sábado, 29 de dezembro de 2012

"Estação Infinita e Outras Estações" traz a obra de Ruy Espinheira Filho

FOLHA DE SÃO PAULO

Metafísico e bucólico, poeta baiano ganha nova antologia
O destaque do volume é "Heléboro", livro de estreia do autor que havia sido editada por uma pequena gráfica
MARCIO AQUILESDE SÃO PAULOEm 1974, sob os cuidados do poeta Antônio Brasileiro, uma edição de 500 exemplares de "Heléboro", primeiro livro individual de Ruy Espinheira Filho, saía de uma pequena gráfica de Feira de Santana em páginas grampeadas, numa edição modesta.
A obra de estreia de Espinheira é a grande pérola literária de "Estação Infinita e Outras Estações", volume com a poesia reunida do autor que Bertrand Brasil lança agora.
Com escritos de 1966 a 1973, "Heléboro" traz procedimentos poéticos sofisticados, com neologismos e temáticas que partem de lugares-comuns e desembocam em preocupações metafísicas elevadas.
"Julgado do Vento", sua obra seguinte, muda o rumo de sua poesia, que passa a ser permeada de elementos bucólicos e assuntos sentimentais.
A virtude da reunião é dispor cronologicamente essas transformações recorrentes na produção de Espinheira, que alterna esses dois registros: por vezes predomina a poesia idealista, composta de mitologias e temas transcendentais, em outras o hedonismo campestre e romântico.
O poeta diz que sua meta é atingir o ideário que une vida e obra como unidade indissociável. "Escrevo com a vida, sem qualquer projeto estético ou filosófico predeterminado. Tento escrever o que vou vivendo. A trajetória de minha poesia é simplesmente a trajetória da minha existência", afirma Espinheira.
Sobre suas influências, o poeta destaca o diálogo de seus escritos com o cânone literário.
"Minha poesia nasce da tradição e nela se inclui. Modernamente, está ligada a certas vertentes surgidas nos primeiros anos do século passado. Não fiz uma escolha intelectual, mas me reconheci quase de imediato nas vozes de Manuel Bandeira e Mário de Andrade", comenta.
Em relação ao seu método de escrita, Espinheira diz ora trabalhar com a espontaneidade da inspiração imediata, ora diante da reescrita.
"Não sei exatamente como escrevo, o que significa que para mim a criação é algo obscuro, destituído de planejamento. Às vezes o poema vem pronto, outras vezes aos pedaços, sem qualquer ordem, e em certos casos exige um longo tempo de burilamento", conta.
PREMIAÇÕES E ABL
Também autor de prosa, ensaios literários e livros infantis, Espinheira foi por diversas vezes finalista do Prêmio Jabuti -levou o segundo lugar na categoria poesia em 2006, com "Elegia de Agosto e Outros Poemas".
Esta obra angariou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, o que suscita com frequência a pergunta sobre uma possível candidatura do poeta baiano.
"Muita gente me pergunta sobre a ABL. Não teria nem como fazer a campanha, já que moro longe [em Salvador]. Ser nordestino que vive no Nordeste é uma condição que pesa muito, embora eu acabe sendo uma espécie de milagre, já que consegui ganhar alguns dos principais prêmios literários do país e ser editado pelas mais importantes editoras", conclui.
ESTAÇÃO INFINITA
AUTOR Ruy Espinheira Filho
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 59 (588 págs.)

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