritores em encontros em São Paulo
Apesar de avanços, artistas e editores dizem que intercâmbio literário entre os dois países ainda é pequeno
MARCO RODRIGO ALMEIDADE SÃO PAULOBem mais do que o oceano Atlântico separa a literatura brasileira da portuguesa.
Apesar da língua em comum, e de avanços significativos na última década, o intercâmbio editorial entre os dois países ainda é incipiente. Autores fundamentais de um são às vezes desconhecidos pelo outro. As vendas são quase sempre inexpressivas.
Com a esperança de mitigar essa defasagem, seis escritores portugueses atravessaram o oceano para tentar, se não descobrir o Brasil, pelo menos torná-lo mais próximo de Portugal.
Eles apresentam hoje em São Paulo o projeto Vozes da Literatura Portuguesa. Lídia Jorge, Patrícia Reis e Rui Zink fazem debate às 16h na Biblioteca Mário de Andrade. Depois, às 20h, Gastão Cruz e José Luís Peixoto conversam no Sesc Consolação.
A mediação será feita pela também escritora Inês Pedrosa, diretora da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, que promove o programa. Na quinta, eles estarão em Porto Alegre e, no sábado e no domingo, no Rio.
Os seis autores representam diferentes vertentes da literatura portuguesa contemporânea. Todos já foram publicados no Brasil, mas não são muito badalados por aqui.
Pedrosa, autora de "Fazes-me Falta" (ed. Alfaguara), diz que o desconhecimento mútuo da literatura produzida nos dois países era enorme.
Ela avalia que a situação começou a mudar no começo dos anos 2000, com o fortalecimento das editoras, a proliferação das feiras literárias e as possibilidades abertas pelo mercado on-line.
Ainda assim, aponta lacunas graves. "Jorge de Sena e Vergílio Ferreira quase não são lidos no Brasil. E só agora a obra completa de Clarice Lispector está sendo lançada em Portugal", conta.
Pedrosa diz que, dentre os escritores brasileiros vivos, destacam-se em Portugal, entre outros, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Fonseca e Luis Fernando Verissimo.
No Brasil, fora medalhões como o Nobel José Saramago e António Lobo Antunes, chamaram atenção nos últimos anos autores lusófonos publicados graças a incentivos do governo português --Gonçalo M. Tavares e José Eduardo Agualusa, por exemplo.
A brasileira Escrituras Editora criou há nove anos a coleção Ponte Velha, dedicada a autores portugueses contemporâneos. Com apoio da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas, ligada à Secretaria de Estado da Cultura portuguesa, já publicou 52 livros.
Com a crise econômica de Portugal, o financiamento caiu de 70% para 40% dos custos da coleção. "Os livros têm bom resultado de crítica e divulgação, mas as vendas são fracas. Não chegam a esgotar a edição de 600 exemplares", diz Raimundo Gadelha, diretor da Escrituras.
"Publicar português é fácil, difícil é divulgar, distribuir. Não adianta trocar figurinhas se não podemos colocá-las no álbum", completa.
Em 2012, a Fundação Biblioteca Nacional lançou um edital para incentivar a publicação de brasileiros em outros países de língua portuguesa. Apenas editoras de Portugal inscreveram-se. Dez bolsas foram concedidas.
A editora portuguesa Relógio D'Água publicou cinco livros pelo programa: dois de Dalton Trevisan e três infantojuvenis de Clarice Lispector.
"O programa é importante. Sem ele, não teríamos podido editar os títulos de Trevisan, que não são muito vendáveis", diz o editor Francisco Vale.

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