domingo, 5 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis - Turismo‏


Estado de Minas: 05/05/2013 

Cristina Ruiz-Kellersmann tem o dom de escrever informando, instigando e divertindo o leitor. Parece fácil, mas não é. Basta ver o número espantoso de cronistas e/ou articulistas aprontando textos intragáveis em nossa imprensa, nos quais o mínimo que se encontra é a causticidade da soda cáustica dos sucos de maçã produzidos e envasados em Pouso Alegre (MG), cidade que não merece os comentários cáusticos que ouvi no rádio.

Antes dos finalmentes deste belo suelto, preciso contar ao caro e preclaro leitor que acabo de aprender os significados do verbo envasar, transitivo e pronominal, que entrou em nosso idioma no ano de 1600: meter(-se), afundar(-se) em vasa ou em lodo; cobrir(-se) de lama; atolar(-se), enlodar(-se), enlamear(-se).

Outro verbo envasar, que só pintou no pedaço em 1899, transitivo direto, é “colocar (geralmente líquidos) em vaso, vasilha ou qualquer embalagem; envasilhar”. Foi o que fez a multinacional, sem querer, misturando soda custica ao suco para atolar-se e cobrir de lama sua marca duramente conquistada. Outra pausa para explicar que o “colocar (geralmente líquidos)” corre por conta do Houaiss eletrônico, pois o philosopho não escreve colocar de jeito e maneira. Prefiro botar, ponhar, pôr & Cia. Ltda.

Se considerarmos importante a indústria do turismo, como parece que é, são impressionantes os números que Cristina pôs em sua crônica do dia 19 de março. A cidade de Berlim, com 891 quilômetros quadrados, em 2012 recebeu quatro milhões de turistas estrangeiros, num total de 11 milhões, contando com os alemães.

No mesmo ano, um país grande e bobo, que tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados, recebeu 5,7 milhões turistas. Note-se que o país têm praias maravilhosas, diversos climas, jabuticaba, florestas, pantanais, campanhas gaúchas, uma infinidade de atrações que a cidade alemã não tem.

Ainda impressionado com o texto da correspondente em Berlim e saturado pela veiculação ad nauseam (à saciedade) da bicota que o papa Francisco deu na bochecha de Cristina Fernández de Kirchner, zapeei o televisor e descobri a Praia do Rosa, em Santa Catarina, referta, entupida, ingurgitada de moças bonitas em seus biquínis provocantes. Uma delas disse que o Rosa é o paraíso da onda boa e da night boa.

Isso mesmo que você entendeu: ondas para surfar e baladas da night, que não posso escrever balar, soltar balidos como a ovelha ou o cordeiro. Para desespero dos puristas, noite no Brasil virou night: daily period of darkness, the period of darkness occurring each day in most parts of the world, or the entire period between sunset and sunrise. É isso aí, bicho, como diria o também idoso Roberto Carlos Braga.

Dedo de silicone
Philosopho antenado, cuidei de equipar o apê nos conformes da PEC das Domésticas. Comecei pelo ponto, redução de Livro de Ponto, que muitos empregadores ainda usam. Pensei num ponto registrado em cartório, firmas reconhecidas, tudo bonitinho, mas era complicado, porque o apê demora dois quilômetros do tabelionato mais próximo e seria difícil reconhecer duas assinaturas por dia.

Há diversos pontos eletroeletrônicos para passar o crachá ou o cartão funcional, mas ponto seguro, mesmo, é aquele de identificação biométrica, em que a doméstica bota o dedão, como já se faz em diversos municípios brasileiros durante as eleições, garantindo os excepcionais parlamentares que têm sido eleitos.

Contudo, havia outro problema: nunca, jamais, em tempo algum, a funcionária cumpriu oito horas de trabalho. Já fico muito feliz quando passa cinco horas labutando, pelo seguinte: em cinco horas faz tudo que precisa fazer, vai-se embora e me deixa a sós com o computador, a TV, a biblioteca.

Tive ideia brilhante, que me apresso a dividir com o leitor de Tiro&Queda: vou comprar o ponto de identificação biométrica e mando fazer dedinhos de silicone com as digitais da funcionária. Assim, passo o dedo de silicone nas horas certas e não se fala mais nisso, falou?

O mundo é uma bola

5 de maio de 1769: decreto autorizando a instalação em Lousã, Portugal, de uma fábrica de papel de escrever. Lousã é uma vila do distrito de Coimbra e tem, hoje, pouco mais de 17 mil habitantes. Quanto ao papel, a maioria dos historiadores diz que foi produzido pela primeira vez por Ts’ai Lun, obviamente chinês, pela polpação de redes de pesca e trapos, mais tarde utilizando fibras vegetais. Ts’ai Lun foi alto funcionário da corte imperial na Dinastia Han e sua invenção deve datar do ano 105, di-lo a Wikipédia.

Em 1920, o papa Bento XV canoniza Joana D’Arc. Na roça fluminense tive cozinheira chamada Joana D’Arc, obviamente “da Silva”. De família mineira, a jovem era limpa e cozinhava bem. A santa, que viveu de 1412 a 1431, era filha de Jacques D’Arc e Isabelle Romée. Shakespeare, que não era uma cavalgadura, tratou-a como bruxa. Voltaire, outro gênio, ridicularizou-a em La Pucelle d’Orléans. E o philosopho chegou a maio de 2013 sabendo pouquíssimo da virgem francesa canonizada por Bento XV, em latim Benedictus PP.XV, nascido Giacomo della Chiesa, magro, de óculos, cara de poucos amigos.

Hoje é o Dia das Comunicações e o Dia do Agito (Eu movo, em latim), símbolo dos jogos paraolímpicos.

Ruminanças

“Havia aqui, por toda parte, amantes espirituais de Stalin. Eram jornalistas, intelectuais, poetas, romancistas. Outros punham nas paredes retratos de Stalin. Era uma pederastia idealizada, utópica e fotográfica” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

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