terça-feira, 21 de maio de 2013

Tereza Cruvinel - Os ventos de maio‏

A boataria sobre o fim do Bolsa-Família foi um jabuti com jeito, cor e cheiro eleitoral, prenúncio de luta política renhida. Para conter o fogo, a PF precisa descobrir de onde ele veio 


Estado de Minas: 21/05/2013 


Chegamos ao fim de maio com o vento soprando na mesma direção, a de uma disputa precoce e acirrada em 2014, trazendo uma importante definição e algumas oscilações. A primeira, no campo da oposição. O PSDB logrou rara unidade em sua convenção e fincou a candidatura de Aécio Neves. Na seara governista, os últimos e imprecisos sinais emitidos pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), alimentaram especulações (e desejos) sobre um recuo em sua candidatura. Para o povo, sobrou a boataria bizarra do fim de semana sobre o fim do Bolsa-Família. Um jabuti que tem jeito, cor e cheiro eleitoral, prenunciando luta renhida.

Vejamos, até onde a vista alcança, cada um desses movimentos.

As três metas de Aécio
 

Começam a ser veiculadas hoje as inserções das propaganda partidária semestral do PSDB, que terminam com o programa de 20 minutos no dia 30. Aécio é o protagonista dessa janela televisiva que o ajudará a tornar-se mais conhecido. As peças buscam atender a insistente recomendação do ex-presidente Fernando Henrique para que o PSDB busque o diálogo direto com a população.

Agora, Aécio vai se concentrar em três tarefas. A primeira, fortalecer a comunicação tucana por todos os meios e mídias, e através das viagens que ele fará pelo Brasil, para encontros diretos com a sociedade. Algo como as caravanas de Lula, embora evitem a palavra.

Na superestrutura política, ele vai acelerar os contatos com outros partidos com vistas à futura coligação, começando por DEM, o PPS e o PMN, que formarão a nova MD. A terceira tarefa será a elaboração do programa de governo, montando uma equipe que não se restringirá aos economistas do Plano Real, com os quais já dialoga.

De fato, a executiva montada por Aécio é mais orgânica e representa todo o mosaico tucano, inclusive o serrismo. Indo à convenção, Serra indicou que fica no partido, mas seu discurso ainda foi um tanto ambivalente. Por exemplo, ao dizer e repetir que se empenhará pela “unidade das oposições”, sem se referir claramente à candidatura de Aécio.

A esfinge nordestina

O ex-deputado Fernando Lyra, recentemente falecido, afora a argúcia política, era dotado de fino humor. Difundia no Congresso apelidos “populares” dos políticos pernambucanos que ele mesmo teria criado. Miguel Arraes, o avô de Eduardo Campos, era “a esfinge do sertão”. Lacônico, fumando seu charuto, era indecifrável. O neto é mais falante, mas também esfíngico. Depois de ter assustado e irritado o PT com sua saliência eleitoral, refluiu nas últimas semanas, reduzindo a exposição e baixando o tom das críticas ao governo federal. A amabilidade com que ele e a presidente Dilma Rousseff se trataram ontem no Recife reforçou em alguns a percepção de que ele estaria recuando.

 A inflexão, vinda de alguém tão reservado, pode traduzir apenas uma freada de arrumação, que, segundo interlocutores que torcem pela candidatura, ele teria resolvido fazer agora para preservar a imagem, o governo do estado e o partido. Lá adiante, retomaria a velocidade anterior.

A quem interessa?

Nos dia atuais, com internet e redes sociais, a propagação de um boato é como a do fogo em nossos gramados durante a seca: basta um palito de fósforo. Quem deu início ao boato sobre o fim do Bolsa-Família tinha algum objetivo, que suscita diferentes leituras. Alguns dirão que a corrida mostrou a importância do programa, outros que revelou a extensão da dependência criada pelo governo. Outros, ainda, que a pobreza continua grande, apesar do bumbo governista sobre sua redução. Mas brincar com a miséria alheia é mesmo criminoso e cruel, como disse a presidente. Precipitou-se a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ao apontar o dedo para a oposição, desculpando-se a seguir. Para conter o fogo político em torno do assunto, a Polícia Federal precisa esclarecer o caso. Algo já se sabe: as consultas ao Google sobre Bolsa-Família começaram a pipocar anormalmente no sábado, a partir dos estados do Nordeste.

Data vênia

Com todas as vênias ao ministro Joaquim Barbosa, o Congresso legisla, sim. É verdade que as medidas provisórias do Executivo conturbam a pauta, mas elas estão na Constituição. Ainda agora, diversos projetos relevantes, de iniciativa do Legislativo, foram aprovados ou entraram em pauta. Exemplos: a emenda das domésticas (Benedita da Silva) e seu complemento; o projeto do senador e hoje ministro Marcelo Crivela, impedindo a demissão na gravidez; a lei antidrogas de Osmar Terra; a lei sobre emancipações municipais; o projeto sobre a taxa de serviços para os garçons e o da divisão dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE), para atender o Supremo, entre outros tantos. 

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