quarta-feira, 10 de julho de 2013

FERNANDO BRANT » O povo já falou‏


Estado de Minas: 10/07/2013 


Depois dizem que ouviram a voz dos brasileiros, que, entoando hinos ao Brasil, clamaram contra a situação do cotidiano de todos. Queremos melhor saúde, melhor educação e transporte, mais segurança. Na Rocinha, disseram que o que necessitam é esgoto e tratamento, e não teleférico para turista. Uma maravilha: a água podre escorrendo pelos pés descalços das crianças e aquela modernidade sobre as cabeças indignadas.

Alguém nas ruas falou em reforma política? Pois foi isso que os ouvidos interesseiros, querendo ficar livres dessa manifestação incontrolável, dizem ter escutado. A música das praças é uma; a deles, sem ritmo e harmonia, é outra. Alguém viu algum cartaz pedindo plebiscito? O marqueteiro julgou ter tirado da cartola a solução mágica. Mas o Cartola que gostamos é o dos sambas imortais.

Constituinte exclusiva é coisa de gente distraída, que não percebe o valor maior da Constituição, ou simplesmente de candidatos a ditadores. A Constituição, diz o mestre Carlos Ayres Britto, não é de cometer suicídio. Ela aceita emendas, mas não em todo o seu corpo. Mesmo assim, com quórum qualificado. Não se brinca com a Constituição do país.

As questões já foram postas pela população. Quem deve respondê-las são os governantes de todos os níveis. E as respostas têm de ser práticas, com poucas palavras e muita ação. Para começar, por que não investir o necessário para construir metrôs nas grandes cidades, cuidar de todo tipo de transporte público nelas, em vez de proclamar a insanidade de inventar um trem bala inútil, que irá consumir, ao que se sabe até agora, cerca de R$ 50 bilhões? O que não se faria de bom para a maioria com o dinheiro que pretendem gastar nesse projeto faraônico, digno dos militares do tempo da ditadura?

Padrão Fifa para tudo. Educação decente para todos, com escolas bem equipadas e professores remunerados com dignidade. Hospitais de primeira, com todos os requisitos indispensáveis para que os médicos ofereçam o tratamento que todos nós merecemos. Mais segurança, para que nós e a nossa família possamos exercer o sagrado direito civil de ir e vir pelas ruas das cidades. Muito saneamento básico, para que os meninos e os adultos da periferia de todas as cidades não convivam diariamente com o risco de adquirir doenças que já deveriam ter sido erradicadas de nosso mapa. Esgoto tratado, água limpa. E menos estradas assassinas pela inação e desinteresse do poder público, que só viaja de jato ou de helicóptero.

O povo, todo ele, trabalha e merece ser feliz. O mandato que ele dá aos governos é para que se faça o possível para isso. Mas não venham com perguntas e plebiscitos fora de hora ou para enganar. Respondam ao que foi e continuará sendo exigido nas ruas. Chega de manipulação.


>>  www.fernandobrant@hotmail.com

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