terça-feira, 13 de agosto de 2013

Carlos Heitor Cony

folha de são paulo
Os cartéis do Abrantes
RIO DE JANEIRO - Num filme do qual não guardei o nome, um empresário está para falir e ser preso, fez imensa fortuna obtendo empréstimos cujas garantias eram os próprios empréstimos. Além disso, descobre que a mulher o trai e propõe a fuga para um país distante e com legislação econômica mais amena.
A mulher atira-lhe na cara o fato de estar arruinado e em processo de prisão. O empresário, sabendo o que diz, responde que há muito dinheiro solto rolando pelo mundo, em poucos meses poderá recuperar tudo sem muito esforço. O filme é relativamente antigo, acho que de 1992, nada tem a ver com o caso que estourou agora no Brasil, mas cujos ingredientes são mais ou menos contemporâneos do cartel atribuído a uma companhia alemã e que, direta ou indiretamente, envolve governos paulistas daquele tempo.
Evidente que sempre rolou dinheiro solto no mundo inteiro e, paradoxalmente, em tempos de crises econômicas. Sob o pretexto de enfrentar a recessão, os governos anunciam planos mirabolantes, desde a transposição de imensos rios até o reaparelhamento dos sistemas de transportes urbanos, incluindo trens, metrô, novos aeroportos, o diabo.
Como se trata de governos honestos, são feitas complicadas licitações, na base do superfaturamento, mas as cartas estão previamente marcadas, os interessados sabem que, unidos, jamais serão vencidos. É o cartel. Todos ganham, inclusive os governos que obtêm assombrosos recursos para financiar campanhas eleitorais. Além dos intermediários.
O empresário falido e corno que citei no início desta crônica conhece o mapa da mina. Sabendo que em determinado país serão feitas pirâmides gigantescas, nem espera as licitações que ele mesmo faz, juntando-se a outros empresários não necessariamente falidos e cornos.

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