sexta-feira, 24 de maio de 2013

Escoteiros americanos acabam com restrição a jovens gays

O Globo - 24/05/2013

Mais de 60% dos dirigentes votam pelo fim de 103 anos de proibição


-GRAPEVINE, EUA- O escotismo americano
deu mais um passo ontem para cumprir
as metas de respeito, fraternidade, lealdade
e responsabilidade pregadas pelo
movimento. Após meses de discussão, o
Conselho Nacional dos Escoteiros dos
EUA aprovou o fim da restrição à entrada
de jovens homossexuais, deixando para
trás uma regra polêmica de 103 anos,
que esbarrava na resistência de membros
de organizações conservadoras e
igrejas — a espinha dorsal do escotismo
no país. A nova diretriz entrará em vigor
a partir de 1º de janeiro de 2014.


70% FINANCIADOS POR IGREJAS

Mais de 60% dos 1.400 dirigentes americanos
do movimento aprovaram o texto da
votação, segundo o qual nenhum jovem
poderá ter sua filiação ao grupo negada
“com base em sua orientação sexual”. A
proibição de homossexuais entre os instrutores
adultos, porém, permanece.

— Era hora de mudar. Não há nada
menos escoteiro que excluir outras
pessoas e que colocar as crenças religiosas
de uns acima das de outros — comemorou
Zach Wahls, um escoteiro
criado por duas mães, lésbicas.

“Durante 103 anos, os Escoteiros dos
EUA foram parte importante desta nação,
com o objetivo de trabalharmos
juntos para oferecer o programa juvenil
mais importante do país, que desenvolve
uma liderança baseada em valores.

Hoje, depois de uma revisão mais longa
de nossa visão, e da votação de 1.400
membros, foi aprovado o fim da proibição
à entrada de jovens baseada em sua
orientação sexual”, anunciou o grupo em
comunicado.

A discussão esquentou no
ano passado, principalmente
depois que as Forças Armadas
passaram a admitir homossexuais
declarados em suas fileiras.
Os escoteiros acabaram no
centro do debate. De um lado,
havia uma pressão feita pelo
próprio presidente Barack
Obama, embalado pelas conquistas
recentes na área dos
direitos civis, como o reconhecimento
ao casamento gay em
vários estados americanos.

— Acredito que gays e lésbicas
deveriam ter acessos e
oportunidades da mesma forma
que todos os demais, em
todas as instituições e modos
de vida. O grupo de escoteiros
é uma grande instituição, que promove
os jovens, lhes dá oportunidades e os
ensina a serem líderes, lições para o
resto das suas vidas. Acho que ninguém
deveria ser barrado — afirmou Obama,
logo após a posse para o segundo mandato,
em janeiro.

Do outro lado, porém, havia a muralha
do conservadorismo e, principalmente
das igrejas: nada menos que 70% das cerca
de 100 mil unidades dos escoteiros são
financiadas por instituições religiosas.

Os dois campos se mobilizaram. Os favoráveis
recrutaram mais de 1,8 milhão de
assinaturas em uma petição online pelo
fim da proibição. Os opositores
fizeram o mesmo, recolhendo
250 mil assinaturas. Três meses
atrás, uma primeira tentativa de
votação foi adiada. Mas o quadro
foi revertido com o apoio de algumas
das mais importantes
igrejas do país à iniciativa, como
os mórmons e os metodistas.

Apesar do otimismo, uma
pesquisa online com cerca de
200 mil membros do movimento
escoteiro— entre jovens,
parentes e líderes — indica
que ainda há quem apoie a
exclusão de gays: um em cada
dois, ou seja, 50%.

— Os escoteiros não estão nos
ouvindo — queixou-se John
Stemberg, um advogado de Orlando,
contrário ao fim da proibição.
O presidente do conselho nacional,
Wayne Perry, porém, incentivou os delegados
a acatarem a decisão:

— Nunca foi nossa intenção impedir
gente jovem de ser parte da organização.
Ativistas comemoraram. A luta agora
será para derrubar a proibição de gays
entre os adultos.

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