sexta-feira, 24 de maio de 2013

'Guerra ao terror' tem de acabar, diz Obama

folha de são paulo

Presidente promete reduzir uso de drones, mas afirma que ninguém pode garantir a 'derrota total' do terrorismo
Americano diz, porém, que país continua em guerra contra Al Qaeda e volta a falar que fechará Guantánamo
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem que pretende adotar uma série de mudanças na política de contraterrorismo do país. Ele disse que a chamada "guerra ao terror" precisa chegar ao fim, mas que nenhum presidente pode prometer "a derrota total do terrorismo".
Ele defendeu os ataques com drones (aviões não tripulados), afirmando que matam "menos inocentes". Mas disse que pretende reduzir seu uso e criar maior supervisão para a autorização dessas aeronaves, transferindo a responsabilidade da CIA ao Pentágono. Sugeriu, ainda, a criação de uma corte especial para analisar e autorizar casos de "ações letais".
Em longo discurso na Universidade de Defesa Nacional, em Washington, Obama voltou a pedir ao Congresso "ajuda" para fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, e começar a devolver a seu país os prisioneiros do Iêmen, que representam metade dos detidos na base militar.
Obama tentou se diferenciar da política de seu antecessor, George W. Bush, após os ataques de 2001. Disse que o país "saiu de curso" depois do 11 de Setembro, com "tortura e prisões fora do Estado de Direito".
"Nossa campanha sistemática para desmantelar organizações terroristas deve continuar", disse Obama. "Mas esta guerra, como todas as guerras, precisa acabar. É o que a história aconselha, o que nossa democracia pede."
O presidente afirmou que o país nunca conseguirá "apagar o mal que existe no coração de alguns seres humanos", mas o governo pode desmantelar redes que sejam uma ameaça direta aos EUA.
Ele justificou o ataque com drone que matou em 2011, no Iêmen, o clérigo radical Anwar al-Awlaki --cidadão americano--. dizendo que tinha autorização do Congresso. "Sua cidadania não podia mais servir como escudo. Ele estava continuamente tentando matar pessoas", disse.
Segundo analistas, a Casa Branca teria concluído que o coração da Al Qaeda já foi dizimado em anos de ataques e com a operação que matou o líder da rede terrorista, Osama Bin Laden.
"Como nossa luta entra em nova fase, a legítima defesa da América não pode ser o fim da discussão", discursou Obama. "O mesmo progresso humano que nos dá a tecnologia de atacar em outro canto do mundo requer a disciplina de controlar esse poder."
A oposição republicana reagiu com desconfiança à mudança de rota prometida no discurso. O presidente da Câmara, o republicano John Boehner, questionou a diminuição do uso de drones. "Que ações o presidente tomará para assegurar a derrota da Al Qaeda no lugar dos drones? A ameaça dos terroristas vai diminuir sozinha?"
Sobre Guantánamo, Obama voltou a se comprometer a fechar o centro de detenção, promessa que não consegue cumprir desde o início do primeiro mandato, em 2009.
O presidente pediu ao Congresso que acabe com restrições à transferência dos prisioneiros para território americano. Disse que o governo irá apontar um novo lugar, nos EUA, para tribunais militares e que nomeará novo responsável pelas transferências de presos a outros países.
PROTESTO
Uma militante pacifista interrompeu Obama aos gritos por três vezes: "86 já foram absolvidos, libere-os já", gritou Medea Benjamin, da organização Code Pink, em relação aos presos de Guantánamo. O presidente afirmou que valia a pena ouvir o que ela dizia "com paixão", pela sua liberdade de expressão, apesar de "não concordar".

    aNÁLISE
    Presidente procura redefinir estratégia contra os terroristas
    SIMON TISDALLDO "GUARDIAN"Barack Obama evocou a perspectiva de um final eventual à perpétua e em grande medida oculta "guerra ao terror" global iniciada por seu predecessor, George W. Bush, em resposta aos ataques do 11 de Setembro.
    Mas, ao mesmo tempo em que prometeu transparência maior no contraterrorismo, o fechamento do gulag de Guantánamo e restrições aos assassinatos seletivos cometidos por meio de drones, o discurso de Obama em Washington deixou claro que, pelo menos durante sua Presidência, os Estados Unidos vão continuar a utilizar meios unilaterais, extrajudiciais e letais para neutralizar qualquer pessoa que o país considere que representa uma ameaça à sua segurança nacional.
    Agora, em seu segundo mandato, Obama parece estar decidido a gradualmente desacelerar e diminuir a ênfase sobre a "guerra ao terror" (termo que ele rejeitou), baseado no argumento de que a Al Qaeda foi enfraquecida, mesmo que não tenha sido totalmente derrotada, e que as defesas dos EUA estão mais temíveis que nunca.
    Obama não está declarando vitória completa. Não está propondo uma solução. Como poderia fazê-lo, com os ataques na maratona de Boston ainda provocando repercussões violentas?
    Em lugar disso, ele parece querer institucionalizar e administrar o problema, à sua maneira típica de professor.
    Por essa e outras razões, Obama se deixou vulnerável à acusação de querer chupar cana e assobiar ao mesmo tempo. Sua promessa em relação a Guantánamo suscita incredulidade, considerando que ele vem fazendo promessas semelhantes desde antes de ser eleito pela primeira vez, em 2008.
    Ele diz que vai limitar os ataques com drones, mas, ao mesmo tempo, procura dotar essas operações de um caráter respeitável, argumentando que são "necessárias, legais e justas".

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