quinta-feira, 16 de maio de 2013

Nova classe ociosa: jovens americanos

folha de são paulo

ANÁLISE DO NOTICIÁRIO
Por DAVID LEONHARDT
WASHINGTON - O jovem europeu ocioso, sem trabalho por causa da disfunção do continente, é um dos personagens típicos da economia global. Mas talvez esteja na hora de acrescentar outro protagonista, ainda mais comum: o jovem americano ocioso.
Nos últimos 12 anos, os EUA passaram da mais alta à mais baixa porcentagem de jovens de 25 a 34 anos empregados, entre as grandes economias ricas.
A mudança sombria -"uma reviravolta histórica", segundo Robert A. Moffitt, um economista da Universidade Johns Hopkins em Maryland- deriva de dois aspectos da longa recessão econômica. Primeiro, ela cobrou o preço mais alto dos jovens. E, enquanto a economia americana voltou mais robusta que algumas de suas rivais globais em termos de produção total, a recuperação foi discreta em geração de empregos. As empresas americanas estão fazendo mais com menos.
Os empregadores relutam em contratar novos funcionários. As demissões foram reduzidas, com exceção dos piores meses da crise financeira, mas também a geração de empregos, e ninguém depende tanto de novos empregos quanto os jovens.
Para muitas pessoas com empregos e poupanças, a economia finalmente está se movendo na direção certa. Os salários médios não estão mais atrás da inflação. As ações subiram desde o piso de 2009, e os preços dos imóveis aumentam de novo. Mas pouco disso ajuda os jovens adultos a tentar pôr o pé na economia.
Segundo o Departamento do Trabalho, os trabalhadores entre 25 e 34 anos são a única faixa com salários médios mais baixos no início de 2013 do que em 2000.
Em 2011, o ano mais recente para o qual existem comparações internacionais, 26,6% dos americanos entre 25 e 34 anos não estavam trabalhando. A porcentagem era de 20,2% no Canadá, 20,5% na Alemanha, 21% no Japão, 21,6% na Grã-Bretanha e 22% na França. Em 2000, em contraste, os Estados Unidos lideraram Alemanha, Grã-Bretanha, França, Canadá e Japão -assim como Austrália, Rússia e Suécia- nesses índices de emprego. Hoje estão atrás de todos eles.
Os EUA perderam sua antiga grande vantagem na produção de graduados universitários, e a educação continua sendo a mais bem-sucedida estratégia de empregos em uma economia globalizada e forte em tecnologia. Os lugares mais educados do país, como Boston, Minneapolis e Washington, têm altos índices de emprego, enquanto os menos educados têm baixos. O índice de desemprego oficial para graduados universitários de 25 a 34 anos continua em apenas 3,3%.
O país também tem sido menos agressivo que alguns outros em usar aconselhamento e retreinamento para ajudar os desempregados a encontrar trabalho. Um estudo recente feito na França por economistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts revelou que programas de colocação para desempregados ajudavam não apenas os trabalhadores, mas também a economia. Os trabalhadores aconselhados tinham maior probabilidade de encontrar trabalho, e não simplesmente tiravam os empregos de outros candidatos.
Outra pesquisa nota que os Estados Unidos expandiram a licença parental e o trabalho em tempo parcial menos que outros países -e talvez isso esteja relacionado à queda dos índices de emprego entre as mulheres.
Seja qual for o papel dessas tendências, elas não parecem explicar o declínio do emprego. As empresas existentes não estão criando empregos no mesmo ritmo de antes, e novas empresas não se formam tão rapidamente.
O que poderia ajudar? Facilitar as partes do entramado regulatório que não têm benefícios sociais. Oferecer financiamento público para pesquisa científica em fase inicial e infraestrutura física que o setor privado muitas vezes acha não rentável. Em longo prazo, nada provavelmente será mais importante que melhorar a realização educacional.
Talvez o aspecto mais notável da queda dos empregos seja que os americanos na faixa dos 20 e 30 anos que foram mais afetados por ela continuam decididamente entusiasmados. Eles têm muito mais esperança que as gerações mais antigas, segundo pesquisas, de que o futuro do país será melhor que o passado. Essa resiliência é impressionante -e necessária. A redução dos empregos não vai terminar sem uma grande dose de otimismo.

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