domingo, 9 de dezembro de 2012

Tem uai no baião - Eduardo Tristão Girão‏

Antes de conquistar o Brasil com sua música, Luiz Gonzaga viveu em Minas Gerais por sete anos. Em Belo Horizonte, Juiz de Fora e Ouro Fino, ainda nos anos 1930, o sanfoneiro aprimorou sua arte 

Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 09/12/2012 
Além Paraíba, Juiz de Fora e Ouro Fino – Entre 1932 e 1939, Luiz Gonzaga morou em Minas Gerais. Foram quatro meses em Belo Horizonte, cinco anos em Juiz de Fora e, por fim, dois anos em Ouro Fino. Quando chegou à capital mineira, aos 20 anos, o pernambucano estava longe de ser o Rei do Baião. Decidido a seguir carreira no Exército, veio completar o contingente do 12º Regimento de Infantaria, que se esfacelou por ter resistido à Revolução de 1930. Nas duas últimas cidades mineiras, ainda como militar, fez amigos, aprimorou o toque da sanfona e saiu pronto para se tornar o grande artista que foi, deixando saudades e, claro, muitas histórias para trás.

Nem todo mundo sabe dessa sua temporada mineira, nem mesmo alguns dos pouco mais de 30 mil habitantes de Ouro Fino, onde, aparentemente, todo mundo tem um caso para contar sobre a passagem do sanfoneiro por ali. Pela oportunidade do centenário de seu nascimento, que será comemorado quinta-feira, o Estado de Minas visitou as duas cidades do interior do estado para descobrir como Minas Gerais influenciou a formação de Luiz Gonzaga e, em Além Paraíba, na divisa com o Rio de Janeiro, encontrou o mineiro Romeu Rainho, que foi empresário do sanfoneiro por uma década e o conheceu intimamente.

“Em Juiz de Fora eu estava folgado, era o mais antigo do grupo. Comecei a fazer minhas farrinhas. Foi aí que conheci Santo Lima e Domingos Ambrósio, fazendo bonitas serenatas. Gostava de acompanhar os dois. Saíamos pela rua e tinha aquelas caboclas diferentes, vindas de toda parte do interior do estado. Foi quando peguei um acordeom pela primeira vez, das mãos do saudoso Domingos. Foi assim que fui ficando por aqui”, contou Luiz Gonzaga, em depoimento prestado a Santo e Romeu quando passou por Juiz de Fora em 19 de setembro de 1980, preservado em fita de gravador de rolo pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage.

“Santo Lima, cantor do cavaquinho, desinibido. Tinha uma inveja danada dele. Ele sabia cantar bem e eu não sabia. Mas ele me encorajou, juntamente com Domingos Ambrósio”, relembrou o artista na mesma gravação. Luiz Gonzaga já tocava sanfona de oito baixos antes de deixar o Nordeste e, por causa do serviço militar, teve de aprender a dominar também a corneta, instrumento que auxilia o comandante a transmitir ordens à tropa. “Estava dando uma de galo, fazendo da corneta pistom. Queria ser artista e danei a florear na corneta, mas me dei mal e fui em cana porque toquei bem demais”, completou.

O artista afirma que Juiz de Fora foi a cidade que mais marcou sua vida depois de deixar o Nordeste. Saiu de lá em 1937 para continuar como militar, já conhecido como “Bico de Aço” pela habilidade na corneta. “Eu já estava doido para pegar outro caminho. Minha vida sempre foi andar, meu destino era andar. Me perguntaram se eu queria entrar na formação de uma companhia que iria para Ouro Fino e eu disse: ‘Vou demais’.” Lá fez amigos, teve novos mestres musicais e, dizem, arranjou outros amores. No palco do Éden Club, centenário clube que existe até hoje, fez seu primeiro show.

Tudo isso com o acordeom que comprou de Carlos Alemão, amigo de Domingos, que foi seu primeiro professor do instrumento. Não era um primor de fole, mas foi com ele que aprendeu e desenvolveu a técnica musical, lhe permitindo extrapolar a rotina militar em serestas, bailes, bares e rodinhas de músicos pelo interior mineiro. Começava a aprender o que era ser artista e, por causa disso, quis comprar uma sanfona melhor. Escolheu uma no catálogo de um caixeiro-viajante e começou a pagá-la à prestação para buscar em São Paulo. Era golpe, mas, por pura sorte, comprou outra igual. E foi ganhar o Brasil.

