quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Rogerio Gentile


Grampolândia
FOLHA de SÃO PAULO - O governador Alckmin deveria prestar mais atenção ao que diz o orador Alckmin. Como é comum na política, o comportamento do primeiro não está em exata sintonia com a pregação do segundo.
Na semana passada, ao receber um prêmio, o tucano fez uma defesa enfática da transparência no serviço público. "A sociedade tem o direito de saber o que é feito, como é feito, quando é feito", afirmou.
Três dias depois, no entanto, foi possível perceber que a prática não é bem essa em sua administração. Sem grandes explicações, o governo paulista começou a desmontar uma central de escutas instalada, desde 2006, num prédio da Polícia Militar no interior de São Paulo com o objetivo original de investigar o crime organizado.
O problema é que pairam muitas desconfianças sobre a tal central de escutas. Suspeita-se que, além de criminosos, delegados, políticos e até mesmo jornalistas foram espionados pelo órgão sem a devida autorização legal. Em 2012, ao menos 81,8 mil grampos foram feitos no Estado.
Tempos atrás, o deputado estadual Campos Machado (PTB), aliado do governador, externou o assunto na Assembleia, criticando o então secretário da Segurança Pública, Ferreira Pinto: "Todos ficaram receosos, senhor secretário, receosos do seu poder. Ou alguém tem alguma dúvida sobre o grampeamento que existe em todo o Estado?".
Questionado sobre o desmonte da central de escutas e as suspeitas de espionagem, o governo Alckmin limitou-se a lavar as mãos, dizendo que o órgão é de responsabilidade do Ministério Público, que, por sua vez, nega ter relação com o assunto.
Ou seja, além de não investigar eventuais crimes cometidos ali, o governo simplesmente afirma não ter nada a ver com a central, que operava num prédio da PM, era formada por policiais e coordenada por um coronel da reserva. Como diria o orador Alckmin: "A sociedade tem o direito de saber o que é feito, como é feito, quando é feito".

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