domingo, 11 de novembro de 2012

Marcos Coimbra - Lições americanas‏

As elites brasileiras não acreditam no povo e em sua capacidade de discernir. Daí que inventaram e mantêm instituições para protegê-lo
 

Estado de Minas: 11/11/2012 
São tão diferentes os sistemas políticos de Brasil e Estados Unidos que é difícil comparar suas eleições com as nossas. 

Ainda assim, muito do que acontece por lá pode ser útil para compreender os problemas que temos aqui. Pode nos ajudar a perceber em que dimensões é possível aprimorar nossa democracia. 

Duas diferenças entre as culturas dos dois países ficaram particularmente visíveis no processo que levou à reeleição de Obama. 

A pluralidade
Tirando o bipartidarismo de fato, tudo, na vida política norte-americana, tende a ser muito. Tudo é múltiplo, variado, heterogêneo. 

O que é bom.

Aqui, temos um multipartidarismo exagerado, com 30 partidos registrados e 28 com algum tipo de representação legislativa. Fora isso, tudo é pouco e limitado. 

O que é mau. 

Lá, cada estado tem suas regras eleitorais. Em alguns, aproveita-se a eleição para fazer plebiscitos e referendos. Em uns, o voto é de um jeito. Em outros, de outro. 

Não existe uma rede de televisão que monopoliza a audiência. São dezenas os jornais relevantes. São várias as grandes empresas de comunicação, o que as torna mais competitivas e oferece escolha efetiva ao público. 

Existem muitas empresas de pesquisa e são inúmeras as pesquisas publicadas. Não têm só um grande comprador e só um grande fornecedor. 

No Brasil, o figurino institucional é imposto centralmente e a indústria de comunicação é oligopolizada. Estamos na idade da pedra em matéria de divulgação de pesquisas. 

A autonomia
A cultura política norte-americana é liberal e autonomista. Baseia-se no princípio da liberdade individual e no direito à livre escolha. 

Vota quem quer, do modo que quiser. Se preferir, vota antes dos outros ou pelo correio. Qualquer cidadão pode se inscrever candidato a presidente (este ano, foram 417).

Para um americano, não faria sentido que recursos públicos fossem utilizados para ensiná-lo a votar. Uma campanha caríssima de “Vote limpo!”, por exemplo, seria considerada ridícula. 

Aqui, temos um liberalismo de fachada, usado na hora de defender privilégios e preconceitos. Mas uma cultura política fortemente baseada na noção de tutela. 

As elites brasileiras não acreditam no povo e em sua capacidade de discernir. Daí que inventaram e mantêm instituições para “protegê-lo”. 

Não pode isso, não pode aquilo. Campanha, só depois da hora marcada. 

Criamos até um braço especializado do Judiciário para “tomar conta” das eleições. 

O grande problema de nossa cultura é que os monopólios e o paternalismo são faces da mesma moeda. É muito difícil enfrentar um sem cuidar do outro. 

O certo é que, se não os resolvermos, ficaremos sempre aquém do que podemos ser como democracia.

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