sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Eduardo Almeida Reis-Leituras‏

O philosopho pergunta: se o jeito brasileiro é trepar na poltrona, por que entupir as arquibancadas de poltronas plásticas confortáveis? 


Eduardo Almeida Reis


Estado de Minas: 30/08/2013 

Pela qualidade do autor, um livro de Ruy Castro não pode ser considerado caro, mas a edição pode e deve ser mais caprichada. Morrer de Prazer – Crônicas da vida por um fio, uma seleção de 59 crônicas entre as mais de 900 publicadas num jornal paulista, é o tipo do livro que merecia letrinhas maiores ocupando as inúmeras páginas em branco, invenção de algum gênio da diagramação modernosa. Portanto, pelo mesmo preço e com o mesmo número de páginas, o texto do mineiro nascido em 1948 poderia ficar de leitura muito mais fácil e gostosa. Em 1988, antes de parar de beber ao cabo de um mês internado numa clínica, Ruy nos conta que, só em casa, entornava dois litros de vodca por dia, fora o que bebia na rua. É volume impressionante mesmo para os profissionais do copo que conheci e conheço. Felizmente para ele e para os que admiramos seu trabalho, nos últimos 25 anos nunca mais entornou uma gota de álcool.

Paraíso

Em 2011, o Brasil tinha 196,7 milhões de habitantes contra os 11,2 milhões de Cuba, o paraíso caribenho. Desconfio das pilhas da calculadora chinesa Sheng KA-9178A, que me custou R$ 9 há três anos, como também desconfio dos meus conhecimentos de matemática, mas a calculadora informa que a população brasileira, dividida pela cubana, dá 17.488. Efetivamente, multipliquei 17.488 pelos 11,2 milhões de moradores em Cuba em 2011 e a calculadora exibiu 196.699.99, número praticamente igual aos 196,7 milhões de habitantes do Brasil naquele ano. Muito bem: ano passado, fugiram do paraíso caribenho 46.662 pessoas, algo assim como se 811.918 pessoas fugissem do Brasil, mais que 11 Maracanãs lotados. Pois é: o estádio reformado virou referência com seus 70 mil lugares em cadeiras confortáveis para os espectadores assistirem aos jogos nelas trepados. “É o jeito brasileiro de assistir a um jogo”, disse o locutor da televisão.

E o philosopho pergunta: se o jeito brasileiro é trepar na poltrona, por que entupir as arquibancadas de poltronas plásticas confortáveis? Volto ao paraíso caribenho para constatar o óbvio: se 46.662 conseguiram fugir, o que não é fácil, pelo menos cinco vezes mais cubanos devem ter pensado ou tentado. Multiplicando por cinco o hipotético número de fugitivos brasileiros teríamos 4.059.590 só em 2012, mais que um Uruguai, que tinha 3,3 milhões de habitantes em 2011. Espero que as pilhas da calculadora chinesa tenham acertado. Só acho difícil que alguém, mesmo um daqueles gênios do Vale do Silício, consiga produzir máquina capaz de explicar a existência de brasileiros ainda entusiasmados com o regime e os governantes cubanos. Conheço uma porção deles, entre assumidos e enrustidos. O leitor também os conhece. Como explicar o fenômeno?

Conselho

Se um jovem me perguntar sobre o que deve fazer para subir na vida e manter-se no poleiro, ouvirá o seguinte conselho: seja solene. Ainda que burro, bandalho, cachaceiro e não muito honesto, nunca perca a solenidade. O Brasil baba para os sujeitos solenes e não é de hoje. Faz tempo que acompanho a carreira de um cavalheiro assim: sério, grave, circunspecto, passeia uma importância que nunca teve. Certa feita, há muitos e muitos anos, encontrou-me na estrada que levava à nossa fazendinha e perguntou: “Como é que você vive longe das livrarias?”. Educadíssimo que sempre fui, respondi: “Não preciso frequentar livrarias: escrevo os livros”. Nesse tempo andava pelo terceiro publicado e os livrinhos vendiam bem.
Não o tenho visto nos últimos 20 anos, a não ser nas matérias jornalísticas sobre a sua sólida carreira de homem público. Dia desses, jovem jornalista o entrevistou e me telefonou pelo interurbano: “Entrevistei longamente o doutor Fulano: é uma anta!”. Aí é que está: um tapirídeo bem vestido, bem-visto e solene. No fundo, não faz mal a ninguém e se dedica a fazer o bem para sua carreira e sua família. Deve ter netos. Desejo que sejam felizes.

O mundo é uma bola


30 de agosto de 257: sucedendo ao papa Estêvão I é eleito o papa Sisto II. Em 1464, sucedendo ao papa Pio II é eleito o papa Paulo II. Em 1875 ocorre o Motim das Mulheres na cidade de Mossoró, interior do Rio Grande do Norte. Até hoje as mossoroenses, também grafadas moçoroenses, têm todos os motivos para continuar amotinadas. Em 1893, Esther Cleveland, filha do presidente Grover Cleveland, é o primeiro e único bebê a nascer na Casa Branca. Em 1911, fundação do município de Passa Tempo (MG), desmembrado de Oliveira, que tem o Morro do Ferro dos Romanos. Passa Tempo é o berço do cavalo mangalarga marchador e teve o primeiro Observatório Ufológico da América Latina, iniciativa de Antônio Faleiro, o Niginho, estudioso de discos voadores. Em 1948, criação do Departamentul Securitãtii Statului, a polícia secreta da Romênia durante o estalinismo, que nunca foi de brincadeira. No regime Ceausescu chegou a ter 11 mil agentes e 500 mil informantes.

Ruminanças


“Quando não somos inteligíveis é porque não somos inteligentes” (Victor Hugo, 1802-1885). 

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