Toque mineiro da sanfona de Lua 
No ano do centenário de Luiz Gonzaga, sua memória permanece viva para mineiros que conviveram com ele nos anos 1930. Em Juiz de Fora e Ouro Fino, o compositor foi corneteiro do Exército, tocou em bailes e animou aulas de ginástica com seu acordeom
 
Eduardo Tristão Girão
Muito se fala de Juiz de Fora quando o assunto é a passagem de Luiz Gonzaga por Minas Gerais. De fato, foi lá onde ele morou por mais tempo, mas Ouro Fino se revela um verdadeiro arquivo vivo de histórias do artista. Não faltam pessoas que conviveram com ele e guardam lembranças que permanecem sem registro. Entre a filha de um ex-professor de acordeom e a senhora que lavou as roupas do Rei do Baião, há até quem tenha feito aula de ginástica ao som de sua sanfona.

“Luiz Gonzaga saiu de Exu (PE) adolescente, pobre e sem informação. Chegou a Ouro Fino como militar e corneteiro e saiu daqui como sanfoneiro, artista e homem. Foi um rito de passagem”, teoriza o artista plástico ouro-finense Maneco de Gusmão, de 60 anos. Ele é afilhado de José Rivelli, o Rivelinho, com quem o pernambucano continuou a aprender música e costumava tocar pela cidade. “Meu padrinho me mostrava discos e contava histórias dele na cidade. Fiquei com isso na cabeça”, conta.

A curiosidade em torno desse período da vida do sanfoneiro motivou pesquisa que incluiu conversas com moradores da cidade e culminou com a idealização de um curta-metragem chamado Luiz Gonzaga – Um nordestino em Ouro Fino. História para o enredo é o que não falta: entre os temas disponíveis estão letra de música que teria sido escrita por Luiz Gonzaga para o carnaval de Ouro Fino (lembrada pelo ex-prefeito Sebastião Favilla) e um filho que o artista teria deixado na cidade (sua viúva ainda está viva).

Se for para documentar, que seja logo, pois muitas testemunhas dessa história já morreram, outras passaram dos 90 anos e alguns dos locais onde o artista viveu já estão descaracterizados. A casa onde morou, por exemplo, continua com duas palmeiras na frente, mas hoje abriga a malharia Marina Morena. Já a barbearia de Aldo Zerbinatti, ponto de encontro de Luiz Gonzaga e outros músicos de destaque na cidade, atualmente está dividida entre as lojas Mundo Mágico das Fraldas e Chic Bella Modas.

Orley Zerbinatti, 79 anos, é sobrinho de Aldo e conta como eram esses encontros: “Todo sábado à tarde, a turma se reunia na porta da barbearia. Meu tio gostava muito de música e foi o fundador da Lira Ourofinense. Passavam por lá o saxofonista Rivelinho, o violinista João Bellini Burza, o cavaquinista Arthur Leal e o acordeonista José Mainardi, além do Gonzaga, que tocava sanfona”. O pai dele, Orlando, foi diretor do Clube União Operária Beneficente e organizou baile cuja renda ajudou Gonzaga a comprar outra sanfona.

Vizinha da antiga barbearia, Helena Ferrentino, de 90 anos, ainda gosta de sentar-se na calçada ali por perto nos fins de tarde. Ela se lembra exatamente do dia em que sua professora trouxe Luiz Gonzaga para tocar acordeom durante a aula de ginástica na Escola Estadual Francisco Ribeiro da Fonseca. “Ele tocava admiravelmente bem e todos gostavam. Era muito amável e gentil”, afirma. Se a trilha sonora foi forró? “Não havia nada disso por aqui. Eram valsas, músicas lentas e suaves”, responde ela.

Iniciação 

Quem certamente ajudou Luiz Gonzaga a dominar esse variado leque de gêneros musicais foi José Mainardi, acordeonista mais conhecido da cidade, que deu aulas do instrumento para o pernambucano e se tornou amigo dele. “Eu falava que meu pai tocava igual ao Rei do Baião, mas minha mãe dizia que era o contrário”, lembra Maria Lúcia Mainardi, 65 anos, filha dele. José era técnico de rádio, consertava e tocava piano e tinha conjunto com o qual se apresentava no Éden Club, onde o então aspirante a artista fez seu primeiro show. Grupos ainda se apresentam no clube, hoje com palco aumentado e equipado com camarins.

