quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Editoriais FolhaSP - Charge

folha de são paulo
Jogo de preconceitos
O jogador Emerson, atacante do Corinthians, provocou polêmica ao divulgar pela internet uma fotografia na qual aparece dando um beijo fugaz nos lábios de um amigo.
O atleta, heterossexual declarado, certamente não tinha dúvidas sobre a repercussão da imagem. Não por acaso acrescentou uma legenda à foto na qual declarava não sentir medo do que "os preconceituosos" iriam dizer.
Se relações entre pessoas do mesmo sexo ainda despertam controvérsias na sociedade, no ambiente mais refratário e hipócrita do futebol, o tema é tratado pela maioria como tabu.
Como seria de esperar, o caso mobilizou opiniões nas redes sociais e se tornou assunto obrigatório da imprensa esportiva. Numa manifestação característica do conservadorismo do meio futebolístico, um pequeno grupo de corintianos foi ao centro de treinamento do clube protestar. Na opinião desses torcedores, a agremiação não deveria aceitar homossexuais.
Provocador, o gesto de Emerson serviu para alimentar a discussão, cada vez mais presente, sobre as dificuldades de dirigentes, atletas e torcedores superarem a discriminação contra gays no esporte.
No mês de abril, o norte-americano Jason Collins tornou-se o primeiro jogador de basquete da NBA, a liga profissional dos EUA, a se declarar homossexual. A manifestação, que sem dúvida pode ser qualificada de corajosa, teve o apoio de Barack Obama. O presidente telefonou para cumprimentar o astro e disse que "não poderia estar mais orgulhoso" pela atitude.
A questão também levantou polêmicas durante o Mundial de Atletismo, em Moscou, encerrado no domingo. A controvérsia foi suscitada por uma lei russa, aprovada em junho, que impede a promoção pública de "relações sexuais não tradicionais".
Em sinal de protesto, duas velocistas russas beijaram-se no pódio durante a cerimônia de entrega de medalhas. Antes, a estrela do atletismo Ielena Isinbaieva havia defendido a legislação --mas em seguida recuou, alegando ter se expressado mal em inglês.
Manifestações de atletas consagrados sobre o preconceito sexual são um sinal de que a hipocrisia começa a ser mais questionada também no esporte. A conhecida relutância dessa atividade em admitir a presença de homossexuais parece, aos poucos, ceder a pressões, em prol de relações mais francas e transparentes.
    EDITORIAIS
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    O tempo da ética
    Parece distante a perspectiva de que se instaure cultura empresarial anticorrupção como a defendida por executivo da Siemens
    Muito tempo haverá de passar, sem dúvida, até que se cumpram as recomendações do advogado americano Peter Solmssen, diretor mundial de "compliance" da Siemens, expressas em entrevista à Folha nesta terça-feira.
    Para o executivo, encarregado de zelar pelo controle ético das atividades da empresa, trata-se de impor uma mudança no comportamento dos funcionários, fortalecendo uma cultura anticorrupção.
    "Não aceite tentações, não aceite pressões, não seja fraco, só diga não": estes os preceitos a serem seguidos, afirma Solmssen, pelos empregados do grupo empresarial. A Siemens, conglomerado gigante nas áreas de transportes, comunicações, eletricidade e automação, tem cerca de 400 mil funcionários em todo o mundo.
    Em 2007, foi condenada a pagar US$ 1,3 bilhão em multas a órgãos dos EUA e da Europa, depois de um escândalo internacional de pagamento de propinas. Também os negócios da empresa no Brasil ganham o foco das suspeitas.
    Conforme revelou a Folha, a Siemens concordou em prestar esclarecimentos ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em troca de imunidade nas investigações. Admitiu, assim, sua participação num cartel entre concorrentes para a construção da linha 5 do metrô em São Paulo.
    A trama, pela qual as licitações eram acertadas previamente, remontaria ao ano de 2000, ainda no governo Mário Covas, estendendo-se nas administrações seguintes, encabeçadas por Geraldo Alckmin e José Serra, todos do PSDB.
    O potencial político dessas revelações não precisa ser enfatizado. Ainda às voltas com o caso do mensalão, setores do PT encontram nesse material bons motivos para revidar, contra o "establishment" do PSDB paulista, os ataques de que são alvo.
    Atento ao desgaste, o governador Alckmin já citou outros casos merecedores de suspeita, agora em contratos do governo federal. As compras de trens para Porto Alegre e Belo Horizonte foram feitas sem disputa. A menção parece confirmar as palavras do ex-secretário de Transportes da gestão Mário Covas, Claudio de Senna Frederico, que diz não se recordar de ter presenciado alguma licitação de fato competitiva no setor.
    Muitas perguntas --incluindo as relativas ao arquivamento de investigações anteriores-- ainda precisam de respostas. Inquéritos desse tipo, como se sabe, são complexos e estendem-se por anos a fio.
    Menos tempo, espera-se, do que o necessário para que se cumpra o ideal anunciado pelo diretor da Siemens. Por maiores que sejam as pressões e dispositivos de transparência à disposição, perde-se no futuro a perspectiva de que, entre fornecedores de obras públicas, a prática da propina venha a ser banida em definitivo.

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