sábado, 10 de novembro de 2012

O prefeito e o prometido - Zuenir Ventura


O Globo 10/11/2012 

Com o apoio da maioria dos vereadores e do alto de seus mais de 2 milhões de votos, o prefeito reeleito pode tudo, até descumprir promessas de campanha. Ainda é cedo para cobrar o cumprimento de todas, mas já se pode discutir o descumprimento de algumas, como o caso dos transportes e do IPTU. Não me lembro se ele prometeu não aumentar os ônibus, mas duvido que tenha anunciado que haveria outro reajuste de 10% em 2013, elevando para R$ 3,02 as passagens, que serão então as mais altas da região, incluindo SP. Não consigo imaginá-lo num comício anunciando: “E vou aumentar as passagens de ônibus!” No caso do IPTU, ele sempre poderá dizer que foi ambíguo, que não garantiu nada. Quando lhe perguntaram em uma entrevista o que faria, ele desconversou e respondeu que iria “olhar a questão”, acrescentando: “O que não resultará necessariamente em aumento.”

A vereadora Andréa Gouvêa Vieira, no entanto, considera a atitude do prefeito “politicamente vergonhosa do ponto de vista ético”. Segundo ela, “ele disse várias vezes na campanha eleitoral que não mexeria no imposto. Quando, depois da eleição, retirou este item da sua lista das promessas, mentiu de novo, dizendo que o assunto ainda estava em estudo. A proposta está pronta há muito tempo, tanto é que o projeto de lei está chegando à Câmara Municipal”. Na verdade, depois de uma reunião com 27 vereadores na segunda-feira e diante da reação da sociedade, o prefeito mudou de ideia: “A gente queria aprovar para o ano que vem, mas não há tempo pra isso. Essa é uma discussão que a gente vai ter o ano que vem inteiro.”

Vai ter, sim, porque uma das queixas mais ouvidas foi a falta de transparência nos critérios a serem adotados. Admite-se a necessidade de correção de valores, que estão defasados, pois a tabela de cobrança é de 1997, que previa inclusive abatimentos para imóveis em áreas de risco, junto a favelas agora pacificadas. Também não é justo que cerca de 700 mil paguem o seu imposto e mais de um milhão estejam isentos. Portanto, uma atualização seria razoável. Mas e a contrapartida? O que o contribuinte receberá em troca? “Só ando a pé e quase caio com os buracos nas calçadas e os desníveis”, reclamou um aposentado do Alto Leblon, repetindo uma queixa de moradores de vários bairros. “É tão absurdo que nem acredito que será mesmo apresentado”, reagiu o ex-prefeito Cesar Maia, agora na cômoda posição de vereador oposicionista.

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