Rivelinho foi outro mestre de Luiz Gonzaga, como lembra Plínio Miranda, de 77 anos, ex-redator da Gazeta de Ouro Fino. “Foi Rivelinho que o apresentou a uma senhora que era acordeonista e com quem teve aulas. Depois é que encontrou Mainardi. Rivelinho era gênio e o influenciou muito, tanto que quando voltou a Ouro Fino para fazer shows, nos anos 1960, chamou o amigo ao palco, se referindo a ele como ‘a pessoa com quem iniciei na arte da música’. Luiz Gonzaga se transformou em músico aqui”, defende.

Foi Plínio o autor do artigo “Luiz Gonzaga e Ouro Fino”, publicado na Gazeta de Ouro Fino para comunicar a morte do artista, em 1989. Boa parte do material que usou para escrevê-lo recebeu das mãos de Leyde Moraes Guimarães, professora aposentada de 91 anos, que guarda a coleção inteira (e intacta) do centenário periódico ouro-finense. Ela não chegou a ouvir Luiz Gonzaga tocar sanfona (mal se lembra de vê-lo soprando a corneta em desfiles militares), mas para realizar a pesquisa conversou com muita gente e, obviamente, debruçou-se sobre seus jornais. “Aqui ele se desenvolveu como sanfoneiro”, confirma ela. 

Saudade 

Zoraide Bolognani, 93 anos, garante que, embora ainda não fosse artista, Luiz Gonzaga deixou saudades em Ouro Fino, pois já havia conquistado amizade de muitas pessoas da sociedade local. “Ele era muito falante, gostava de contar piada e de dar risada. Era bonito e tinha o rosto cheio e o cabelo bem crespo. Como era amigo do meu pai, contava para ele que as moças não davam sossego”, diz ela, que lavava e engomava as roupas dele.

“As fardas eram lavadas no quartel, mas eu é que lavava as outras roupas, incluindo as camisas que ele usava para ir à missa e tocar nos bailes. Não havia máquina de lavar e fazia tudo à mão, engomando com aquela goma bem ralinha, com polvilho. Ele andava tão bonito e bem arrumado que parecia ser de família rica”, lembra ela.

Luiz Gonzaga deve mesmo ter levado boas lembranças de Ouro Fino. Nos anos 1980, quando foi tocar em Paranavaí (PR), soube que uma ouro-finense morava na cidade. Era Therezinha Simões Benassi, hoje com 78 anos e de volta à cidade natal, a quem o compositor fez questão de visitar. “Ele foi até minha casa e me disse que em Ouro Fino deslanchou na sanfona, lembrando de Rivelinho, Mainardi e Cadan”, conta ela.

Mulherengo com simpatia de sobra 

Só agora, aos 83 anos, a memória de Romeu Rainho parece estar começando a falhar, mas sua capacidade de relembrar pessoas, episódios e slogans de patrocinadores ainda impressiona. Esse mineiro de Juiz de Fora – com “espírito de 18 anos”, como gosta de ressaltar – acompanhou diariamente Luiz Gonzaga como seu empresário durante quase uma década, entre os anos 1950 e 1960. Dono de voz ainda hoje muito bonita, fez carreira no rádio e foi numa emissora que conheceu o Rei do Baião.

“O porteiro da Rádio Barbacena, onde eu trabalhava, anunciou um homem me procurando. Era o Luiz Gonzaga e ele disse que minha voz era boa. O auditório da rádio começou a ficar cheio de gente achando que ele iria cantar. Perguntamos quanto ele cobrava para se apresentar e ele disse que não cobrava nada. No ar, ele disse que iria para a praça tocar e que o ingresso era uma caixa vazia de colírio Moura Brasil”, lembra Romeu, que hoje mora em Além Paraíba (MG), na divisa com o Rio de Janeiro.

