segunda-feira, 6 de maio de 2013

Bagunça na praia - Marcos Augusto Gonçalves

folha de são paulo

Parque Villa-Lobos está melhor e bem cuidado, mas não separa ciclistas e pedestres, que é básico
"Que palhaçada essa caxirola, que aplique!" Ia pensando eu, na manhã de quarta-feira, Dia do Trabalho, sobre esse palpitante tema nacional, enquanto caminhava na direção do parque Villa-Lobos, zona oeste de São Paulo.
Creio já ter dito aqui que para mim, a verdadeira praia de paulista não é o shopping, e sim o parque. Ok, o shopping é a praia indoor. O parque é a praia ao ar livre.
São Paulo tem ganhado mais e melhores parques nos últimos anos. O Villa-Lobos é um deles. Aquela área inóspita, de vegetação rala, que mais afugentava do que convidava as pessoas, mudou bastante. Árvores cresceram, a grama ficou bacana e o lugar está bem cuidado.
Para melhorar o pedaço, a avenida Prof. Fonseca Rodrigues, continuação da Pedroso de Morais, que passa em frente ao parque, ganhou uma extensa faixa compartilhada para bike e pedestres no canteiro central. No feriado, além do mais, funcionava a ciclofaixa de lazer.
A avenida, com tanta gente esportiva andando e correndo para lá e para cá, me fez lembrar os calçadões da orla carioca. Obviamente sem aquele marzão e aquela natureza toda. Mas estava astral, céu azul, cheio de verde e figuras transadas circulando.
O parque Villa-Lobos é a minha praia em São Paulo. Moro perto, vou sempre. As tribos que ali frequentam, se dividem basicamente em gente que caminha ou corre, que patina ou usa skate, que faz piquenique ou leva criança para brincar, e que anda de bicicleta. A dificuldade nos dias mais frequentados está justamente em distribuir esses usos de maneira civilizada e pacífica.
O principal problema, por corriqueiro que pareça, é a separação básica entre ciclistas e pedestres. Em tese, seria simples resolver, mas no país da caxirola essas coisas acabam parecendo difíceis. Não gosto da ideia de microcosmos representativos do todo, tipo "o parque como metáfora do país". Mas um pouco, pelo menos, tem a ver.
No caso do Villa-Lobos temos o seguinte:
1 "" Uma regra ambivalente. O uso exclusivo da ciclovia por ciclistas só é obrigatório nos finais de semana e feriados. Portanto, tem dia que pode andar em qualquer pista e tem dia que não pode. Nas férias escolares, por exemplo, o parque atrai mais gente nos dias de semana ""e as bicicletas disputam espaço com os pedestres em todos os lugares.
2 "" Informação e sinalização precárias. Embora conte com uma programação visual tipo bonitinha, a informação sobre o uso da ciclovia é discreta, difícil de ver. E a pista não é bem demarcada.
3 "" Falhas de arquitetura nos acessos e nos traçados. Há diversas escadas pelas quais o público entra no parque através da ciclovia! E o traçado do circuito chega ao cúmulo de cruzar de ponta a ponta a principal área de acesso, a do portão principal. Confusão generalizada. Um detalhe: o estacionamento para ciclistas na área do bar fica na pista de pedestres.
4 ""Na tentativa de ordenar a bagunça, que poderia ser resolvida com medidas simples, todo um aparato de gambiarras e vigilantes é mobilizado no fim de semana. Não seria preciso nenhum gênio da arquitetura para redefinir os traçados com um mínimo de funcionalidade.
Por que, então, isso não é feito? Será um problema só do Villa-Lobos ou a dificuldade para resolver questões simples de maneira objetiva faz parte, em sentido mais amplo, de nossa grande praia nacional?

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