sexta-feira, 24 de maio de 2013

Greve de professores em SP afeta 28% das escolas municipais

folha de são paulo

Paralisação afeta ao menos 28% das escolas municipais
Adesão de quase 1/3 é reconhecida pela prefeitura, mas greve pode ser maior
Pesquisa da Folha em 200 unidades mostra que metade aderiu ao movimento, que teve início há 22 dias
FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOANA KREPPRICARDO BUNDUKYCOLABORAÇÃO PARA A FOLHALevantamento em 200 escolas municipais de São Paulo indica que metade das unidades aderiu à greve dos professores, iniciada há 22 dias.
A amostra consultada pela Folha ontem e anteontem, por telefone, representa 15% do total de creches, pré-escolas e colégios da rede --52% afirmaram que havia alguma paralisação; 10% delas, que a unidade parou totalmente.
A própria prefeitura admite que há alguma paralisação em 28% das escolas.
Mas ela diz que a adesão em número de educadores é pequena. O principal sindicato da categoria fala em 55% das unidades em greve.
Os levantamentos apontam que a mobilização dos professores teve reflexos diretos que afetam a rede.
O realizado pela Folha inclui escolas de cada uma das 13 diretorias de ensino nas diversas regiões da cidade.
Hoje haverá assembleia dos professores no centro para definir se a greve continua. A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) diz que ela está enfraquecendo --para o sindicato, está aumentando.
Esse é o primeiro embate de Haddad com o funcionalismo municipal e uma das primeiras crises enfrentadas pelo governo desde janeiro.
Uma das principais reivindicações dos professores é um aumento salarial imediato de 17%, referente às perdas inflacionárias desde 2011 --além do que já havia sido acordado pela gestão anterior, de Gilberto Kassab (PSD).
O governo Haddad afirma que concedeu 10% neste mês e que dará mais 13% no ano que vem, cumprindo o que havia sido aprovado em 2010.
"Eles estão apenas cumprindo a lei", disse o presidente do Sinpeem (maior sindicato da categoria), Claudio Fonseca. Além de não ser um reajuste novo, o sindicato reclama que os percentuais foram corroídos pela inflação.
"Prometer é fácil. Nós estamos cumprindo o prometido", afirmou o secretário de Educação, Cesar Callegari.
Ele classificou a greve dos educadores como "precipitada e injusta", pois começou antes do início das negociações com sua pasta.
A prefeitura afirma que tem conseguido mostrar aos professores nos últimos dias as melhorias que vão ter.
Segundo o município, na última sexta, 20 mil dos 68 mil professores faltaram (diariamente, a média é de 7,5 mil). Ontem, foram 10 mil.
Essa redução, na visão da gestão Haddad, indica que a greve está perto do fim.
Já Fonseca diz que a insatisfação aumentou depois que a prefeitura divulgou que descontaria os dias parados.

    Aulas perdidas durante a greve devem ser repostas nas férias
    Calendário só será definido após fim de paralisação, mas prefeitura já avalia reposição em julho
    Líderes de sindicatos dizem que atos contam com militância petista, insatisfeita com pasta comandada por PSB
    DE SÃO PAULOProfessores e alunos de escolas municipais paralisadas desde o início do movimento deverão ter de repor aulas perdidas nas férias de julho.
    Essa é a avaliação interna na prefeitura, antes mesmo da definição da duração total da greve. Os colégios que entraram no protesto logo no início já perderam 16 dias letivos (a lei exige que sejam dados 200 dias ao ano).
    O calendário final da reposição só será definido após o término da paralisação.
    Há discordância entre prefeitura e sindicatos em relação ao pagamento dos dias parados aos servidores.
    A gestão Fernando Haddad (PT) determinou que as faltas sejam descontadas.
    Para a prefeitura, a forma de pagamento desse período só deve ser definida após o fim da paralisação. Já os sindicatos defendem que o governo deve recuar do corte.
    "Se não há apontamento de faltas, é uma greve de mentira, escamoteada, que só prejudica as crianças", afirmou o secretário da Educação, Cesar Callegari.
    "Cortar o ponto é não reconhecer o direito de greve. Só faria sentido se a greve fosse julgada ilegal, o que não ocorreu", afirmou o presidente do Sinpeem (sindicato docente), Claudio Fonseca --ex-vereador pelo PPS, da base do governo Gilberto Kassab (PSD).
    Eles discordam do cronograma da greve. Callegari reclama que ela foi deflagrada um dia antes do início da negociação. Já Fonseca afirma que, em relação às tratativas salariais, a prefeitura já havia esgotado suas propostas.
    FOGO AMIGO
    Líderes de dois dos cinco sindicatos ligados à educação municipal afirmaram à Folhaque alguns protestos contra a prefeitura partem da própria militância do PT, que esperava ter um petista como secretário de Educação. Callegari é do PSB.
    O próprio secretário já reconheceu a interlocutores que, de fato, parte da base grevista pode ser composta de petistas descontentes.
    Ao escolher Callegari, o prefeito afirmou que o nome vinha de sua "cota pessoal", como uma decisão técnica.

    Crianças não vão à escola há duas semanas
    ANA KREPPCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAPor causa da greve de professores, cerca de 40 crianças estão sem aulas há pelo menos duas semanas no Jardim Arpoador, zona oeste de São Paulo.
    Segundo moradores, algumas mães perderam o emprego porque tiveram de faltar ao trabalho para cuidar dos filhos.
    Líder comunitária do bairro, Janaína Aparecida, 37, tem cinco filhos matriculados na escola municipal Professora Daisy Amadio Fujiwara. Todos estão sem professores desde o dia 3.
    "Tá todo mundo aqui com o filho em casa, sem poder sair pra resolver alguma coisa porque precisa olhar os filhos. Se precisar sair, tem de pedir para a vizinha cuidar. E se a pessoa trabalha, vai fazer o quê?"
    Valkíria Aparecida Arice, 58, mora com a filha e o neto no Jardim Arpoador. O menino de cinco anos estuda na escola municipal Professora Carolina Ribeiro e foi dispensado das aulas há duas semanas.
    "Como minha filha trabalha e eu também, não tinha com quem deixá-lo. Então ela precisou faltar no serviço. No terceiro dia, foi mandada embora."
    Após uma semana desempregada, a filha começa hoje em um novo emprego. "Meu neto vai ficar com uma tia, mas, se a greve continuar, não sei o que faremos. Minha filha não pode ficar desempregada."
    As famílias da comunidade esperam que a greve seja encerrada hoje na assembleia. "Foi essa possibilidade que me deram na escola", diz Janaína.
    Ali perto, as famílias que têm filhos matriculados na escola municipal Professor Benedicto Castrucci passam pelo mesmo problema.
    De acordo com Aparecida Mendes dos Santos, 58, avó de duas meninas, de sete e quatro anos, cuida das meninas em casa há 15 dias.
    "Ter as duas em casa ao mesmo tempo é terrível, porque elas não param de brigar."

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