sábado, 29 de dezembro de 2012

André Singer

FOLHA DE SÃO PAULO

Momento de decisão
Os industriais que produzem no Brasil terão papel chave em 2013. Como deles depende a dinamização da economia, se atenderem ao desejo nem tão secreto da oposição, mantendo as carteiras fechadas, poderão criar problemas para o lulismo. Não por acaso, um cérebro tucano escreveu há poucos dias: "Quem sabe se, com os 'pibinhos' se repetindo e a inflação continuando, o país não resolve mudar de rumos nas eleições de 2014?"
Mas se os empresários optarem por acolher o pedido natalino da presidente -"acreditem e invistam no nosso país"- pode-se abrir um ciclo parecido com o de 2004-2008, o que, evidentemente, favorecerá o candidato governista, quem quer que seja. Por isso, embora a perspectiva de lucro seja o fator principal na definição capitalista, também aspectos políticos se perfilam.
Das opções viáveis em meio à já longa crise mundial, agravada em agosto de 2011, Dilma tomou todas pensando em ganhar a confiança e o apreço do setor manufatureiro. O Executivo, no primeiro biênio, voltou-se, quase com exclusividade, para garantir condições favoráveis à atividade fabril. A dramática redução (40%) da Selic e a briga com os bancos para obter a diminuição dos gigantescos "spreads", encabeçam o rol de medidas.
Houve, entretanto, bem mais. A depreciação cambial de 30% (de setembro de 2011 a setembro de 2012), entre outras tantas resoluções protecionistas, a diminuição da carga tributária, a concessão de créditos subsidiados pelo BNDES, a privatização de enormes áreas de infraestrutura, lista à qual se somará logo mais a diminuição do custo da energia elétrica, constitui um verdadeiro programa de classe (erra quem não enxerga método na sucessão de pacotes).
Para cumpri-lo, o governo comprou brigas à direita e à esquerda. A conversa sobre o intervencionismo dilmista, que estaria causando desconfiança nos investidores, é, em boa parte, a resposta de circuitos financeiros à pressão a que foram submetidos nos últimos meses. Já os trabalhadores organizados queixam-se de não ver avançar o fim do fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho, a reforma agrária, enquanto as empresas são desoneradas de pagar o INSS correspondente ao número de assalariados e pressionam por mais flexibilização da CLT.
A julgar pelas últimas reações dos descontentes, as concessões governamentais chegaram ao limite (até porque a inflação impede, por hora, maior elasticidade). Enquanto, pela voz da "Economist", financistas pedem a demissão de Mantega, centrais sindicais anunciam para março "ampla mobilização nacional".
Em resumo, o roteiro possível parece completado e agora os capitães da indústria precisarão fazer as suas apostas.

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