sábado, 18 de janeiro de 2014

Itiberê Zwarg lança CD que segue as ideias estéticas e filosóficas de Hermeto Pascoal

Todo mundo junto 
 
Itiberê Zwarg lança CD que segue as ideias estéticas e filosóficas de Hermeto Pascoal. Trabalho é feito a partir de oficinas com músicos em diferentes estágios de formação 
 
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 18/01/2014


Itiberê Zwarg defende que a música precisa ser sempre lúdica:
Itiberê Zwarg defende que a música precisa ser sempre lúdica: "Ela é nosso trabalho e nosso playground"
 Os discos do instrumentista e compositor paulistano Itiberê Zwarg costumam ser das melhores oportunidades para ouvir a mais inclassificável música instrumental brasileira. Acessível, ainda que caracterizada por certa complexidade, e sempre imprevisível. No álbum Oficinas da música universal – Que nem o mundo (Delira Música), que acaba de lançar, o espírito é o mesmo. É o segundo trabalho realizado por meio de processo de composição, no mínimo, diferente.

“Essas composições são a cara de quem participa das oficinas, pois componho para o músico que toca o instrumento e não para o instrumento. Dessa forma, sempre priorizando o senso coletivo, componho de forma mais densa para os mais capacitados e de forma inversa para quem ainda não pode muito. Quem pode mais pega responsabilidades maiores e aprende a respeitar os processos dos iniciantes. E por meio dessa convivência os iniciantes aprendem a respeitar quem estão ouvindo ao vivo”, explica Zwarg.

O trabalho, iniciado há dois anos, é feito música por música, trecho por trecho. Os músicos participantes (cerca de 20) presenciam cada etapa do processo em encontros semanais na Escola Maracatu Brasil, no Rio de Janeiro. Além de escrever para vários instrumentos, o artista também compõe sem nenhum deles nas mãos. “Nesse caso, só utilizo a imaginação, que é uma das formas de compor em que você não se prende ao que sabe do instrumento que toca”, explica.

Como enquadrar A mulher do padre, faixa que abre o novo disco, num estilo musical tradicional, com tantas progressões e apitos e dando um tremendo trabalho ao baterista? O mesmo vale para Vinheta, cuja parte percussiva inicialmente remete ao Nordeste, impressão desfeita segundos depois pela melodia e harmonias que, tão logo a gente se acostuma a elas, terminam bruscamente num samba com um solo de vocalise pra lá de diferente. E essas são apenas as primeiras duas músicas.

“Minha música é universal e me enquadro onde a possibilidade de se conviver musicalmente sem preconceitos seja real. Os estilos comerciais de qualidade duvidosa não entram no meu mundo”, afirma Zwarg. Para ele, o título é um convite à livre apreciação da música: “O mundo é rico, tem estilos variados e nós não temos preconceito com culturas diversas. Apenas nos faltam a coragem e o desprendimento para tomar posse e largar as vaidades regionais”, afirma.

FILHOS MUSICAIS
A origem do projeto de viés plural está na música do multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal, com quem Itiberê toca há 37 anos. “Ele é o pai da ‘música universal’ e hoje ele mesmo diz que o grupo dele é a nave-mãe e seus filhos musicais se desprendem para incursões de missão, como parte da disseminação desse trabalho”, conta. As oficinas de Zwarg foram iniciadas em 1999 e, atualmente, são levadas para outros estados. Seu projeto de vida, revela, é levar essa música e sua filosofia para o mundo inteiro.

“São muitas as qualidades que vivenciamos nas oficinas, mas entre elas ponho em destaque a de escutar para fazer links auditivos e não visuais, como é mais comum de se encontrar por aí. As escolas, na sua maioria, ensinam como primeiro passo na música a leitura e a compreensão da parte a ser tocada. Digo que a música tem que ser lúdica até para os adultos, pois será o nosso playground para o resto da vida. Música é devoção e não obrigação. A música é um trabalho, mas não é como outro qualquer e, como todas as artes, tem propostas diversas das dos outros tipos de trabalho”, completa.

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