quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Não é bonito dizer isso, mas assassinar muitas pessoas é uma questão de tática


ANÁLISE
RICARDO BONALUME NETO
FOLHA DE SÃO PAULOMatar alguém com uma arma de fogo é fácil. Matar várias pessoas dá mais trabalho. É uma questão de tática e de tecnologia.
O alvo está parado ou é móvel? Está em um lugar fechado ou ao ar livre? E que arma ou armas usar?
Ironicamente, a legislação americana pode ter facilitado o trabalho do atirador. Não são vendidos fuzis automáticos nos EUA, mas uma versão semiautomática está disponível.
Nas arma semiautomáticas, é preciso apertar o gatilho todas as vezes em que se atira.
No caso da automática, o sujeito aperta uma vez e toda a munição vai embora.
Ou seja, dependendo do alvo, uma pode ser melhor que a outra. Uma arma automática gasta mais munição e, disparando uma rajada, tem menos precisão.
A arma semiautomática pode servir para alvos mais precisos, um tiro de cada vez. Como crianças indefesas.
Claro, o atirador pode também se preparar com munição adicional e o método de reabastecer a arma, como aconteceu em caso recente no Brasil.
A arma usada nos EUA no massacre de Connecticut na semana passada é conhecida como Bushmaster calibre 0,223 polegada ou 5,56 milímetros, da mesma família de armas do clássico fuzil M-16, usado pelos americanos na guerra do Vietnã e ainda empregado por muitas forças armadas.
Esse tipo de arma é historicamente conhecida como "fuzil de assalto", classificação meio obsoleta, que tem a ver com o desenvolvimento dos primeiros fuzis automáticos de assalto ("Sturmgewehr") na Segunda Guerra pelos alemães.
Havia então armas tradicionais como os fuzis -de ferrolho, semiautomáticos, ou automáticos- e submetralhadoras.
O fuzil tinha maior potência e alcance; a "sub" tinha a capacidade de atirar em rajadas, mas com munição menos potente.
O "fuzil de assalto" era um híbrido, com um cartucho de calibre intermediário, com menor alcance que um fuzil tradicional, mas com a capacidade de disparar rajadas.
Virou moda e é a arma básica de todos os exércitos hoje, como o clássico fuzil de assalto russo AK-47, calibre 7,62 mm.
O M-16 emprega um cartucho de menor calibre que a AK-47, mas tem um bom "poder de parada" do alvo -isto é, faz a vítima recuar ao ser atingida, graças ao efeito de choque produzido por sua alta velocidade.
E o calibre 5,56 mm tem a vantagem de permitir aos soldados -ou assassinos- carregarem mais munição.
Não é bonito dizer isso, mas matar pessoas é uma questão de tática.
Quantas? Onde estão? Elas têm como escapar? Que arma usar? É assim que pensam os assassinos.

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