domingo, 5 de maio de 2013

Editorial FolhaSP

folha de são paulo

Metrô no limite
Numa cidade como São Paulo, com notórias e exasperantes dificuldades de locomoção, é natural que melhorias no transporte público atraiam rapidamente mais usuários. Foi o que se verificou nos últimos anos com a expansão das linhas de metrô e a maior facilidade de conexão com os trens da CPTM.
A sobrecarga tem sido um dos motivos alegados pelas autoridades para explicar o aumento de panes. Se as falhas eram mais comuns na rede da CPTM, passaram a ocorrer com mais frequência, recentemente, também no metrô.
No ano passado, por exemplo, após quatro décadas de operação, o transporte subterrâneo da cidade registrou a primeira colisão entre trens, na linha 3-vermelha. Agora, a mesma linha, com mais de 3 milhões de passageiros transportados diariamente, foi palco de uma ocorrência grave, no horário de pico da manhã.
Num trecho ao ar livre do trajeto, após um defeito que deixou o trem parado entre duas estações, passageiros quebraram vidros, forçaram portas e abandonaram a composição, caminhando pela lateral dos trilhos. Por segurança, o Metrô cortou a energia. O incidente acabou prejudicando usuários de todo o sistema.
O diretor de operações da empresa procurou minimizar o problema e, numa atitude discutível, culpou os passageiros pelo aumento do tempo necessário para regularizar a situação.
Os passageiros, por sua vez, relataram um quadro sufocante para justificar a decisão de deixar o trem, sem dúvida temerária. O ar-condicionado teria deixado de funcionar e pessoas passaram mal.
Mais do que o episódio específico, o que preocupa é o crescimento do número de casos e a impressão de que em momentos de estresse o sistema de segurança não é confiável. Em 2012 foram registradas 66 panes, contra 51, em 2011. Um ano antes, em 2010, eram apenas 28.
Para o Metrô, a escalada deve-se ao aumento da rede e do número de viagens fora de horários de pico. Por plausível que seja, tal explicação não basta para tranquilizar quem usa esse tipo de transporte.
Há trens antiquados em operação. Crescem as dúvidas quanto à presteza da manutenção e dos procedimentos de segurança.
Cabe ao Metrô renovar as composições, tirar lições das falhas e instruir com clareza os usuários sobre o que fazer em momentos de pane. Caso contrário, corre-se o risco de interrupções mais e mais frequentes levarem a frustração dos passageiros ao limite do insuportável.

    Flanco aberto
    Falta de competitividade prejudica desempenho do Brasil no mercado externo e prenuncia a volta do deficit na balança comercial
    Após 11 anos de superavit robusto na balança comercial, nos últimos meses observa-se acelerada piora nas contas externas do país.
    Neste primeiro quadrimestre, o Brasil registrou deficit comercial de US$ 6,2 bilhões, recorde para tal período do ano. As exportações caíram 3,1% e as importações cresceram 10,1%, na comparação com igual intervalo em 2012.
    A despeito de boa parte do encolhimento do saldo --US$ 3,5 bilhões-- decorrer de atrasos no registro de importação de combustíveis em 2012, mas que só desfalcaram o resultado agora, é evidente a perda no impulso exportador.
    O país perde espaço nos seus principais mercados do mundo. No primeiro trimestre, as vendas para a Europa e os EUA caíram cerca de 10% e 25%, respectivamente. Até a China, que ainda cresce a 7,5%, reduziu suas compras em 2,2%.
    O retrocesso brasileiro resulta da falta de competitividade para produzir e vender produtos manufaturados. Nossa pauta de exportações se concentra em matérias-primas, o que põe o país em posição de risco. Não há perspectiva de repetir-se tão logo a valorização que tais produtos primários tiveram na última década.
    A China reorienta seu modelo de crescimento, na tentativa de torná-lo menos dependente de grandes obras, o que reduz a demanda por commodities. Não por acaso, os preços de vários metais de uso industrial têm sofrido queda.
    Produtos agrícolas, como a soja brasileira, são menos sensíveis a essa mudança. Podem até ser beneficiados pela melhoria do padrão alimentar asiático e por quebras de safra de concorrentes ocasionadas pelo clima. É temerário, contudo, contar apenas com a produtividade nacional nesse setor para competir no mercado internacional.
    O deficit no comércio de manufaturados atingiu US$ 16 bilhões já no primeiro trimestre, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Nos segmentos de média e alta tecnologia, o rombo vai a US$ 22 bilhões. O Brasil está à margem das cadeias produtivas globais que mais criam valor e conhecimento.
    Para completar, a conta de serviços --que, além da balança comercial, inclui pagamentos de dívidas, gastos de viagens e remessas de dividendos-- também se desvia para o vermelho. O país se avizinha de um deficit externo de US$ 70 bilhões (3,3% do PIB) em 2013 e pode chegar a US$ 100 bilhões em 2014 ou 2015. Voltaria a dependência de capital externo de curto prazo para fechar as contas.
    Não há risco, dirão os mais crédulos. O Brasil tem reservas de US$ 375 bilhões. Mas não se sabe qual será o comportamento dos investidores se os EUA subirem os juros. O filme da fuga de capital já foi visto, e ninguém gostou.

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