domingo, 14 de julho de 2013

ENTREVISTA/JONH KASARDA, MEDICO » Rumo à aerotrópole‏


Estado de Minas: 14/07/2013 


Belo Horizonte caminha para se tornar a primeira aerotrópole da América do Sul. Trata-se de uma cidade construída na vizinhança do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, rodeada por alta tecnologia e conectividade. O economista norte-americano Jonh Kasarda, Phd em logística e cadeias globais de suprimentos, esteve na semana passada na capital, onde lançou o livro Aerotrópole: o modo como viveremos no futuro, escrito em parceria com o também americano Greg Lindsay. O livro, publicado em inglês e chinês, agora ganhou a versão em português. 

Kasarda é professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e consultor da CH2MHILL, empresa responsável pelo desenvolvimento das estratégias do contorno metropolitano na capital. Ele está debruçado há 10 anos no projeto de diversificação da economia do estado, tendo o aeroporto como pano de fundo. A intenção do governo é que os investimentos sejam realizados antes de explodir a demanda de passageiros em Confins. O processo começou com o início da transferência dos voos da Pampulha em 2003. Em entrevista ao Estado de Minas, Kasarda falou da importância de medir as distâncias do aeroporto por tempo, e não por quilômetros.

Para começar, o que é uma aerotrópole?
Eu posso dar a simples definição: é uma cidade construída ao redor do aeroporto. É a cidade onde os negócios dependem mais dos fornecedores, clientes e empresas parceiras nacionais e mundiais. É um lugar onde o local e o global caminham juntos. O aeroporto oferece conexão aos fornecedores, clientes e empresas parceiras com uma ótima distância. Eles precisam se conectar rápido. A única forma de fazer negócios com outros lugares, como Toronto, Chicago, Frankfurt e Hong Kong, é pelo ar. As pessoas precisam viajar frequentemente e a localização do aeroporto oferece vantagens. Com o número crescente de empresas e prestadores de serviços comerciais agrupados em torno dos aeroportos, a aerotrópole torna-se um dos principais destinos urbanos, onde os viajantes aéreos e moradores locais podem trabalhar, fazer compras, conhecer, trocar conhecimentos, conduzir negócios, comer, dormir, e ter o lazer sem precisar estar a mais de 15 minutos de distância do aeroporto.

O senhor pode dar alguns exemplos das principais aerotrópoles no mundo?
Sim, eu poderia dar o exemplo de Amsterdã, onde o aeroporto é conectado por uma rodovia e todos os tipos de instalações foram construídas ao redor. Há diferentes atividades localizadas por lá, mais de 1 mil tipos de negócios,em função da conectividade que o aeroporto oferece. Um outro exemplo é Hong Kong e Incheon, na Coreia do Sul, onde foram desenvolvidos shoppings, hotéis, parques aquáticos e casinos nas redondezas do aeroporto.

Todos esses exemplos foram bem-sucedidos?
Alguns estão indo melhor do que outros, mas todos vão bem.

Quantas aerotrópoles existem hoje na América do Sul?
Belo Horizonte é a única.

Belo Horizonte pode ser comparada a outros exemplos de aerotrópoles no mundo?
Não ainda. Aqui é tudo novo. A aerotrópole ainda está nascendo. Está se desenvolvendo, mas está começando a ter muitas características das outras aerotrópoles. Mais coisas têm sido feitas por aqui nos últimos cinco anos, comparando com outras aerotrópoles ao redor do mundo. O desenvolvimento tem sido mais rápido, em função da determinação política. A região tem ficado mais competitiva para os negócios. E a aerotrópole não deve apenas atrair investimentos e empregos, mas fazer a região ficar mais competitiva. A Linha Verde tem atraído negócios em diversas áreas, como educação, medicina, hotéis, shoppings e novas tecnologias. Eu nunca vi nenhuma outra aerotrópole ser construída tão rapidamente como a daqui. O objetivo não é apenas que a região fique mais conectada nacionalmente ou globalmente, mas localmente. A meta é que quando as rodovias estiverem prontas, qualquer ponto da região metropolitana fique a no máximo a 40 minutos do aeroporto de Confins. Hoje, por exemplo, gasta-se cerca de 1h30 minutos da Fundação Dom Cabral (FDC), em Nova Lima, até o aeroporto. Com as novas rodovias previstas para compor a aerotrópole, os estudantes vão poder voar e chegar às aulas mais rápido. Conectividade é a chave da competitividade.

Como está situado o aeroporto de Belo Horizonte em comparação com outras metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo?
As três economias são importantes. Mas em Belo Horizonte há mais áreas abertas no entorno do aeroporto, o que não há em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Belo Horizonte tem a vantagem de ter 700 quilômetros quadrados de espaço aberto para desenvolvimento da região. Equivale a 10 vezes a ilha de Manhattan, em Nova York. Nem São Paulo e nem o Rio de Janeiro têm esse espaço.

Quanto tempo Belo Horizonte vai levar para ser uma aerotrópole completa?
A aerotrópole é como se fosse um embrião na barriga de uma mulher, que ainda vai nascer. Poderíamos pensar em quanto tempo o bebê iria nascer. Eu diria que de 20 a 30 anos. É como se fosse ainda um bebê em gestação. Mas muitos empreendimentos estão sendo construídos de forma muito rápida por aqui. É o exemplo do BH International Medical e do Fashion City Brasil.

A economia de Minas Gerais sempre foi muito dependente da mineração. O que vai mudar com a aerotrópole?
A economia vai se diversificar. A economia de minas e de Belo Horizonte caminha para se formar nos 4 Ms. O primeiro é mineração, depois manufatura, agora microeletrônica e depois medicina. 

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