O ano era 1952 e o laboratório patrocinava a carreira de Luiz Gonzaga, possibilitando que ele se apresentasse cada dia numa cidade diferente. A jogada comercial do sanfoneiro funcionou tão bem que, conta-se, até hoje há quem tenha frascos de colírio intactos em casa. Se Romeu teve problema ou ficou chateado por causa disso, não conta, mas fato é que, na mesma noite, foi convidado para empresariar o sanfoneiro. No dia seguinte, já estavam em Conselheiro Lafaiete para o próximo show: foram 500 Brasil afora, impulsionados por essa e outras marcas, como Martini Bianco, Urodonal e Laboratórios Raul Leite.

“Luiz Gonzaga precisava de um empresário que não o roubasse. Passou muito dinheiro dele pela minha mão. Não fraquejo. Meu cargo era de confiança e ele confiava em mim. Nunca brigamos. Aceitei a proposta para ganhar 10 vezes mais do que na rádio. Melhorei muito de vida nessa época”, lembra. Segundo Romeu, a frequência de apresentações, diárias no auge, diminuiu muito com o surgimento da bossa nova, “que entrou esmagando tudo”. Foi quando deixou de empresariá-lo. “Ele já tinha muito dinheiro e não se preocupou tanto”, revela.

Abraço 

“Ele foi um grande ser humano, verdadeiro cristão. Sabia como lidar com os menos afortunados. Gostava de ajudar e comprava alimentos para os outros. Para ele, todo mundo era igual. Depois que eu pagava o hotel, ele gostava de ir abraçar as cozinheiras. A simplicidade dele o ajudava muito. Cantava com o coração e era muito sentimental e intuitivo”, resume o ex-empresário.

“Ele era só um pouco mulherengo, mas na medida certa. Podia escolher com quem queria se deitar. Que mulher não ia querer se deitar com o Rei do Baião? Com que outro rei elas poderiam se deitar?”, questiona Romeu. “Ele ganhava muitos presentes, principalmente coisas de comer, como manteiga de garrafa. Garrafa de cachaça também, que ele não recusava, mas não bebia. Não era homem de comer muita carne, nem de beber muito”, completa.

Com dinheiro e simpatia sobrando, eram muitos os que queriam ser amigos do Rei do Baião, diz, mas poucos realmente tiveram essa sorte. Entre eles, o ex-presidente Eurico Gaspar Dutra, o ex-ministro da Justiça Armando Falcão e o médico Zé Dantas. Com este último, o sanfoneiro escreveu muitas canções, entre elas O xote das meninas, que nasceu diante dos olhos do ex-empresário. “Luiz Gonzaga quis ir à fazenda do Zé Dantas, em Pernambuco, para ouvir a conversa dele e entender por que as meninas novas já estavam querendo namorar. As músicas que Gonzaga fazia saíam sempre de improviso”, conta.

"Fui em cana porque toquei bem demais" 

Luiz Gonzaga era tão musical que conseguia fazer floreios num instrumento com apenas cinco notas, a corneta. Por ter feito isso durante o tempo em que serviu o Exército, contrariando a rigidez do ambiente militar, foi repreendido em Juiz de Fora. Detalhe: o corneteiro, desde aquela época, tem papel muito importante no batalhão, o de transmitir à tropa as ordens do comando, o que significa interpretar com fidelidade cerca de 400 toques, cada um com um significado diferente.

Ele foi preso, mas não sem certo orgulho, como lembra no depoimento dado à Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage, em Juiz de Fora, em 1980: “Eu estava fazendo da corneta pistom. Fui em cana porque toquei bem demais. A disciplina me apanhou e tive de executar o toque do silêncio certo, porque diziam que era tão bonito do jeito que eu tocava que os namorados ficavam lá por perto para ir para casa só depois de tocá-lo. Já sabiam até o dia em que eu estava de serviço para tocar. Eu recebia pedidos deles”.

Se o corneteiro erra o toque, o prejuízo para a tropa é grande e pode haver constrangimento. Quem explica é o subtenente Pasur Cavalcanti Tenório, do 10º Batalhão de Infantaria, em Juiz de Fora, onde serviu Luiz Gonzaga – coincidentemente ele também é pernambucano. “O corneteiro é a voz do comandante”, resume ele.
Atualmente, o batalhão tem cerca de 700 integrantes e três corneteiros: o que acompanha o comandante fica sempre atrás e à esquerda dele, traduzindo em notas suas ordens. “Todo dia tenho de ter um corneteiro. Hoje isso é mais simbólico, mas ainda tem viés prático, pois sem ele eu não conseguiria transmitir ordens à tropa”, justifica o tenente-coronel Daniel Pechin Tavares, do mesmo batalhão.

