terça-feira, 21 de maio de 2013

Charge e Editoriais FolhaSP

folha de são paulo


Ajustes na Virada
Criada em 2005, a Virada Cultural conquistou São Paulo e já se tornou referência para outras cidades. A cada ano, o evento transforma a capital paulista em palco de espetáculos variados, que se sucedem, sem interrupções, durante 24 horas do fim de semana.
Mais voltada para o centro da cidade, a edição deste ano --primeira da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT)-- teve cerca de 900 atrações em mais de 120 locais. Os espetáculos foram bem-sucedidos e a população compareceu em peso, mas houve um incremento nos casos de violência --que precisa ser revertido, sob risco de abalar a reputação da festa.
Além de arrastões e assaltos, quatro pessoas foram atingidas por disparos de armas de fogo (uma delas morreu). Outras seis foram feridas a golpes de faca.
A nota inusitada foi o furto sofrido pelo senador petista Eduardo Suplicy, que conseguiu ao menos recuperar os documentos, depois de subir ao palco em que se apresentava a cantora Daniela Mercury, anunciar o fato e pedir devolução.
Embora o registro de morte violenta não seja inédito na história da Virada, e as ocorrências tenham se verificado num universo de 4 milhões de espectadores (segundo a exultante estimativa oficial), é imperioso reagir. A prefeitura e o governo do Estado devem respostas à população. Trata-se de um evento marcado com enorme antecedência, que pode ser mais bem planejado.
Embora ostensiva em alguns pontos, a atuação da Polícia Militar deixou a desejar. No percurso entre os palcos, por exemplo, era visível a falta de policiamento.
Frequentadores e jornalistas constataram atitude passiva de alguns PMs, o que deu margem a especulações sobre uma "operação padrão", em suposta represália a mudanças determinadas pela administração municipal na Operação Delegada (convênio com o governo estadual que dá remuneração extra a PMs que prestam serviços à prefeitura), mudanças essas que teriam desagradado setores da corporação policial.
Do lado da programação é possível fazer ajustes para reduzir riscos. Os espetáculos da alta madrugada, por exemplo, com o público em condições mais vulneráveis, poderiam ser redistribuídos para facilitar a ação da polícia. É preciso, ainda, aperfeiçoar a iluminação dos logradouros --um problema, aliás, que não diz respeito apenas ao evento.
Providências como essas ajudariam a reduzir a violência e a manter a Virada como a festa democrática que a cidade adotou.

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    DNA tucano
    Aécio Neves, a um passo da candidatura pelo PSDB, revive ideário liberal sem renunciar à disputa do espaço social-democrata com o PT
    A melhor evidência de que a campanha presidencial começou a todo vapor está na troca de acusações após o confuso episódio dos boatos sobre cancelamento de benefícios do Bolsa Família.
    A correria a postos da Caixa Econômica Federal, no fim de semana que confirmou o senador Aécio Neves (MG) como novo presidente do PSDB, deu margem a mais uma altercação entre petistas e tucanos.
    A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) precipitou-se a responsabilizar uma "central de notícias da oposição". O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP), já cogita convocá-la ao Congresso.
    Não por coincidência, o caráter vitriólico das declarações tem por móvel um programa que é o emblema da principal dificuldade do pré-candidato tucano: perfilar-se como alternativa ao PT sem hostilizar ampla parcela do eleitorado que se beneficia --13,8 milhões de famílias-- com o Bolsa Família.
    Os limites da ação distributiva são um dos dilemas que o PSDB ainda não foi capaz de resolver, embora tenha dado um passo para reduzir o teor de ambiguidade de suas últimas candidaturas à Presidência. O discurso de Aécio no encerramento da convenção que o sagrou presidente do partido guiou-se pela evidente intenção de demarcar um divisor de águas, mas não foi desta vez que o senador conseguiu destacar-se como líder de uma oposição convincente ao petismo.
    Aécio ao menos pôs um ponto final na estratégia duvidosa das últimas campanhas. Não tentou apresentar os tucanos como mais petistas que o PT, quer dizer, como o partido criador do Bolsa Família e o que vai manter e aperfeiçoar a política distributiva. Mesmo que se acredite serem corretas e sinceras tais perorações, a experiência mostra que não encontram eco entre eleitores, pois o espaço ideológico da social-democracia já tem dono no imaginário social.
    Aécio defendeu com ênfase marcas do PSDB que os paulistas José Serra e Geraldo Alckmin tentaram esmaecer em campanhas passadas. Fez vários elogios ao governo de Fernando Henrique Cardoso, defendeu inequivocamente as privatizações, a estabilização da economia com o Plano Real e a responsabilidade fiscal. Caminhou, enfim, na direção do ideário que os adversários eleitorais se apressariam a rotular de "neoliberal".
    O líder tucano deu novos sinais de hesitação, contudo. Repetiu a saudação à bandeira petista, o Bolsa Família, declarando ser o PSDB "o partido dos programas de transferência de renda" --prova de que reluta, ainda, em assumir uma dicção mais liberal com denúncia ácida de seu aspecto assistencialista.

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