sábado, 21 de setembro de 2013

O jogo da esperança - Simone Lima

Ex-jogador do Cruzeiro e do Guarani de Divinópolis, Adilson Coca-Cola realiza sonho e abre escolinha de futebol para crianças carentes que estejam matriculadas na rede de ensino


Simone Lima

Estado de Minas: 21/09/2013 




"Mês passado conseguimos a doação de 30 chuteiras e são esses anjos da guarda que nos ajudam a levar o sonho adiante, porque são muitas as dificuldades" Adilson Lopes


Divinópolis – São 15h30 de uma quinta-feira muito quente: a temperatura chega quase aos 30 graus e, mesmo com o calor e o Sol sobre a cabeça, cinco meninos chegam ao campo de futebol do Bairro Manoel Valinhas, em Divinópolis, Centro-Oeste de Minas. Eles carregam uma bola de futebol e chuteiras. Pouco tempo depois, outras crianças se juntam ao grupo e, em alguns minutos, cerca de 40 meninos começam a treinar. Todos fazem parte do projeto Estrela de Minas, escolinha de futebol voltada para crianças carentes criada pelo ex-jogador do Cruzeiro Adilson Lopes, mais conhecido como Adilson Coca-Cola.

Aos 41 anos, Coca-Cola tem que administrar seu tempo. Além de dar atenção à família e cuidar do emprego, dirige o projeto. A escolinha ganhou vida há quatro anos quando ele e o amigo de infância Edson Ângelo decidiram criar uma ocupação para crianças carentes fora do horário escolar. “Uma coisa importante é que estamos sempre acompanhando o estudo dos meninos que jogam no Estrela de Minas. Eles precisam frequentar as aulas e ter boas notas. Quando não estão estudando, têm o campo para jogar. As aulas ocorrem três vezes na semana e organizamos pequenos campeonatos aos domingos”, afirma o ex-jogador.

Adilson diz que vê um pouco de sua história em cada criança do projeto. Ele conta que nasceu e cresceu no Alto São Vicente, um bairro carente de Divinópolis. Com cinco irmãos, não teve uma vida de luxo e precisou batalhar muito para ser reconhecido como jogador profissional. “Não chegamos a passar fome, mas era uma vida regrada. Não tinha chuteira, jogava com um sapato velho ou descalço. Por isso, hoje falo muito para os meninos darem muito valor porque, por mais que a escolinha seja simples, lutamos para melhorá-la. Conseguimos chuteiras, uniformes, material, tudo com esforço para garantir que eles tenham um espaço.”

A grande inspiração de Coca-Cola foi o pai, José Lopes, que no final da década de 1970 criou um time de futebol, também voltado para crianças carentes. Foi lá que Adilson deu os primeiros passos e treinou os primeiros dribles. “Fiquei até os 12 anos, quando fui para o Vasco de Divinópolis. De lá, passei por vários times. Até que, em 1991, fui contratado pelo Cruzeiro.”

Coca-Cola, que em 1991 venceu a Supercopa pelo Cruzeiro, guarda grandes recordações do time. Ele jogava na ponta esquerda e se emociona ao falar sobre aquela época. “Não ganhei dinheiro jogando futebol, mas ganhei visibilidade. Fiz amigos e muita gente na cidade me conhece graças ao futebol. Isso acabou ajudando minha vida, até mesmo no emprego”, afirma. Outro orgulho foi o título de campeão mineiro do Módulo II, em 1994, pelo Guarani. Na época, Adilson havia decidido voltar à cidade natal. “Ver o time de Divinópolis passar para a Primeira Divisão e participar de tudo foi importante na minha vida.”

Aos 26 anos Coca-Cola encerrou a carreira como jogador. Casou-se e começou a trabalhar como revendedor de purificadores de água. Mas o futebol continuou sendo a grande paixão do craque e foi numa conversa sobre o esporte que surgiu a ideia de montar o Estrela de Minas. O time já ganhou seis troféus em campeonatos da região, o mais importante em 2011, quando os meninos levantaram a taça da Copa Pará de Minas. “Esse foi o último troféu que ganhamos, porque também foi o último campeonato do qual participamos. Fica caro levar esses meninos para jogar e falta incentivo.”

Hoje, 80 crianças, entre 8 e 15 anos, participam do projeto. Nenhuma paga mensalidade. A maioria vem de áreas carentes e tem histórico familiar de violência: eles convivem de perto com o vício dos pais, abandono e agressão. É no campo do Estrela de Ouro que os garotos começam a enxergar uma vida diferente. No esporte eles fazem amigos e sonham em seguir os passos de Coca-Cola. “Nossa vontade é de fazer bem mais, incentivar mais. Não temos como, se não tivermos apoio. Mês passado conseguimos a doação de 30 chuteiras e são esses anjos da guarda que nos ajudam a levar o sonho adiante, porque são muitas as dificuldades.”

Adilson tem ainda dois grandes sonhos. O primeiro é abrir sua própria empresa de purificadores de água. O outro é conseguir dar vida ao projeto Minas, uma escola de futebol para jovens de 15 a 20 anos. “Nessa idade, quando eles começam a conhecer bebida e drogas, é que o projeto Estrela de Minas acaba e eles precisam sair. Por isso, queremos continuar esse trabalho. Tirar esses jovens das ruas e mantê-los dentro do campo. Mas para isso precisamos de ajuda. Estou em busca de parceiros e tenho fé que vamos conseguir. Vamos lutar para isso.”

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