Embocadura 
Apesar de precisar memorizar muitos toques, nem sempre o corneteiro sabe ler partitura, o que não significa que o instrumento não tenha suas particularidades. “As notas variam de acordo com a pressão do sopro e a embocadura. Se você variar um pouquinho, não sai o mesmo som”, conta Wilson Eber dos Santos, de 21 anos, corneteiro do batalhão juiz-forano desde 2010.

Para manter a desenvoltura no instrumento, ele estuda cerca de três horas dia sim, dia não. Ele executa toques para a tropa 10 vezes por dia, sendo que, para soprar os toques de maneira perfeita, basta ensaiá-los de véspera. “O trompete é mais difícil de tocar, pois tem três oitavas e a corneta só cinco notas. Para quem nunca pegou num instrumento de sopro e não sabe música, é muito difícil”, diz. Ser bom de ouvido é obrigatório.

Pulmão Marcos Antônio da Silva, 53, é subtenente da reserva remunerada e chegou a tentar ser corneteiro no batalhão de Juiz de Fora. “Desisti. Comecei a ter dor de garganta e meus lábios rachavam constantemente. Ir para as armas foi mais fácil para mim. Muitos corneteiros terminam a vida com problemas pulmonares ou nas cordas vocais”, conta ele. Seu pai, Marcos Cardoso da Silva, de 103 anos, não chegou a se aventurar no instrumento, mas conviveu com Luiz Gonzaga nesse batalhão, onde serviu de 1934 a 1941. “Ele tocava muito bem, era um artista. Uma pessoa boa”, lembra o veterano, com um sorriso largo no rosto.

Ao sabor das lembranças 

NA VARANDA

Entre os amigos que Luiz Gonzaga fez na capital mineira está Lourival Passos, pai do instrumentista Célio Balona, de 73 anos. “Ele foi apresentado a Gonzagão por Jair Silva. Na noite em que se conheceram, papai passou-lhe algumas músicas que escreveu. Luiz Gonzaga gravou todas entre 1957 e 1961. Foi o caso de Tacacá, Maceió, Creuza morena, Alvorada da paz, Chorão e Corridinho Canindé”, conta Célio. A amizade se estreitou e o Rei do Baião sempre visitava o amigo em BH, aproveitando para se deliciar com a comida mineira. Certa vez, os vizinhos perceberam quem era o visitante daquela casa da Rua Tenente Garro, no Bairro Santa Efigênia, e o chamaram. “Gonzagão cantou por quase duas horas na varanda. A rua ficou fechada, de tanta gente. Ele mandou ver, sem microfone, sem nada”, lembra Balona.


NA OFICINA

Quando passava por BH, o Rei do Baião sempre visitava o Bairro Bonfim. Motivo: lá funcionava a oficina dos irmãos Geraldo e Antonio Scarpelli, que reformavam acordeons, concertinas e sanfonas enviadas por fregueses de várias partes do país. “Quando ia lá, Luiz Gonzaga ficava peruando. Tocava um instrumento, testava outro. Chegava de manhã e, às vezes, saía à tarde. Era amigo da casa”, relembra José Geraldo Scarpelli, de 68 anos, filho de Geraldo. Apesar de ter se tornado executivo, ele faz questão de praticar acordeom. Toca às quintas-feiras no Marilton’s Bar, que fica no Bairro Santa Tereza.


NO HOTEL

“Quando vinha artista do Rio de Janeiro e de São Paulo para BH, a gente corria atrás”, lembra o sambista mineiro Jadir Ambrósio, de 90 anos. Numa dessas ocasiões, ele foi para o hotel onde se hospedara Luiz Gonzaga. “Cantei tudo quanto é música, mas nada serviu. Quando ele estava indo embora, eu disse: ‘Seu Luiz, tenho outra, mas não sei se o senhor vai gostar, pois é muito chata. Vou te mostrar’. Que ironia. Comecei a cantar os versos de Buraco de tatu. E ele falou: ‘É isso que eu quero. Cante o resto’. E foi logo colocando a sanfona”, conta o sambista. Não deu outra: Gonzagão gravou a parceria de Ambrósio com Jair Silva.


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