quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Clovis Rossi

FOLHA DE SÃO PAULO

Davos procura turma alternativa
Cansado com a falta de respostas para a crise, o Fórum volta-se para o 'Novo Pensamento Econômico'
DAVOS - O Fórum Econômico Mundial, uma instituição financiada por um punhado das mais portentosas corporações globais, parece ter se cansado de ficar ouvindo os de sempre, sem que surjam desses debates soluções para a crise em que se debate o mundo há cinco anos.
Acaba de anunciar que vai procurar novas ideias, com um novo parceiro, chamado exatamente Inet (sigla em inglês para Instituto para um Novo Pensamento Econômico).
A necessidade de sair do quadradinho ortodoxo em que estão encapsuladas as lideranças globais aparece na página on-line do Inet: "O estrago provocado pela recente crise financeira global tem demonstrado vivamente as deficiências das teorias econômicas atuais, e mostrado a necessidade de um novo pensamento econômico - agora".
Por que procurar uma instituição até agora fora do radar da ortodoxia, da grande mídia e dos governos? Simples: "O nível de confiança nas instituições [existentes] está no seu nível mais baixo historicamente", como disse Muhtar Kent, presidente da Coca-Cola, na entrevista coletiva em que os copresidentes do encontro anual 2013 do Fórum apresentaram suas expectativas.
Por isso, o Fórum e o Inet vão colaborar para "encontrar soluções inovadoras e duráveis para os problemas econômicos, sociais e políticos que persistem. Para fazê-lo, unirão esforços para mobilizar não somente uma nova geração de pensadores econômicos, mas também os eruditos mais influentes de um grande número de disciplinas".
Essa é a grande qualidade do Inet: busca um enfoque multidisciplinar, além de oferecer nomes de economistas que escapam da lista dos suspeitos de sempre, eternamente ouvidos pela mídia e pelo empresariado, apesar de errarem 11 de cada 10 previsões
Exemplo: há um curso do Inet que junta economia e teologia.
Por mera coincidência, dois dos principais jornais do planeta, os britânicos "Guardian" e "Financial Times" trataram ontem do estado de espírito de Davos.
O "Guardian", depois de lembrar o tom triunfalista que prevalecia nos encontros até a crise de 2008, diz que esse ânimo desapareceu, e decreta: "O modelo econômico estimulado pelo povo de Davos explodiu; qualquer conserto ou reformas duradouras terá que vir de lugares e perspectivas muito diferentes".
Já Gideon Rachman, no "Financial Times", escreve: "O Fórum Econômico Mundial era uma celebração da globalização e de suas possibilidades. Mas a crise financeira pôs um freio em tudo isso. Os quatro últimos fóruns de Davos têm sido sombrios, dominados por um sentimento de que o capitalismo global está em crise".
Concorda com eles Lee Howell, diretor-geral do Fórum: "A situação mundial indica que devemos questionar as hipóteses econômicas fundamentais e adotar uma nova maneira de pensar globalmente".
As primeiras "novas maneiras de pensar globalmente" serão apresentadas já no "Davos de verão", o encontro de todo setembro, na China. Saber-se-á, então, se o novo de fato é capaz de enfrentar as crises de uma maneira integrada.

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