sábado, 8 de dezembro de 2012

Que saudade, doutor - Xico Sá


Que saudade, doutor
Mil desculpas, velho camarada, mas nada mudou, embora o Romário insista em CPI para a CBF
Amigo torcedor, amigo secador, nesta semana fez um ano que o doutor Sócrates partiu. Não careço de efeméride alguma para celebrar, todo dia, toda noite, a memória do velho camarada. O momento, porém, tingido em branco e preto, é especial e comoveria o Magrão.
É, doutor, o bando de loucos, como você bem conhece, invadiu o Japão. Como na música do Gil, meu velho, teve corintiano que viajou até no cargueiro do Lloyd lavando o porão. Se oriente, rapaz, a festa começou em Cumbica e talvez não pare nem mesmo com o anunciado apocalipse que se aproxima.
Outra coincidência da semana, Magrones, é que o teu chapa Oscar Niemeyer também se foi. O último dos bravos comunistas, sempre motivo dos teus brindes, está chegando aí. Sei que vais tirar onda e dizer que estou sempre dando notícias velhas, que estou mais enferrujado do que minha última Remington.
Ah, Magrão, não zoa, mas realmente nada mudou muito depois que partiste. Aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock'n'roll, mas nada de novo debaixo do sol dos homens, meu camarada, como diriam o Eclesiastes e o teu amigo Chico.
Sabe quem saiu da CBF, Magrão? Acredite: o Ricardo Teixeira, teu ídolo (rs) para não dizer o contrário. O bom é quem entrou: o José Maria Marin, doutor, pode crer. Aquele mesmo cupincha da ditadura.
Mil desculpas, velho camarada, mas nada mudou neste último ano, embora o deputado Romário (PSB-RJ) insista em uma CPI para investigar os podres da CBF. O Juca, porém, continua cutucando os homens com sua caneta afiada, não para. O prezado amigo Afonsinho, aquele bom papo de sempre, agora escreve no espaço que ocupaste na "Carta Capital", tem repetido a categoria dos tempos de Botafogo.
Não zoa, notícia velha um cacete. Agora vou te contar uma nova. O Mano caiu, no momento mais errado do mundo -se é que tem tempo certo para queda- e o Felipão assumiu o comando da canarinha.
Foi mal, Magrão, esta bola tu cantaste há séculos. Essa, porém, é novíssima: os estádios para a Copa do Mundo estão em um atraso miserável (rs). Mais uma: a Fifa tende a proibir a venda de acarajé nos arredores da Fonte Nova durante o Mundial de 2014. Sério, Magrones, essa é braba, confesse.
Sabes quem está na bancada do nosso "Cartão Verde", doutor? O Rivelino, com um bigode de deixar teu ídolo Nietzsche com inveja, e o boa-praça Celso Unzelte, este sim um jornalista competente. Pasme, Magrão, o Vitor Birner aderiu ao futebol-arte. Um poeta. O velho Mussa, como chamavas carinhosamente o Vladir Lemos, continua o mais civilizado dos mediadores.
Fazes muita falta, doutor, e sempre cantamos para ti aquela seresta do Sérgio Bittencourt: "Naquela mesa tá faltando ele / e a saudade dele está doendo em mim". in Folha de São Paulo

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