terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Carlos Heitor Cony

Folha de São Paulo

Madame de Pompadour
RIO DE JANEIRO - A classe política e a mídia, como um todo, receiam dar nomes aos bois. A Operação Porto Seguro revelou, entre outras coisas, o grau de intimidade entre o ex-futuro presidente Lula e uma funcionária que dirigia importante órgão da Presidência da República. Tão logo o caso veio a público, lembrei uma passagem do Evangelho de Mateus, capítulo 26, versículo 41: "Spiritus promptus est, caro autem infirma".
Sob muitos ou todos os aspectos, Lula é o espírito do Partido dos Trabalhadores e da cúpula do poder nos últimos dez anos. Ele rege e guia o partido, que surgiu como a salvação da lavoura pátria. E, diga-se a bem da verdade, pessoalmente, Lula sempre esteve "pronto", ou seja, vigilante, e assim conquistou por mérito próprio um lugar privilegiado na história republicana do Brasil.
Mas se o espírito está pronto, a carne é fraca para todos nós, tenhamos ou não espaço na trajetória nacional. São muitos os episódios em que a fraqueza da carne se revela mais cedo ou mais tarde, bagunçando a própria história. Um dos fatos mais conhecidos não se deu numa república. Luís 15 ("Depois de mim, o dilúvio"), símbolo do poder absoluto, foi advertido pelo capelão que servia a corte, citando a frase do Evangelho de Mateus.
A carne fraca, no caso, se referia a madame de Pompadour, que, por sinal, tinha um anexo na Du Barry. Não foi nada, não foi nada, ambas entraram no borbulhante caldeirão que, junto aos enciclopedistas e outros fatores mais graves, produziriam a queda da monarquia e a ida de seu neto, Luís 16, para a guilhotina. Uma borboleta bate as asas na Tailândia e um furacão quase destrói Nova York.
A Operação Porto Seguro ainda é uma nebulosa. Aliás, os tempos que o PT atravessa são nebulosos, embora o espírito de Lula continue pronto.

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